“Brasília é a manifestação inequívoca de fé na capacidade realizadora dos brasileiros, triunfo de espírito pioneiro, prova de confiança na grandeza deste país, ruptura completa com a rotina e o compromisso.”
Juscelino Kubitschek de Oliveira
Brasília ainda é quase uma criança. Aos 55 anos de idade, que completa nesta terça-feira, 21 de abril, a cidade está em plena infância, quando comparada com outras metrópoles brasileiras já várias vezes centenárias, como Rio de Janeiro, que conta 450 anos, e São Paulo, no alto de seus 461 anos. Isso sem falar nas milenares Roma, Paris e Londres, que já existiam quando o Brasil ainda nem sonhava em ser descoberto por Pedro Álvares Cabral.
Portanto, nossa cidade ainda está em fase de crescimento, o que explica as tantas dificuldades que ela enfrenta. Como todo menino ou menina que dá os primeiros passos, nossa criança ainda não consegue se firmar, tropeça, cai, levanta-se, tropeça e cai de novo. Mas não desiste e segue em frente. Felizmente, à medida que for crescendo, ela caminhará com desenvoltura, até que um dia será capaz de correr sem cair.
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É assim que eu vejo a Brasília de hoje. Minha Brasília querida, minha cidade, minha paixão! Eu a abraço com carinho e lhe dou os parabéns emocionado, a você que me acolheu pequeno e me transformou em homem, em professor, em pai de família, em Cidadão – com cê maiúsculo; em tudo o que sou. Só tenho a lhe agradecer, e muito. Não nasci aqui, mas é como se tivesse nascido, tal a afinidade que tenho com a cidade e seu modo de vida, suas peculiaridades, seu jeito de ser. Além de brasiliense honorário, reconhecido pela Câmara Legislativa, sou brasiliense de coração, e muito me orgulho disso.
Para quem não sabe, nasci numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, de nome poético e sugestivo: Encanto. Migrei para a Capital do país com minha mãe e meus irmãos, para reencontrar meu pai, que aqui trabalhava como pedreiro na construção de apartamentos, no Cruzeiro e, depois, de casas, em Ceilândia. Eu tinha 8 anos de idade, e Brasília, 11, de modo que crescemos juntos.
PublicidadeSempre me emociono ao lembrar o passado difícil, de menino pobre, vendedor de picolé e ovos pelas ruas de Ceilândia, ajudante de pedreiro do pai e aluno da rede pública que precisava de livros emprestados para estudar. Emociono-me mais ainda ao recordar como era a cidade daquele tempo, que também crescia em meio a muitas dificuldades. Havia pouco transporte, mas muitas obras, muita poeira na seca e muita lama na chuva. Por um longo tempo, nem eu estava formado, nem ela. O Plano Piloto continuava incompleto: apesar dos muitos prédios já erguidos, ainda havia imensos espaços vazios. Na Esplanada dos Ministérios, pouco do que temos hoje estava construído, e, nos arredores, o que dominava era o barro vermelho.
Mas essa paisagem, aos poucos, se modificou. No início, a mudança foi devagar, tanto que quase não dava para notar. No entanto, com o tempo, as coisas começaram a acontecer mais depressa. Foram traçadas novas vias e erguidos novos viadutos. Pode-se dizer que a paisagem que vislumbramos hoje surgiu ao longo dos últimos dez, vinte, trinta anos. Não se pretendia crescimento tão acelerado para a cidade, mas isso tornou-se inevitável. A explicação é óbvia: aqui se concentra o poder político, que, por sua vez, atrai o poder econômico. Ao mesmo tempo em que se firmava como cidade onde eram tomadas as grandes decisões nacionais, Brasília atraía mais gente, que nela encontrava oportunidades sem igual em outras cidades brasileiras.
Então, as pessoas foram chegando, e, junto com elas, o capital. Empresas se instalaram na cidade, e a infraestrutura urbana melhorou, tornando a vida no Planalto Central mais agradável e cada vez mais atraente para novos moradores. O mesmo ocorreu na periferia, com as chamadas cidades-satélites. Sobretudo Taguatinga e Ceilândia passaram a concentrar a maior parte da mão de obra empregada na construção civil e também grande número de servidores públicos, comerciários e profissionais de diversas áreas.
