Daniela Lima
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) tem a missão de relatar o processo contra Edmar Moreira (MG) na comissão de sindicância criada pela Corregedoria da Câmara em decorrência de denúncias sobre o uso irregular da verba indenizatória. Cauteloso, o petista evita opinar sobre o caso. Antecipa, porém, que pretende propor mudanças no sistema atual de ressarcimento de despesas dos deputados. “Esse fato vai nos levar a refletir sobre uma nova regulamentação sobre o uso da verba indenizatória”, afirmou o parlamentar paulista em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
Secretário-geral do PT, Cardoso falou sobre o enfraquecimento do partido no Congresso e defendeu a aliança com o PMDB nas eleições de 2010. Sem ressalvas, apoiou a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. “Não há outro nome”, disse o dirigente petista.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Congresso em Foco – O senhor é o relator do processo contra o deputado Edmar Moreira na comissão de sindicância criada pela Corregedoria da Câmara. Como estão as apurações?
José Eduardo Cardozo – Nós marcamos o depoimento do deputado Edmar Moreira para a próxima quarta-feira (18), às 16h. A comissão vai, antes do depoimento, estudar a documentação, a defesa que ele apresentou por escrito, para fazer a argüição. Depois disso, nós vamos nos reunir para traçar o plano de investigação do caso.
O senhor tem conhecimento de que Edmar Moreira destinou para empresas dele dinheiro da verba indenizatória?
Soube disso pelos jornais, mas não posso em momento algum tecer comentários. Nós da comissão temos que respeitar o sigilo. As regras que disciplinam as sindicâncias na Câmara dos Deputados são muito claras, então não vou dizer nada nem quanto à veracidade ou à não veracidade dessa afirmação.
Mas como o senhor avalia o impacto das denúncias de mau uso da verba indenizatória no Congresso? Essa investigação abre um precedente importante para os parlamentares, já que Moreira é o primeiro a ser investigado sob esse tipo de suspeita?
Esse fato vai nos levar a refletir sobre uma nova regulamentação para o uso da verba indenizatória. A disciplina dessa matéria é feita por uma resolução muito singela, que deixa muitos espaços vazios. Acho que, ao final, a sindicância poderia propor as mudanças que considera necessárias. Esse é um aspecto que a comissão de sindicância deve debater.
Tanto na Câmara quanto no Senado há parlamentares que defendem a incorporação da verba (no valor de R$ 15 mil mensais) aos salários. Como o senhor avalia essa alternativa?
Nesse momento vou me abster de opinar, embora tenha uma posição a respeito, justamente por causa da comissão de sindicância. Se eu me posicionasse agora estaria antecipando aquilo que pode ser ou não uma conclusão da sindicância. Decidimos por não tomar partido sobre essa matéria até que os trabalhos sejam encerrados.
Ainda falando sobre o Congresso Nacional, como o senhor avalia a força conquistada pelo PMDB na política nacional?
O PMDB é um partido aliado que desenvolve uma ação de apoio ao governo, como o PT também é. E, claro, todo partido briga por seus espaços políticos. Cabe a nós do PT dialogar com o PMDB para que possamos dar sustentação ao governo Lula. Agora, também nos cabe, em certos momentos, disputar os espaços que entendemos necessários como o PMDB também faz. Isso acontece na vida política.
Por que o PT saiu tão enfraquecido das eleições das mesas diretoras do Congresso Nacional?
O PMDB é hoje o maior partido e naturalmente tem direito a ocupar certo espaços. Nós avaliávamos que o melhor seria que o PMDB ficasse com a presidência da Câmara e o PT com a do Senado, justamente para ter uma situação de maior equilíbrio. Mas o plenário do Senado é soberano e elegeu o candidato do PMDB, o ex-presidente José Sarney, o que é legítimo. É óbvio que nós gostaríamos de uma outra solução, mas também não há motivo para termos qualquer rompimento com o PMDB, que é uma força aliada e que nós temos como indispensável , como o PT e outros partidos da base, para dar sustentação ao governo Lula. O PMDB tem se mostrado um partido que dá sustentação ao governo Lula, e isso é o que nos importa. Estamos juntos na defesa do mesmo projeto. E esperamos que estejamos juntos também dentro do projeto que vai alicerça a candidatura que vai dar continuidade ao governo no presidente Lula em 2010.
