Edson Sardinha |
Nos últimos 12 meses, a deputada Maninha (PT-DF) foi punida três vezes pelo partido ao qual se filiou há 24 anos. Em seu primeiro mandato federal, ela saltou da condição de militante-modelo para a de uma parlamentar estranha no ninho. Desde 29 de junho, ela está proibida, assim como outros oito deputados e três senadores, de falar em nome do partido por ter votado contra a medida provisória do governo que elevou o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260. Por quanto tempo, nem os petistas, nem a Executiva do partido sabem. Assim como ela, foram punidos os senadores Paulo Paim (RS), Serys Slhessarenko (MT) e Flávio Arns (PR), além dos deputados Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Doutora Clair (PR), Walter Pinheiro (BA), João Alfredo (CE), Mauro Passos (SC), Orlando Fantazini (SP) e Luiz Alberto (BA). No ano passado, ao se abster de votar a reforma da Previdência, Maninha não só foi suspensa das atividades de bancada por 60 dias, como foi surpreendida com a demissão do marido, Antônio Carlos de Andrade, que ocupava a diretoria-executiva da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Leia também Apesar das retaliações internas, a deputada garante que o grupo dos petistas insatisfeitos continuará no partido até as próximas eleições gerais por uma razão simples. “É uma questão objetiva. Não há tempo para o recolhimento de assinaturas para se constituir um grupo organizado e viabilizá-lo do ponto de vista legal para 2006”, admite. PSDB na esquerda Mas as mudanças na composição dos partidos, segundo Maninha, já poderão ser sentidas a partir da proclamação do resultado das eleições de outubro. No cenário descrito pela deputada, o PT sairá como o grande vitorioso, enquanto os tucanos terão de vestir nova plumagem para conquistar o eleitorado. “A tendência do PSDB é radicalizar para a esquerda, como um partido social-democrata que ele diz que é, para fazer oposição ao PT”, avalia. Na avaliação da deputada, a reforma política que a Câmara deve votar no próximo ano fortalecerá os partidos políticos e imporá, pela primeira vez na história do país, um confronto explícito nas urnas entre a centro-esquerda, liderada pelo PT, e a direita, capitaneada pelo PFL. O fortalecimento das legendas, com a adoção do sistema de listas fechadas de candidatos escolhidos pelos partidos, também é visto com cautela por Maninha. “Temo que isso, no Brasil, reforce a burocracia partidária, o que está ocorrendo na Europa”. Pelo modelo de reforma política examinado pela Câmara, além do financiamento público de campanha, o país adotaria o sistema de listas pré-ordenadas, pelo qual o eleitor votaria na legenda, à qual caberá definir previamente a ordem de classificação dos candidatos. A mudança nas regras do jogo eleitoral, na avaliação de Maninha, irá se refletir na composição da base governista, com o desembarque para a oposição de partidos hoje aliados, como o PP, o PL e o PTB,. “O eleitor vai votar na legenda e, por isso, os partidos terão de mostrar a cara”, afirma.
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