Eduardo Militão
Parlamentares de oposição e governistas de linha independente defenderam ontem (23) que a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, prestasse explicações sobre a possível ajuda a uma entidade filantrópica investigada pela Polícia Federal. Conforme revelou o Congresso em Foco, o advogado do Hospital Mãe de Deus, Luiz Vicente Dutra, disse à PF que a ministra ofereceu ajuda à entidade após ser atendida por ela. Em seguida, o Mãe de Deus teria obtido uma isenção de impostos no Ministério da Previdência.
Embora haja divergências entre as versões contadas pelo advogado, pelo diretor do hospital, Cláudio Seferin, e pela assessoria da Casa Civil, senadores e deputados consideram o fato mais um motivo para Dilma prestar explicações no Congresso Nacional.
“Ela deve explicações, sim. Não se fazem cortesias administrativas”, criticou o líder do PDT no Senado, Jéfferson Péres (AM). “Isso é incompatível com a moralidade pública.” Na sua opinião, Dilma pode falar sobre o caso na CPI dos Cartões ou na Comissão de Infra-estrutura da Casa, quando o assunto oficial será o Programa de Aceleração do Crescimento. Péres diz que a ministra vai ter que debater qualquer tema para não ficar sob constrangimento.
O líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA), entende que o fato é mais um fator para Dilma ir ao Congresso explicar-se – até agora, os requerimentos para sua convocação ainda não surtiram efeito no parlamento. “É um elemento a mais que mostra a ministra tem muito a explicar”, critica.
“Quando sobre uma ministra, da importância como ela, chefe da Casa Civil, passa a pairar uma série de dúvidas, ela fica exposta desse jeito, fica questionada dessa forma, acho que alguma coisa está errada”, conclui ACM Neto.
Surpresa
Usando o nome do hospital envolvido, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) ironizou, ao se dizer surpreendido com a notícia: “Mãe de Deus!”. Para ele, a situação revela muitas dúvidas e é necessário que, quem ocupa altos cargos na República, como Dilma, proceda de maneira ética e, também, que pareça ética. “Se não fica a impressão de que, quem é amigo do rei, sempre tem um tratamento diferenciado.”
Ele diz que pode ser coincidência o fato de a ministra ser do Rio Grande do Sul e o hospital Mãe de Deus também. Mas Fruet ressaltou que, em outros estados, como o Paraná, os hospitais passam por dificuldades financeiras.
Para o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), o assunto “merece” uma explicação de Dilma. Entretanto, ele avalia que, antes dele, a ministra tem que explicar o vazamento de informações sigilosas sobre os cartões corporativos.
O senador Expedito Júnior (PR-RO) disse que todos os temas referentes à ministra Dilma, incluindo cartões, PAC e a relação com o hospital, serão questionadas pelos congressistas quando ela atender às convocações solicitadas na Comissão de Infra-estrutura. “Não sei como a comissão vai permitir isso”, ponderou. Expedito afirmou que ele mesmo questionaria a ministra sobre sua relação com o Mãe de Deus.
Mas o parlamentar da base aliada lembrou que é preciso verificar se realmente ela interferiu no processo. “Como chefe da Casa Civil, ela atende todo mundo. A partir dela, há o relacionamento com todos os ministérios”, comentou Expedito.
Fulanizar
Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), é importante não “fulanizar” o caso. Ele entende que o essencial é saber se o Hospital Mãe de Deus merecia ou não a isenção de impostos, decidida pelo Ministério da Previdência. “A gente não pode beneficiar nem prejudicar um hospital porque atendeu uma ministra. Se não, coitada, uma ministra não pode ir ao hospital, porque, depois de qualquer benefício, vão se levantar suspeitas”, comentou Cristovam.
O líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), disse que a insistência da oposição em questionar Dilma é “um tiro no pé”. Na sua avaliação, isso melhora a imagem dela como pré-candidata à sucessão presidencial em 2010.
“É meio sem sentido essa insistência de focar toda sua atuação em cima da ministra. Na verdade, ela está se tornando uma pessoa mais conhecida e popular. Se a oposição está querendo fazer disputa política em cima da ministra Dilma, está se dando mal”, diz Rands. O petista entende que, mesmo sem vir ao Congresso, a ministra está “fazendo muito sucesso”.
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