Enquanto isso, também eu fui crescendo e amadurecendo, em caminho paralelo ao percorrido pela cidade. Para mim, tudo deu certo, depois da infância e da juventude vividas em meio a dificuldades inimagináveis de uma família de migrantes pobres. Consegui estudar, me formar, entrar para o serviço público e, por fim, me tornar empreendedor no ramo que escolhi. Posso dizer que sou um brasiliense feliz, que ama a cidade onde vive. Aliás, amar é pouco: sou apaixonado por Brasília, e meu amor só aumenta a cada dia. A Capital é minha segunda paixão. A primeira, claro, é a família, minha mulher e meus dois filhos, todos brasilienses natos, um presente que Deus me deu para toda a vida.
Em tempo: quando me refiro aos brasilienses natos, devo lembrar que esta cidade, tão generosa, não faz distinção entre os filhos nativos e os adotivos. A todos acolhe e para todos abre as portas, indistintamente. Digo isso por experiência própria.
Entretanto, ela também enfrenta problemas, a maioria deles típicos das grandes metrópoles. Tal como acontece com o homem-feito, que se desenvolve mais rápido do que o normal, saindo da infância e da adolescência cedo demais, com uma cidade que cresce de forma avassaladora, problemas podem surgir. Isso explica por que, ainda tão jovem, Brasília já enfrenta dificuldades que só deveriam surgir dentro de alguns anos. Tudo começa pela superpopulação, de quase três milhões de habitantes, número que era para ser atingido bem mais tarde, segundo as previsões dos idealizadores da Capital, Lúcio Costa e Oscar Niemayer, e do grande patriarca da cidade, Juscelino Kubitschek.
Tudo que nos faz reclamar de Brasília hoje é consequência do crescimento prematuro da cidade. A despeito disso, este é o melhor lugar que conheço para viver. Temos aqui uma série de facilidades que não encontramos em outras cidades. Além disso, a Capital é motivo de orgulho sob vários aspectos. No trânsito, por exemplo, os brasilienses foram precursores na demonstração de respeito ao próximo, ao parar nas faixas de travessia de pedestres. Além disso, a educação, aqui, é digna de respeito: evoluímos muito, tanto no ensino público, como no particular, com oferta de escolas do Estado para todas as crianças e ótimas opções no ensino pago. No ensino superior, a UnB foi pioneira na criação de cotas raciais, sistema hoje consagrado em todo o País, e se mantém como referência entre as universidades brasileiras, sem menosprezar as muitas e boas opções entre as instituições particulares.
As maiores dificuldades da cidade residem, sem dúvida, no transporte público e na rede de saúde. A deficiência nessas áreas não é, no entanto, “privilégio” da nossa Capital. Trata-se de chaga nacional. Apesar disso, hoje, já não se diz que, para ir ao médico em Brasília, o melhor é pegar um avião. Grandes profissionais estão aqui e podemos recorrer a eles com toda a confiança.
Brasília oferece, ainda, aos seus moradores, qualidade de vida acima da média. Tanto assim que aqui se diz, com muita propriedade, que ”quem bebe dessa água sempre volta”. Isso explica por que tanta gente, depois de se mudar para outra cidade, acaba retornando e retomando a vida, às vezes, até no mesmo lugar e, em muitos casos, na mesma casa, por não se adaptar mais à rotina das ”cidades comuns”. Também não ouvimos mais – ou ouvimos muito pouco – reclamações sobre a ”solidão” de Brasília, a falta de ”esquinas”, o pouco convívio com os vizinhos. Quem mora aqui gosta da cidade da forma como ela é e não quer mudanças.
Falta de diversão também já foi uma crítica à Capital da República. Mas quem pode reclamar de uma cidade com tantos shoppings, cinemas, bares, teatros, casas de shows, cervejarias, bons e variados restaurantes e até simpáticos e agradáveis botecos para todos os gostos? Se alguém quer se divertir, é só procurar que vai achar o que fazer. Hoje se inverteu aquela situação de fugir de Brasília nos feriados e nas datas especiais, como Carnaval, Semana Santa e Natal. Muitos brasilienses viajam, sim, porém muito mais visitantes vêm de fora para curtir esses dias em Brasília.
Tenho imenso orgulho de contribuir para a realização do sonho de tantos brasileiros. Nesta data, tão cara para todos nós que vivemos aqui, ao lado dos parabéns para a minha Brasília amada, quero desejar que todos nós do GDF sejamos iluminados pelo Espírito Santo de DEUS para encontrarmos as melhores soluções para os graves problemas da nossa BRASÍLIA.