A cúpula partidária alega que Cherini foi expulso por ter feito campanha a favor do afastamento da presidente e ter atuado nos bastidores para convencer colegas a descumprirem a determinação partidária. Em nota, o deputado gaúcho, que está em seu segundo mandato, acusou o presidente do PDT, Carlos Lupi, de covardia e agir por “interesses inconfessáveis”.
Leia também
“Fui, enfim, vítima de um covarde, que com interesses inconfessáveis comanda o PDT com mão de ferro sem jamais se colocar sob o crivo do voto popular, inarredavelmente divorciado da vontade das bases populares que diz representar”, protestou.
Com uma bancada de 19 deputados, o PDT deu 12 votos contrários ao impeachment na Câmara. Além dos seis deputados punidos por terem votado a favor do processo, houve uma abstenção, com Pompeu de Matos (RS). A presidente afastada Dilma Rousseff foi assessora de Pompeu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O PDT ainda deve examinar processos contra os senadores pedetistas Lasier Martins (RS) e Acir Gurgacz (RO), que também votaram a favor do impeachment.
Com participação no governo Dilma, o partido fechou questão antes da votação na Câmara. “Os parlamentares que votarem a favor do impedimento da presidenta Dilma Rousseff sofrerão as sanções previstas no estatuto que prevê a expulsão e a consequente perda do mandato parlamenta, além da imediata intervenção nas direções estaduais e municipais nos casos pertinentes”, escreveu Lupi em comunicado divulgado dias antes da decisão dos deputados.
Abaixo, o momento em que Cherini declara voto a favor do impeachment:
PublicidadeVeja a íntegra da nota de Cherini contestando sua expulsão:
‘‘ Devo-lhes dizer, pois, neste momento, que me sinto podado nos meus ideais, limitado nas minhas funções, obrigado a distanciar-me dos meus companheiros de partido. Tenho a terra, e me falta o arado; tenho a pauta musical, e me falta o violino;possuo excelentes asas para voar, mas tiraram-me o céu azul!’ ’
Contraditoriamente, vivo hoje o dia mais triste e o dia mais feliz da minha vida política. Triste por me expulsarem da única agremiação política a qual fui filiado e que ajudei a construir nos últimos 28 anos, e feliz pelo sentimento do dever cumprido para com os meus 115.294 eleitores, mesmo nos momentos mais difíceis.
Fui “julgado” em um processo de cartas marcadas. Antes mesmo da votação do impeachment, o Sr. Carlos Lupi já havia decretado minha expulsão pela mera intenção de eu votar favoravelmente ao impedimento da Sra. Dilma Rousseff, tal qual se noticiou amplamente na imprensa. A decisão do Diretório foi apenas homologatória, própria de um partido que tem dono.
Se fizeram isso com um deputado federal, que foi chefe de Poder, com seis mandatos consecutivos, o que farão com os demais deputados, prefeitos e vereadores pedetistas Brasil afora? Qual a segurança jurídica que eles têm?
Meu “crime” foi o de insistir em representar meus eleitores, que ante o mar de lama que se instaurou no país ansiavam por mudança e pela responsabilização daquela que fora eleita para defender a população, mas que acabou por perpetrar inúmeros crimes de lesa-pátria. Como compactuar com o descontrole das finanças públicas e com o surto inflacionário, e com a carestia e o desemprego por eles provocados? Como avalizar o estelionato eleitoral, a obstrução à Justiça e a institucionalização da corrupção como uma forma de governo e como um meio de perpetuação no poder?
Enfim, de acordo com os fatos e segundo minha consciência votei pelo impedimento da presidente da República, com o forte sentido de estar cumprindo o estatuto partidário, que em seu primeiro artigo estabelece como compromissos básicos do PDT a defesa da integridade e do interesse nacional, e a dignificação da função pública, sob a inspiração da moral e da ética, com o objetivo de servir ao cidadão. Ademais, desafio quem quer que seja a indicar uma só vez que eu tenha me manifestado ou votado em desacordo com as diretrizes do programa partidário.
Fui, enfim, vítima de um covarde, que com interesses inconfessáveis comanda o PDT com mão de ferro sem jamais se colocar sob o crivo do voto popular, inarredavelmente divorciado da vontade das bases populares que diz representar.
Para onde quer que eu vá fazer política, continuarei trabalhista, pois tenho o exemplo do meu sempre líder Leonel Brizola a seguir. Quando a ditadura lhe arrancou das mãos a sigla PTB, ele não se acovardou e seguiu adiante, pois o trabalhismo é bem maior do que um partido: é um patrimônio do trabalhador brasileiro.
Não há arrependimentos e nem rancores. Só a alegria de um maravilhoso porvir. O vento tudo leva, e o tempo tudo apaga. Fica somente a História, que certamente julgará aqueles que não ouviram as vozes das ruas.
Com a força da gente de bom coração e com a fé inabalável em Deus continuaremos trabalhando pelo povo gaúcho e brasileiro.
Um enorme abraço a todos!
Deputado Federal GIOVANI CHERINI,
Coordenador da Bancada Gaúcha no Congresso”