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Na prática, isso significa que, caso Cunha consiga se livrar do processo de cassação, o peemedebista mantém a prerrogativa de foro privilegiado e garante que as investigações em curso contra ele se mantenham no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), a renúncia já era esperada. Ele ressaltou também que a decisão de Cunha vem à tona um dia depois de o governo Temer ter a primeira grande derrota na Câmara. O requerimento de urgência para acelerar a tramitação do projeto que renegocia as dívidas dos estados com a União foi rejeitado pelos deputados. Para ser aprovada, a matéria precisava de 257 votos favoráveis, mas obteve apenas 253. Ainda houve 131 votos contrários e duas abstenções.
“O grande derrotado é Temer. A operação política de Cunha não agrada mais o governo. O líder de corrupção na Petrobras renuncia com objetivo de se blindar da cassação. A novidade estava anunciada. Essa instabilidade de manter-se à frente da presidência enquanto tenta manter o mandato também agravou sua condição”, avaliou Florence.
Chico Alencar (Psol-RJ) fez questão de comentar o choro de Cunha durante a leitura da carta que declarou a renúncia: “Essa armação, mesmo regada a lágrimas, não pode prevalecer sobre a racionalidade democrática e política. A renúncia foi um ato político para salvar seu mandato, continuar com a prerrogativa de foro, e ter mais condições, segundo a própria avaliação dele, de se salvar da cadeia. É uma jogada e não representa nenhum ato de auto-crítica ou reconhecimento do mal que ele ainda representa na vida nacional”.
Em seguida, Ivan Valente (SP), líder do Psol, alfinetou: “As lágrimas de Cunha não comoveram nem os crocodilos do Brasil”.
No Twitter, deputados e senadores também repercutiram a decisão. Erika Kokay (PT-DF), por exemplo, destacou que “Cunha é o bode na sala” e que a “renúncia da presidência é para golpistas colocarem outro nome na Câmara e fazer o pacote de maldades do Temer andar”. “É importante que povo brasileiro saiba: renúncia de Cunha da presidência da Câmara é acordo com Temer golpista para ele salvar seu mandato.”
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), aproveitou para comemorar a possibilidade de novas eleições para a Presidência da Câmara. “Cunha acaba de renunciar à Presidência da Câmara! Agora, enfim, teremos novas eleições. Fora Maranhão!”
O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) enfatizou que “agora abre-se espaço para resolver problema da falta de representatividade da Câmara”: “Estamos há um tempo sem presidente e sem representação”, ponderou.
O senador João Capiberibe (PSB-AP) também avaliou que a derrota do Temer em plenário da Câmara na noite de ontem (quarta, 6) mostra a fragilidade do governo e incentivou a debandada de Cunha. “E claro, revela que [Cunha] não entregou o prometido. O bicho pegou!”
O líder da Rede, Alessandro Molon (RJ), afirmou que apesar da renúncia, os parlamentares não vão “diminuir a pressão por sua cassação”: “Não funcionará. Vamos até o fim!”, pontuou.
Glauber Braga (Psol-RJ), em plenário, ressaltou que “esse tipo de manobra em que o governo interino faz um ‘acordão’ para salvar Cunha da cassação” não pode ser permitida.
“Ontem na CCJ o parlamentar que indicou a anulação da votação do Conselho de Ética tinha acabado de indicar aliados para assumir cargos no governo Temer. Que Cunha e Temer não achem que essa renúncia vai nos deixar de trabalhar pela cassação do mandato parlamentar. Não ao ‘acordão’!”, disse o parlamentar fluminense.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) publicou em seu Twitter: “Cunha em coletiva: Temer tentando salvá-lo. Pactos de um submundo onde o poder pessoal e a grana valem mais que instituições e decência. A renúncia de Cunha não encerra seus malfeitos, portanto é responsabilidade dos parlamentares votarem sua cassação em plenário. Cunha exerce poder no governo Temer, que nasceu como obra sua. Temer não deve o lugar que ocupa ao povo, pois não teve 1 voto. Deve à Cunha. Perigo”, alertou.
O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), seguiu na mesma linha, e considerou que a renúncia “reforça a necessidade da votação da cassação”. “Precisamos rejeitar o recurso já na segunda-feira (11) e levar a cassação ao plenário na quarta (13). A eleição para o novo presidente da Câmara pode ser feita depois e não deve ser usada como desculpa para empurrar a cassação de Cunha para agosto. Ele resistiu e levou a Câmara a um imenso desgaste. Mesmo afastado do cargo pelo STF, não renunciou. Agora, quando teve a certeza de que perdeu apoio, renunciou numa tentativa de salvar o mandato. Os deputados tem a obrigação de cassá-lo”.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) avaliou que “a renúncia de Cunha antecipa um final inevitável” e pede atenção para “o que pode ser o início de outra manobra do réu Eduardo Cunha”.
Eleição
Um dos deputados que mais defenderam Cunha no Conselho de Ética, Carlos Marun (PMDB-MS) adiantou ser a favor de que o PMDB apresente um nome para a eleição, marcada para a próxima quinta-feira (14), às 16h. Marun também avaliou que Rogério Rosso (PSD-DF), um dos cotados para assumir o posto, “é um grande nome” e destacou que o deputado vem construindo “uma trajetória de sucesso” na Casa: “Mas volto a insistir, no PMDB também existem nomes para participar dessa disputa. Eu acho que eu sou um bom nome, mas não adianta eu achar. O partido tem que fazer uma avaliação para ver quais estão mais dispostos, nesse momento ímpar que o Brasil vive, a buscar uma administração que ao mesmo tempo contribua com o governo Temer e tenha coragem de exigir respeito”, explicou.
“Hoje, ela [renúncia] é muito mais importante para a Câmara que para Cunha como deputado”, avaliou Marun.
Um dos possíveis concorrentes ao cargo de presidente da Casa, Rosso preferiu discursar sobre a possibilidade com cautela. Ele enfatizou que a Câmara precisa de “um nome de consenso”.
“O presidente da Câmara é o presidente de 513 deputados. Também temos que entender que essa é uma eleição excepcional, em um momento excepcional do país. Não dá pra ter consenso geral, mas o bom senso nos pede para que nós possamos tentar encontrar esse perfil de deputado que se encaixe nesse momento do país. Não inventar roda, ser previsível, entender a pauta do Brasil, ter credibilidade na governança. Porque o que a gente vive hoje é o contrário. A instabilidade, falta de governabilidade”, salientou.
“Não sou candidato. Candidatura tem que ser de consenso. Meu nome não é colocado, esse consenso tem que ser trabalhado. Acredito que têm deputados muito mais experientes e conciliadores que eu. Todos nós queremos resolver isso o mais rápido possível. O ingrediente principal agora é a estabilidade do país”, acrescentou Rosso.