A informação foi passada aos jornalistas pelo porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumman. De acordo com Traumann, Dilma e Patriota estiveram reunidos no Palácio do Planalto por aproximadamente uma hora. Oficialmente, o ministro pediu demissão. Segundo o jornalista Gerson Camarotti, porém, “a presidente Dilma Rousseff decidiu demitir o ministro Antonio Patriota do comando da pasta de Relações Exteriores ao perceber que ele não estava indignado o suficiente com a operação que trouxe o senador boliviano Roger Pinto para o Brasil”.
Leia também
Patriota, que é diplomata de carreira, substituirá Luiz Alberto Figueiredo, assumindo o posto de chefe da missão brasileira junto à ONU. Em nota, a Presidência da República manifestou o agradecimento de Dilma pela “dedicação e o empenho do ministro Patriota nos mais de dois anos em que permaneceu no cargo”. Antes de se tornar chanceler, sucedendo ao atual ministro da Defesa, Celso Amorim, Antonio Patriota foi secretário-geral do Itamaraty e embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
O episódio que motivou a sua saída do posto máximo do Ministério das Relações Exteriores começou no fim de semana, quando o senador boliviano deixou a embaixada brasileira acompanhado do encarregado de negócios Eduardo Sabóia e dois fuzileiros navais. Após 22 horas de viagem de carro entre a capital da Bolívia e Campo Grande (MS), Roger Pinto foi de avião até Brasília, onde está desde a madrugada de ontem. O caso gerou uma investigação no Ministério das Relações Exteriores.
Uma das principais figuras da oposição ao governo do presidente boliviano, Evo Morales, Roger Pinto Molina vivia na condição de asilado na embaixada brasileira na Bolívia desde 8 de junho de 2012, alegando perseguição política. O governo boliviano sempre contestou o argumento, atribuindo o ato à tentativa do senador de deixar de responder na Justiça a crimes de danos econômicos causados ao Estado, estimados em US$ 1,7 milhão.
Para deixar a Bolívia, era necessário que Evo Morales concedesse um salvo-conduto, isto é, a garantia do direito de ir e vir com a segurança de que a pessoa não será presa. O Itamaraty estava convencido, no entanto, de que isso jamais aconteceria. Em favor da operação que trouxe Roger Molina ao país, há pelo menos dois aspectos: a força do instituto do asilo político, reconhecido pelo Brasil e por todas as nações democráticas do mundo; e a situação em que se encontrava Molina. Confinado há mais de um ano na embaixada brasileira, há relatos de que ele nas últimas semanas já falava em suicídio, tornando possível invocar “razões humanitárias” para a fuga patrocinada pelo encarregado de negócios Eduardo Sabóia (que a Comissão de Relações Exteriores do Senado já anunciou que pretende ouvir).
De qualquer maneira, há bastante tempo a imprensa publicava críticas de Dilma ao desempenho de Patriota – ora por tomar decisões de grande importância sem consultá-la (e há suspeita de que exatamente isso tenha ocorrido na fuga de Molina), ora por divergências em relação a decisões específicas (saiba mais aqui).
Alberto Figueiredo, 57 anos, assumiu a chefia da missão brasileira na ONU em junho deste ano. Até então, ocupava o cargo de subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia no governo federal. Já trabalhou em países como Chile, Estados Unidos, Canadá e França. No ano passado, foi o negociador-chefe para Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20).
O presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Nelson Pellegrino (PT-BA), informou que vai cobrar do Itamaraty esclarecimentos sobre o assunto. “É preciso preservar as relações com a Bolívia, um parceiro estratégico tanto política como comercialmente. No entanto, precisamos saber em que circunstâncias o senador Roger Pinto deixou a nossa embaixada em La Paz”, afirmou. O deputado lamentou a saída dde Patriota, mas elogiou a indicação de Figueiredo.
Na opinião dele, “o ministro Patriota realizou um grande trabalho à frente do Itamaraty” e novo chanceler “é um diplomata hábil e talentoso que saberá conduzir o Itamaraty de acordo com os interesses do Brasil no mundo, foi uma escolha à altura dos desafios que temos pela frente”.