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Em 2014, Samuel e seu pai, o ex-deputado federal Manoel Ferreira, fundador da Assembleia de Deus, apoiaram a reeleição de Dilma Rousseff e Michel Temer. Ao lado de Eduardo Cunha, o peemedebista voou até São Paulo para agradecer pelo apoio. Na ocasião, prestou uma homenagem a Manoel Ferreira e a Cunha, apontados por ele como “generais eleitorais” de sua terceira eleição à presidência da Câmara, em 2008. O trecho em que o então vice dizia ter recebido “um auxílio extraordinário” de Cunha, a quem entregava “as tarefas mais difíceis”, viralizou na internet no mês passado. Ainda no vídeo, Temer diz conviver com Manoel há mais de 35 anos.
Ação de graça
Nos últimos anos, o presidente interino compareceu a pelo menos dois cultos de ação de graça pelo aniversário de Samuel Ferreira, em 2013 e 2014. Naquele ano, Temer estampou foto da cerimônia em que discursou para mais de 4 mil pessoas presentes no templo do Brás, em São Paulo, em sua página no Facebook.
Na comemoração de 2013, Samuel também recebeu José Serra, o novo ministro das Relações Exteriores que autorizou ontem, em um de seus primeiros atos à frente do Itamaraty, a liberação do passaporte diplomático por três anos ao líder religioso e à sua esposa, Keila Campos Costa Ferreira. A decisão foi publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União. Os cultos em homenagem ao pastor, que tem 48 anos, reuniram políticos de vários partidos, inclusive do PT.
Na eleição de 2012, Serra teve apoio declarado de Samuel e Manoel Ferreira na disputa, em segundo turno, com o petista Fernando Haddad pela prefeitura de São Paulo. O tucano acabou derrotado pelo ex-ministro da Educação, que concorria pela primeira vez a um mandato político.
Bastante cobiçado pelas portas que abre, o passaporte diplomático é concedido a autoridades como parlamentares, ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal (STF), presidente da República, entre outros. O portador do documento tem facilidades para embarcar em aeroportos, como prioridade em filas e no despacho de bagagens, e, em alguns casos, até a dispensa de visto para entrar em vários países.
Veja o vídeo em que Temer agradece à Assembleia e a Cunha pelo apoio:
Do STF para Moro
Na quarta-feira passada, um dia antes de Temer tomar posse no Planalto com o afastamento de Dilma, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter decisão de março do relator da Lava Jato, ministro Teori Zavascki, de enviar ao juiz Sérgio Moro a investigação sobre Samuel Ferreira. O caso é derivado de denúncia criminal contra Eduardo Cunha por corrupção e lavagem de dinheiro, aceita ano passado pelo Supremo.
A defesa de Samuel e da igreja queriam que o inquérito contra ele corresse na Justiça Federal em São Paulo onde fica a sede da Assembleia de Deus Ministério Madureira. Mas o STF negou o pedido. O procurador-geral da República acusa Cunha de ter utilizado a conta da igreja, com o consentimento de Samuel, para repassar parte da propina de US$ 5 milhões recebidos por ele por contratos de dois navios-sonda da Petrobras. Janot não formalizou denúncia contra Samuel ou qualquer outro representante da Assembleia. Mas a investigação por lavagem de dinheiro contra o pastor correrá agora na Justiça Federal no Paraná, com Moro.
PGR: Eduardo Cunha usou igreja para receber propina
A suspeita de Janot é de que a igreja foi utilizada para lavar dinheiro de propina endereçada a Cunha. Foram identificadas duas transferências, no valor de R$ 125 mil cada, em agosto de 2012 para a instituição religiosa, em Campinas (SP). Segundo o procurador-geral da República, os investigados utilizaram como “falsa justificativa o pagamento a fornecedores”.
O Congresso em Foco entrou em contato com o Palácio do Planalto e o Itamaraty para saber os motivos da concessão do passaporte diplomático ao pastor. A reportagem ainda tenta contato com o líder religioso, mas não conseguiu localizá-lo até o momento.
O Ministério de Relações Exteriores diz que a liberação do benefício para Samuel está baseada em artigo do decreto que regulamenta a concessão de passaportes diplomáticos, que abre brecha para pessoas que, embora não façam parte da lista de autoridades, “devam portá-lo em função do interesse do país”. O decreto, porém, não menciona lideranças religiosas.
Leia a íntegra da resposta do Itamaraty
Colaborou Gabriel Pontes