Licenciado do posto de ministro-chefe da Casa Civil para fazer uma cirurgia de próstata, o peemedebista Eliseu Padilha é alvo de mais uma denúncia de corrupção neste sábado (11). Homem forte do governo Michel Temer, Padilha recebeu da Odebrecht, empresa pivô da Operação Lava Jato, ao menos quatro senhas para operar o recebimento de caixa dois de campanha ao PMDB. As informações constam de depoimento feito nesta sexta-feira (10) pelo ex-executivo da empresa José de Carvalho Filho, um dos delatores do processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a chapa Dilma-Temer. As senhas usadas por Padilha eram Foguete, Árvore, Morango e Pinguim.
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José de Carvalho disse ao TSE que o ministro Padilha intermediou pagamento de caixa 2 para o PMDB nas últimas campanhas eleitorais. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, fontes com acesso ao processo disseram que Padilha combinou locais de recebimento de dinheiro da empreiteira depois de senhas informadas por ele ao ex-executivo. Segundo o Estadão, o montante total destinado ao PMDB chegou a R$ 4 milhões, dos quais R$ 500 mil foram reservados ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos caciques do partido nos últimos anos.
A reportagem apurou também que José de Carvalho Filho procurou o ministro peemedebista para solicitar endereços para a entrega do dinheiro. Os locais escolhidos para a transação foram informados à ex-secretária do setor de propina da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, responsável pela criação das senhas a serem repassadas por José de Carvalho a Eliseu Padilha.
O delator afirmou ainda ao TSE que membros da Odebrecht procuraram Padilha depois de cobrança virulenta ao telefone feita por Cunha a respeito do atraso no repasse dos R$ 500 mil do departamento de propinas. Advogados presentes ao depoimento do ex-executivo disseram que Padilha avisou que falaria com Cunha sobre o assunto. Ainda segundo os advogados, José de Carvalho relatou a Cláudio Melo Filho, então vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, o telefonema de cobrança feito por Cunha. Cláudio Melo é um dos 78 delatores do esquema de corrupção que consistia na fraude em contatos da empresa com a Petrobras. Em seguida, o ex-vice-presidente discutiu o assunto com Padilha.
“Mula”
Como este site informou em em 9 de dezembro, Cláudio Melo relatou a autoridades da Lava Jato que o presidente Michel Temer pediu R$ 10 milhões em 2014, em valores não contabilizados, ao empreiteiro Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa preso desde junho de 2015. Além de Temer e de Padilha, também foram beneficiados com dinheiro do petrolão, segundo a delação de Cláudio Melo, nomes como o secretário-geral da Presidência da República, Moreira Franco, e os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), respectivamente líderes do PMDB e do governo no Senado, além de Eunício Oliveira (CE), hoje presidente da Casa. Presidente nacional do DEM, o senador José Agripino (RN) também foi mencionado na delação. Todos negam as acusações.
Segundo essa delação, os R$ 4 milhões repassados a Padilha, na verdade, são apenas parte dos R$ 10 milhões solicitados por Temer. Cláudio Melo já havia dito, durante o processo de negociação de sua colaboração judicial, que José Yunes, amigo e ex-assessor especial de Temer, recebeu em seu escritório R$ 4 milhões em espécie, valor coincidente àqueles recebidos por meios das senhas de Padilha. Depois que delação veio a público, Yunes deixou o posto na Presidência da República, dizendo que seu gesto era para preservar o amigo Temer. À Procuradoria-Geral da República, ele disse apenas ter recebido um pacote no escritório, sem violar a correspondência para ver o conteúdo.
Em entrevistas à imprensa, Yunes chegou a afirmar que pode ter sido usado como “mula involuntária” no episódio. “Mula” é uma pessoa que transporta algum volume com conteúdo ilegal – um procedimento muito utilizado pelo narcotráfico. No caso, a ação teria sido “involuntária”. Padilha ainda não se manifestou publicamente sobre o episódio.
Membros do PMDB avaliam nos bastidores que Yunes resolveu falar sobre o assunto à imprensa com o objetivo de blindar Temer das investigações sobre o esquema de corrupção. Segundo essa especulação, Yunes jogou a responsabilidade pelos repasses de dinheiro a Padilha, em que pese a figura do pacote de dinheiro entregue em seu escritório. Assim, com o ministro da Casa Civil posto no foco das acusações, Temer estaria protegido pelo amigo e ex-assessor especial. Diante do noticiário, especula-se ainda que Padilha não retome suas funções no governo, o que também serviria para poupar Temer do clima fechado.
Ação
Os relatos de José de Carvalho foram feitos ao ministro do TSE Herman Benjamin, relator da ação movida pelo PSDB pedindo a cassação da chapa Dilma-Temer, vencedora nas eleições de 2014. No depoimento, o ex-executivo detalhou como se davam os repasses definidos no setor de propinas da Odebrecht, e que até um recibo lhe foi exibido para comprovar a entrega do pacote de dinheiro no escritório de Yunes. Também suspeito de ter recebido dinheiro de caixa dois durante as eleições presidenciais, o PSDB acusa a chapa vencedora de abuso de poder econômico.
As senhas em poder de Padilha variavam, ainda segundo o depoimento, de acordo com o valor de cada repasse: em 13 de agosto de 2014, a senha Foguete deu acesso a R$ 1,5 milhão; R$ 1 milhão depois de informada a senha Árvore, em 2 de setembro; em 4 de setembro, o código Morango deu direito a R$ 1 milhão; em 10 de setembro, mais R$ 1 milhão repassado para a senha Agenda; e, por fim, em 1º de outubro, R$ 500 mil da senha Pinguim anunciada.
Repouso
O ministro Eliseu Padilha disse ao Estadão que estava em repouso por recomendação médica e não comentaria as acusações antes de ter acesso ao conteúdo do depoimento de José de Carvalho. Se há quem espera pedido de exoneração do ministro, também há quem dê como certo seu retorno ao Palácio do Planalto já nesta segunda-feira (13).
Ainda segundo o jornal, as novas suspeitas sobre Padilha suscitadas com o depoimento de José de Carvalho Filho não são suficientes para que o ministro Herman Benjamin o intime em juízo. A reportagem explica que os fatos narrados pelo ex-executivo não estão diretamente relacionados à captação de recursos para a chapa presidencial, em essência o objeto da ação em curso no TSE. Não há previsão de data para o julgamento do processo no plenário da corte eleitoral.