Em meados do ano passado, manifestações tomaram conta das ruas do país. Foram diversas as bandeiras: do combate à corrupção a melhorias na saúde e educação. Ademais, notou-se um rastro de participação juvenil em todos esses eventos de cidadania, bem como um desejo comum de maior participação nas decisões políticas. Contudo, essas iniciativas não foram algo novo na história do nosso país.
A década de 1960 foi marcada por uma efervescência na mobilização da juventude no Brasil, principalmente em torno do movimento estudantil. O número de vagas em universidades públicas, na época, teve saltos quantitativos importantes, o que fortaleceu o movimento. Vale lembrar também do movimento pela “Reforma da Universidade”, no início da década, uma das mais importantes lutas do movimento, em uma onda de reivindicações pela qualidade na educação.
Com a ditadura militar, os movimentos estudantis viveram a repressão de suas mobilizações e de sua organização política. As pautas iam além da reforma do sistema educacional. Os jovens lutavam pela reestruturação e pelo fortalecimento dos mecanismos democráticos, então suspensos.
Em março de 1968, uma manifestação liderada pelos estudantes tomou as ruas do Rio de Janeiro para protestar contra a qualidade de serviços prestados aos estudantes universitários. No protesto, o estudante Edson Luís foi morto pelo regime. Em outubro do mesmo ano, durante o XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna, no interior de São Paulo, foram presas mais de 700 pessoas, o que enfraqueceu ainda mais o movimento da juventude brasileira da época.
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As passeatas organizadas pelos estudantes em 1976 e 1977, já no final do regime militar, deram os primeiros passos para o que viria a ser o movimento das “Diretas Já”. A Praça da Sé reuniu cerca de um milhão e meio de brasileiros em abril de 1984 e os jovens e estudantes estavam entre as lideranças do movimento.
Oito anos depois, eles protagonizavam mais uma mudança política no país. O então presidente da República, Fernando Collor de Melo sofreu impeachment depois de denúncias de corrupção e da pressão dos “caras-pintadas”, movimento estudantil que realizou diversas manifestações pela sua derrubada.
PublicidadeA partir da década de 80, diversas leis foram sendo aprovadas no sentido de garantir mais espaços de participação de adolescentes e jovens, inclusive e, principalmente, dentro das escolas, através da formação de Conselhos de Escola e Grêmios Estudantis. Há pelo menos cinco leis que reforçam a necessidade de sua existência. A principal delas é a Lei n° 7.398, de novembro de 1985, que dispõe sobre a organização de entidades estudantis do Ensino Fundamental e Médio e assegura aos estudantes o direito de se organizar em Grêmios.
Apesar da existência da legislação, esses espaços de participação democrática estão enfraquecidos e não existem em todas as escolas. Com a transformação tecnológica, com a internet e as redes sociais, os jovens encontraram outras formas de tentar fazer-se ouvir. As manifestações de junho do ano passado foram um bom exemplo disso. Jovens do país inteiro criaram eventos no Facebook e foram às ruas protestar por direitos e participação.
Além do papel da internet, há diversos exemplos de projetos estruturados que fomentam a participação de adolescentes e jovens no aprofundamento dos processos democráticos, como a participação e o monitoramento das políticas públicas ou o senso de cidadania e a responsabilidade do voto. Projetos como esses e outros, que desenvolvem sentimento de pertencimento e participação nos jovens, são verdadeiras iniciativas de fortalecimento do projeto de Estado democrático que queremos e devem ser incentivados.
Não podemos esquecer que preparar e fomentar nossos jovens à participação é também olhar para a sustentabilidade das atuais e futuras gerações. Na rua ou nas redes sociais virtuais, o que vale disso tudo é que a participação de adolescentes e jovens tem crescido e tem feito reformular ideais e modus operandi políticos e governamentais. É importante trazer esse público para contribuir com as discussões e as políticas públicas com a visão desses sujeitos de direitos, que serão também os protagonistas do cenário político no futuro.