A fama de um partido “em cima do muro” nunca foi tão forte no PSDB como nas últimas semanas. O partido ainda não sabe para que lado vai: se deixa os ministérios que comanda e a base aliada de Michel Temer no Congresso, ou se enfrenta o desgaste político e eleitoral de seguir apoiando um governo em frangalhos e um presidente acuado por várias denúncias. Fora isso, vive a delicada situação de ter o seu presidente afastado, Aécio Neves (PSDB), cassado e preso. Se o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar o pedido da Procuradoria-Geral da República para prendê-lo, os tucanos precisarão dos votos do PMDB no Senado para livrar o seu comandante da cadeia.
Leia também
A eventual prisão de Aécio é um cenário catastrófico para a legenda, que utilizou o discurso da ética e da moralidade pública para atacar o PT nos últimos anos. Para complicar, o delator que afundou Temer no centro da crise é o mesmo que entregou Aécio, o empresário Joesley Batista. Mesmo que o pedido de prisão seja negado, ele corre o risco de ter o mandato cassado. Nesse caso, o PMDB, que comanda o Conselho de Ética, também será decisivo para as pretensões tucanas.
A pauta real da reunião da comissão executiva da legenda marcada para esta segunda-feira (12) e ampliada com a participação de governadores, prefeitos de capitais e parlamentares, é decidir se deputados e senadores continuarão na base de apoio de Temer no Congresso ou se os tucanos se declaram independentes e deixam os quatro ministérios que ocupam. A ala da sigla composta pelos parlamentares mais antigos quer evitar qualquer decisão nesta semana para não revelar a divisão e inviabilizar as campanhas da legenda no próximo ano.
A vontade pessoal do senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do partido, é deixar o governo Temer, entregar os ministérios e outros postos de segundo escalão, e se concentrar na aprovação das reformas da Previdência e trabalhista em votação no Congresso. Mas o senador foi aconselhado a não fazer campanha interna pelo desembarque para não constranger quem defende a continuidade do apoio a Temer, como os ministros Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades), Antônio Imbassahy (Relações Institucionais) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).
“O PSDB precisa sair unido dessa crise, seja qual for a decisão, mas não derrotado”, comentou um dirigente da legenda que prefere o anonimato. A absolvição do presidente Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não arrefeceu os ânimos entre os tucanos. O clima ainda é de divisão, e a tendência é que o partido continue em cima do muro, pecha histórica que o acompanha devido à dificuldade da legenda em se posicionar de maneira contundente diante de questões controversas.
Aliados irritam PSDB
A direção do PSDB ficou irritada na última sexta-feira (9) com o ministro da Defesa, Raul Jungmann, último representante do PPS no ministério, que revelou publicamente a vontade do colega Antônio Imbassahy de continuar na base de Temer. “Vou cometer pela primeira e única vez uma inconfidência. Conversava com o ministro Imbassahy e ele me disse que ontem (quinta-feira, 8), através de numerosas conversas que eles (tucanos) tiveram, de que a tendência efetivamente do partido é a continuidade na base do governo”, disse o ministro, que é próximo dos tucanos desde que chefiou a pasta do Desenvolvimento Agrário na gestão de Fernando Henrique Cardoso.
As declarações de Jungmann foram feitas logo após as comemorações dos 152 anos da Batalha do Riachuelo no quartel dos Fuzileiros Navais, em Brasília. Temer participou do evento enquanto seu destino era julgado no TSE. O ministro da Defesa não esclareceu se o PSDB continuará ocupando ministérios ou se apenas apoiará o governo no Congresso. Na última quinta-feira o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), relator da reforma trabalhista, defendeu o desembarque dos tucanos da gestão Temer e sinalizou que a decisão será tomada nesta segunda-feira.
As declarações do líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), de que se os tucanos deixarem o governo Temer não terão o apoio do PMDB nas eleições gerais do próximo ano, também irritaram a direção do PSDB e reforçaram a tese de afastamento do Palácio do Planalto defendida pela ala jovem dos tucanos – os chamados “cabeças pretas”.
Além de decidir se fica ou não no governo, o PSDB tem outro dilema: o que fazer para superar a crise interna gerada com as acusações contra o presidente afastado do partido. Aécio está afastado das funções de senador (não pode votar, nem discursar) e responde a inquérito por corrupção e obstrução da Justiça. Sua irmã, Andrea Neves, e seu primo Frederico Pacheco estão presos, acusados de pedir e receber propina do empresário Joesley Batista, do grupo JBS.
Um dos principais alvos da Lava Jato, com vários inquéritos em andamento, Aécio também vive outra dura ameaça da qual o PMDB poderá salvá-lo. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reforçou o pedido de prisão contra ele, que precisa ser analisado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Caso os ministros determinem a prisão do ex-candidato à Presidência, caberá ao plenário do Senado decidir se revoga ou não a decisão. Nesse caso, o presidente do partido precisará, como nunca, do apoio dos 22 senadores do PMDB para se livrar da cadeia.
Maioria dos deputados do PSDB quer saída imediata do governo
Em grampo da PF, Aécio conversa com Jucá sobre Lava Jato: “Acho que é agora ou nunca, né?”