Roseann Kennedy*
A viagem de Lula e da presidente eleita Dilma Rousseff para a reunião do G-20 caiu como uma luva. Foi mera coincidência, claro, mas convenhamos que ocorre num momento crucial para ambos se livrarem de algumas pressões.
Lula, porque precisa resolver pendengas de seu Governo antes da transmissão do cargo. Dilma, porque consegue conversar com seu mentor mais reservadamente, ao mesmo tempo em que escapa dos lobbies por cargos nesse período de transição.
Vamos primeiro às questões que o presidente Lula precisa resolver e disse que o fará após a viagem. Há a polêmica sobre a compra de caças pelo país e a nomeação de um novo ministro para o Supremo Tribunal Federal. Nos dois casos, o presidente já tem suas escolhas, mas quer conversar com Dilma e também com o presidente da França, Nicolas Sarkosy, nesse período da reunião do G-20. A história dos caças se arrasta há mais de um ano. Já rendeu alguns micos ao governo, como no 7 de Setembro do ano passado: o presidente Lula anunciou a opção pelo modelo francês Rafale, mas no dia seguinte o ministro da Defesa, Nelson Jobim, informou que a compra ainda não estava decidida. Os caças Gripen NG, fabricado pela sueca Saab, e F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, também estão na disputa.
No caso do Supremo, a indecisão gerou o problema do empate na votação da lei da Ficha Limpa e pode provocar outras situações embaraçosas como essa. Só que a decisão passa por uma acomodação de um nome com aval de Lula, aprovado por Dilma e até que sirva de consolo e acomodação partidária, por que não? Nomes como o ex-ministro Patrus Ananias, derrotado na disputa ao Senado em Minas, o advogado geral da União, Luiz Inácio Adams, e o ministro do STJ Cesar Asfor Rocha estão na lista.
Já da parte da pressão sobre Dilma, a primeira situação a resolver na volta é acabar com as especulações em torno de sua equipe econômica. Há muita pressão para identificar o perfil dos integrantes. A tendência é de que o anúncio seja feito em bloco. Internamente, Dilma tem feito uma consideração coerente em relação a não revelar os nomes a conta gotas. Críticas e chiadeiras também serão em bloco. Já o elogio, se for feita uma boa escolha, poderá ser mais perene.
* Roseann Kennedy é comentarista política da CBN, e escreve esta coluna exclusiva para o Congresso em Foco
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