O que o senhor acha da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff?
Vemos à candidatura da ministra Dilma com muito otimismo dentro do PT. Não há nenhum outro nome. Nem nenhuma corrente, que eu saiba, que não a defenda. Isso mostra uma grande coesão partidária em torno da candidatura dela. E temos visto também boa aceitação das forças que serão indiscutivelmente nossas aliadas em 2010. Acho que o presidente Lula fez uma escolha acertada. É evidente que vamos ter ainda um processo discussão dentro do partido, mas tudo leva a crer que haverá uma grande coesão em torno da ministra Dilma e de sua candidatura.
Há quem cogite uma chapa composta por Dilma Rousseff e Michel Temer para a corrida presidencial em 2010. Como o senhor vê isso?
Eu não posso antecipar nomes. Mas acho que o PMDB tem grandes nomes para uma eventual indicação de composição de chapa com a ministra Dilma. Seria até deselegante de minha parte aplaudir o nome de A, B, C ou D. O que posso dizer é que o nome de Michel Temer, e outros que têm sido colocados no PMDB e em outros partidos, são nomes que evidentemente tem envergadura para compor a chapa com a ministra Dilma Rousseff.
Como está a correlação de forças dentro do PT? O senhor e o presidente do partido, Ricardo Berzoini, foram adversários nas eleições da Direção Nacional. Como está essa relação hoje?
A direção nacional do PT atual tem um posicionamento muito saudável no que trata da relação formada por diferentes correntes. Nós temos uma relação excelente com o presidente Berzoini, uma relação excelente com todas as executivas e essas também se relacionam muito bem entre si. É claro que há, muitas vezes, disputas políticas, divergências, o que é natural. Mas há uma coesão muito importante, de toda a direção partidária, em torno dos nossos objetivos comuns. Temos clareza que temos hoje um momento muito especial no Partido dos Trabalhadores: a decisão de construirmos uma candidatura forte para dar continuidade ao governo Lula. E acho que todos os dirigentes têm clareza que, embora existam divergências, nesse momento é fundamental buscarmos a nossa união. Isso tem dado muito resultado e o PT hoje tem uma Direção Nacional que constrói aquele que é o nosso projeto para depois de 2010.
O senhor assumiu a secretaria-geral do PT com a proposta de refazer a imagem do partido em um momento complicado, após o escândalo do mensalão em 2005. Esse propósito foi cumprido?
Tivemos um momento de muita turbulência em 2005, que colocou uma série de questões para serem objeto de reflexão, e acho que essa reflexão vem se colocando. O PT superou aquele processo. Estamos hoje em fase de elaboração do nosso código de ética. Temos uma postura que mostra claramente a tranqüilidade do PT em relação à superação da crise.
O senhor acompanha os processos dos integrantes do PT acusados de envolvimento com o mensalão?
Essa questão está nas mãos da Justiça hoje. É só o que nos cabe fazer: acompanhar.
O senhor se sente seguro para dizer que hoje as contas do partido são bem fiscalizadas?
Eu acredito que a experiência de 2005 foi muito pesada para todos nós. E todos na direção nacional têm consciência do papel que o PT tem na conjuntura política nacional, na construção da esquerda latino-americana e mundial. Portanto, esse senso de responsabilidade tem colocado para a direção partidária, cada um no seu papel, os seus limites. A percepção daquilo que foi errado no passado e que não deve ser repetido.
E o namoro, deputado, como é que vai? (José Eduardo Cardozo namora desde fevereiro de 2008 a deputada Manuela D’Ávila – do PCdoB gaúcho –, que detém o título de musa do Congresso Nacional)
Vai bem… (risos) Continua bem. Respeitadas as vidas políticas minha e da Manuela, a relação vai bem.