O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, manifestou-se contrário à decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de anunciar só em junho uma provável candidatura à reeleição. Negou também a possibilidade de deixar o cargo para assumir a coordenação da campanha, admitindo que fica à frente da economia até o final do governo, a menos que Lula não queira.
É o primeiro ministro a discordar publicamente da decisão do presidente de adiar ao máximo a confirmação de sua candidatura para as eleições de outubro.
“O presidente insiste que antes de junho ele não quer saber dessa conversa. Falei com ele na semana passada: ‘Olha, presidente, o senhor tem que olhar a questão da candidatura com naturalidade, organizar isso, até porque muitos ministros vão deixar o governo”, disse Palocci. A declaração foi feita ontem em Moscou, onde o ministro participa, como convidado, do encontro dos ministros das finanças do G8 (os sete países mais ricos do mundo e a Rússia).
“Eu acho junho um pouco tarde, mas ele tem esse estilo, que não quer fazer nada antes de junho”, completou o ministro.
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Na avaliação de Palocci, o atual contexto econômico e social do país é favorável a Lula. “Tenho dito a ele que acho importante que ele seja candidato, porque ele mostrou que é possível combinar um projeto de estabilidade com um olhar social, que muda de qualidade o processo de distribuição de renda, a educação. Penso que um período mais longo de governo com essas características fará bem ao Brasil.”
“O lado que ele (Lula) aborda eu acho muito correto”, ressalvou o ministro. “A reeleição trouxe a questão da candidatura no governo. Se ele antecipa o processo eleitoral, vai trazer o país a olhar mais a candidatura do que a própria atuação do governo.”
O ministro chamou de especulação as informações de que deixaria o cargo para coordenar a campanha de Lula ou para assumir o ministério das Relações Institucionais.
“Já estou chegando à conclusão que, quanto mais eu falo que não, mais é publicado que é. Mas vou ser bem franco: gosto de muito da atividade política, e uma das coisas boas que fiz com muito gosto foi participar da coordenação da campanha. Mas hoje acho que é mais importante o trabalho que estou fazendo para o presidente e para o país.”
Sobre os recentes ataques do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao PT e ao governo, ao afirmar em entrevista à revista IstoÉ que “a ética do PT é roubar”, Palocci disse que o “bate-boca faz parte” do processo eleitoral, mas que “Fernando Henrique certamente trouxe um calor especial ao processo eleitoral totalmente desnecessário”.