O ápice e a queda do homem mais forte da economia no governo Lula são o pano de fundo do livro Sobre Formigas e Cigarras, autobiografia do agora deputado Antonio Palocci (PT-SP), que chega hoje às livrarias.
Na obra, Palocci conta que sentiu “uma movimentação clara” para afastá-lo do Ministério da Fazenda depois que os outros dois integrantes do chamado núcleo duro do governo – os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken – caíram. E após ter sido convidado por Lula para disputar a Presidência, no auge da crise do mensalão, quando o presidente teria pensado em não concorrer à reeleição.
O ex-ministro disse que recusou o convite feito pelo presidente porque temia que o lançamento de seu nome numa disputa eleitoral pudesse contaminar a economia. Segundo Palocci, PFL e PSDB avaliavam que, se área econômica não fosse atingida de alguma forma durante a crise, nada abalaria Lula.
O agora deputado nega veementemente qualquer envolvimento com a quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, que o acusou de participar de festas promovidas por lobistas em Brasília. A violação do sigilo resultou na queda do ministro, em meados do ano passado. “Certamente [quem divulgou os dados do caseiro] tinha intenção de me ajudar, sem imaginar que estaria me colocando numa situação insustentável”, afirmou.
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O petista também contesta a denúncia feita pelo economista Rogério Tadeu Buratti, se ex-assessor e amigo, de que teria recebido propina da empresa Leão & Leão enquanto prefeito de Ribeirão Preto (SP). Palocci garante que Buratti mentiu sobre os R$ 50 mil supostamente pagos pela empresa de saneamento ao diretório nacional do PT durante dois anos.
Ao comentar a maneira como tratou as denúncias, Palocci faz um mea-culpa: “Cometi falhas em setores que estavam sob o meu comando durante os episódios de 2006. Não dei a atenção devida a questões que pareciam corriqueiras”.
Sobre a relação com o deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), Palocci garante que, ao contrário do que pudesse parecer, os dois não brigavam “dia e noite”.
“É certo que tivemos, sim, muitas divergências e dificuldades durante o período em que ele ocupou a Casa Civil, e eu, o Ministério da Fazenda. (…) Cada vez que surgia um foco de tensão capaz de atrapalhar a nossa relação, tratava de ir pessoalmente ao seu gabinete, no Palácio do Planalto, para colocar abertamente o problema e discuti-lo. Funcionava”.
Em todo o livro, o ex-ministro é só elogios ao presidente e garante que era Lula, de fato, quem estava no comando da política econômica. Palocci garante que foi o próprio presidente, e não o Conselho Monetário Nacional (CMN), que fixou as baixas metas de inflação que, segundo críticos, impediram a queda dos juros e o crescimento da economia. (Carol Ferrare)
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