Mário Coelho
Pela segunda vez no dia, Paulo Octávio recuou e desistir de renunciar ao governo do Distrito Federal. Pressionado pelas investigações da Polícia Federal e pela falta de apoio no Distrito Federal, Paulo Octávio chegou a escrever a sua carta de renúncia. O secretário de Transportes do DF, Alberto Fraga (DEM), chegou a adiantar, momentos antes do pronunciamento, que o governador em exercício renunciaria, o que anunciaria em pronunciamento oficial. Ao final, no entanto, o vice-governador, segundo ele motivado por vários apelos, desistiu da renúncia.
“Ouvi apelos de muitos partidos polítcos, de secretários do Governo e de uma imensa maioria da população de Brasília”, afirmou Paulo Octávio em pronunciamento oficial. O que o governador em exercício diria era mistério até para assessores mais próximos. Ele apenas pediu que convocassem a imprensa para comparecer ao Palácio do Buriti às 16h30, sem dar detalhes sobre o assunto de seu discurso. Enquanto isso, avisou secretários do governo do DF, deputados e membros do seu partido que renunciaria. Também conversou com jornalistas confirmando sua saída. O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), e o secretário de Transportes do DF confirmam as ligações.
Ambos dizem que Paulo Octávio tinha decidido renunciar por conta de suas empresas – ele é dono de empresas de comunicação e de construção civil – e por conta da falta de apoio dentro da cidade. Após pedir os cargos dos secretários, o governador em exercício tinha tentando formar um governo de notáveis. Porém, ninguém aceitou o convite de trabalhar no Executivo por conta do desgaste causado pelas investigações que revelaram o mensalão do governador José Roberto Arruda (sem partido) e geraram a Operação Caixa de Pandora.
“Isso prejudica não só os negócios como a própria família. Renúncia é questão de foro íntimo, ele que sabe o que está incomodando”, disse Fraga, ao anunciar a renúncia que não ocorreu. “Ele é um empresário bem sucedido e, na avaliação pessoal dele, acha que não vale a pena sofrer esse desgaste, essa pressão toda”, continuou Fraga. “Hoje, meio dia, depois da reunião que tivemos com ele, saí convencido que ele não ia renunciar. Mas, depois, me comunicaram que ele ia. Vai fazer isso na coletiva daqui a pouco”, adiantou o secretário.
Para surpresa de todos, no entanto, Octávio, no pronunciamento oficial, anunciou que permaneceria. Segundo ele, para ser “um facilitador” na busca de uma solução para a crise do Distrito Federal. Ele primeiro leu a carta que entregou a Lula na manhã desta quinta-feira, onde falou da sua disposição de renunciar ao presidente. O governador saiu do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) determinado a renunciar. A carta de renúncia, inclusive, já estava pronta.
Porém, ao chegar ao Palácio do Buriti, Octávio participou de uma série de reuniões. Recebeu Alberto Fraga, o secretário-geral do DEM-DF, Flávio Couri, e a deputada distrital Eliana Pedrosa (DEM). A alguns, disse que ia renunciar. A outros, negou que existisse carta e garantiu sua permanência no cargo. Por conta da indefinição, desistiu de fazer um comunicado oficial no início da tarde. “Estou convicto da importância do momento. Sofro limitações pela falta de apoio da sociedade de Brasília. Precisamos de apoio para dar suporte político e administrativo à cidade que amamos”, afirmou Paulo Octávio.
Fraga, que desde a prisão de Arruda tornou-se o principal interlocutor do governo com os outros poderes, ao ser comunicado que Paulo Octávio renunciaria, desistiu de comparecer à leitura do comunicado. Ele mostrou-se irritado com a decisão inicial do governador em exercício. “Tentei de tudo, argumentei que ele não deveria renunciar. Mas essa foi a decisão que ele me comunicou”, afirmou.
Paulo Octávio afirmou que, desde que assumiu, vem sofrendo uma “exposição injusta e cruel”. Acompanhado de secretários de Estado, da deputada Eliana Pedrosa, do senador Adelmir Santana (DEM), assessores e até do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, fez um pronunciamento de aproximadamente dez minutos. Voltou a afirmar – sendo que também já tinha voltado atrás na declaração – que não é candidato ao GDF. Porém, mudou de ideia mais uma vez sobre seu destino político. “Não posso ainda renunciar, colocarei todos os meus esforços que permita Brasília voltar à tranquilidade”, disse.
As declarações de Paulo Octávio, no entanto, geraram um clima de intranquilidade na cidade. Ao confirmar que elaborou uma carta de renúncia, e que ela está nas mãos da líder do DEM na Câmara Legislativa, Eliana Pedrosa, o governador em exercício deixou servidores, empresas com contrato com o GDF e a sociedade apreensivos. “Aguardo mais uns dias para que possamos ter um quadro das decisões. Aí sim tomaremos uma nova decisão”, finalizou, referindo-se ao julgamento, pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), do habeas corpus do governador afastado Arruda e do pedido de intervenção federal feito pela Procuradoria Geral da República (PGR). após agradecer o apoio recebido por deputados, secretários e da “grande maioria da população de Brasília”.
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