Com linhas editoriais diametralmente opostas, as revistas Veja e CartaCapital estampam em suas capas deste fim de semana escândalos políticos que, em que pesem seus respectivos contextos históricos, envolvem os dois partidos que se revezam no poder há quase duas décadas. Enquanto Veja destaca um caso de fraude na CPI dos Correios, que abalou a República em 2005 com o episódio do mensalão, CartaCapital centra fogo em livro recém-lançado pelo jornalista Amury Ribeiro Júnior, que expõe as vísceras do ninho tucano à época do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003).
Sob o título de capa “A trama dos falsários”, o material publicado por Veja traz o flagra feito pela Polícia Federal, em escuta telefônica autorizada pela Justiça, de uma fraude que teria como objetivo atribuir a culpa do mensalão aos adversários do PT. No grampo, o estelionatário Nilton Monteiro, preso por falsificação de notas promissórias, é flagrado “cobrando pagamento e proteção dos deputados petistas que o contrataram para forjar provas contra adversários tucanos”, como registra frase de capa destacada abaixo de trecho de um diálogo entre o contraventor e um assessor do deputado petista Rogério Correia.
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“No começo de 2006, a chamada Lista de Furnas quase enterrou a CPI dos Correios, que investigava o mensalão, maior escândalo do petismo. O documento elencava doações irregulares de campanha, no valor de 40 milhões de reais, a adversários do governo Lula, e serviria para mostrar que práticas escusas de financiamento não eram adotadas apenas pelo partido do presidente, mas seriam comuns a todas a legendas. Poucas semanas depois, porém, descobriu-se que a tal lista não passava de grosseira falsificação. (…) VEJA teve acesso a conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial, no primeiro semestre de 2006. Elas evidenciam que o estelionatário Nilton Monteiro – preso em outubro deste ano por forjar notas promissórias – agiu sob os auspícios dos deputados Rogério Correia e Agostinho Valente (hoje no PDT) com o objetivo de fabricar a lista. Há diálogos seguidos entre Monteiro e Simeão de Oliveira, braço direito de Rogério Correia”, registra a reportagem intitulada “PT usou estelionatário para desencaminhar CPI dos Correios”, matéria cuja arte de capa mostra um homem ao telefone, com broche do PT na lapela do terno e rosto escondido por um sombreado que sugere a obscuridade da ligação.
Já CartaCapital escancara em sua capa a manchete “O escândalo Serra”, com foto de um meditabundo presidenciável tucano, mãos entrelaçadas sob o queixo e olhos fechados. A revista relata episódios registrados no livro A privataria tucana, “resultado de 12 de trabalho do premiado repórter” Amaury Ribeiro Júnior em que, segundo a revista, lançam-se luzes “sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso”.
Lembrando que Amaury foi indiciado pela PF, durante a corrida presidencial do ano passado, por integrar grupo disposto a quebrar sigilos fiscal e bancário de tucanos, CartaCapital em seguida destaca que o livro de 343 páginas registra “documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado”.
“José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização”, diz a publicação semanal, que elenca casos diversos da “privataria tucana” e menciona personagens como Verônica Serra, filha do ex-governador de São Paulo; Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor da área internacional do Banco do Brasil; e Verônica Dantas, irmão do banqueiro Daniel Dantas, preso e processado em 2008 por diversos crimes no âmbito da Operação Satiagraha, da PF.
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