O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, reafirmou à bancada do partido na Câmara que a legenda terá candidatura própria ao Palácio do Planalto. Em jantar realizado na terça-feira na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, comandada pelo deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP), Kassab afirmou que a prioridade é a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e que dará ao senador todo o tempo para que ele possa se decidir.
“A bola está com ele”, disse Kassab, conforme relato feito ao Congresso em Foco por um dos participantes do jantar. O dirigente evitou falar em “plano B”, mas dentro do partido já são dadas como certas a filiação e a candidatura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, descontente no PSDB desde que perdeu as prévias para João Doria. “O anúncio deve sair em março”, disse uma fonte ligada à presidência da sigla.
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“Os deputados gostaram do que Kassab falou porque há dentro do partido a percepção de que eles precisam ter liberdade para se posicionar nas eleições. Ter uma candidatura própria inibe tensões provocadas por apoios a Lula e Bolsonaro”, explica um interlocutor da legenda que pediu para não ser identificado.
Anfitrião do jantar, Marco Bertaiolli diz que a posição do partido é clara. “Estavam lá 30 deputados. Todos concordaram com a decisão do partido de ter Rodrigo Pacheco como candidato. Agora também foi unanimidade que, se Rodrigo Pacheco não exercer esse direito, o Eduardo Leite seria o nome ideal. Ele chegaria muito bem acolhido, respeitado e valorizado”, ressaltou.
Eduardo Leite tem negado publicamente a possibilidade de deixar o PSDB. No fim de semana, admitiu pela primeira vez disputar a reeleição, mas pelo atual partido. Seu discurso sempre foi de que jamais tentaria novo mandato. Após ser derrotado por Doria, ele também havia descartado deixar os tucanos para se lançar à Presidência por outra legenda. O governador gaúcho tende a quebrar uma das promessas.
“A vinda dele está sendo dada como certa e é para ser candidato a presidente. No grupo do Whatsapp da bancada todos receberam com entusiasmo o nome dele. Entusiasmo que não vimos em nenhum momento da parte do Rodrigo Pacheco”, contou um parlamentar do PSD. “Ele representa uma novidade, tem legado do governo do Rio Grande do Sul, é jovem, não tem os vícios da política do Centrão. Não atrai radicalismo”, avalia a liderança.
Para a cúpula do PSD, ter uma candidatura própria é fundamental para marcar posição, consolidar a identidade e popularizar o partido, ampliar as bancadas de deputado e senador e, sobretudo, evitar que a sigla se divida em palanques de Lula e Bolsonaro.
Durante a cerimônia de filiação do deputado Marcelo Ramos (PSD-AM), na semana passada, Kassab disse “não ser impossível” apoiar a candidatura do petista ainda no primeiro turno. Essa hipótese, no entanto, não passa pela cabeça de políticos alinhados a Bolsonaro, que ameaçam até debandar caso essa aliança se concretize. Comprar esse tipo de confusão Kassab não quer.
Bertaiolli considera que não há chance de o PSD acompanhar Lula no primeiro turno. “Ele não vai apoiar Lula por uma simples razão: se ele toma essa decisão, implode o partido”, disse o deputado ao Congresso em Foco.
O deputado lembra que há grande resistência dentro do partido ao nome do petista, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. Segundo ele, a fala de Kassab a respeito de Lula foi distorcida na imprensa. “Ele disse que não era impossível na condição de respeitar líderes do partido que defendem o apoio ao Lula. Confundiram uma posição democrática do Kassab, de ser educado com a bancada”, afirmou o parlamentar.
Dois exemplos emblemáticos das diferenças internas estão no Paraná e na Bahia. O governador paranaense, Ratinho Junior, é apoiador de Bolsonaro e favorito à reeleição. Se o PSD não tiver candidatura própria, deverá dividir o palanque com Bolsonaro. Já na Bahia o cenário é inverso: o senador Jaques Wagner (PT) tende a abrir mão de disputar a eleição para apoiar a candidatura do também senador Otto Alencar ao governo. Otto é alinhado ao PT, de quem já foi vice-governador.
“Os candidatos, nos estados, vão ficar constrangidos se não apoiarem o nome do próprio PSD. Se não apoiarem o candidato do PSD, para apoiar Lula ou Bolsonaro, terão de fazê-lo às escondidas, o que ficaria muito feio”, considera um parlamentar do partido.
Com candidatura própria ao Planalto, Kassab espera ampliar a bancada no Congresso, dada a visibilidade que a eleição presidencial lançará sobre os postulantes à Câmara e ao Senado. O PSD tem hoje 35 deputados federais e deve atrair mais dez em março, quando se abre o prazo para troca de legenda sem que o parlamentar incorra no risco de perder o mandato por infidelidade partidária. Kassab planeja elevar para 50 ou 60 o número de cadeiras a serem ocupadas pela sigla na Câmara a partir de fevereiro de 2023, quando toma posse o novo Congresso.
Apesar de conversas constantes com Gilberto Kassab, Eduardo Leite tem negado a intenção de deixar o PSDB. “Quero dizer para vocês que não precisam pedir para eu ficar, porque eu jamais sairei. Não precisam me pedir para não parar, porque eu não vou parar”, afirmou o governador em encontro da militância no sábado. Em um ensaio do que pode fazer, ele admitiu que pode rever sua disposição de não buscar um novo mandato. “Tenho essa convicção (contra a reeleição). Mas também tenho a convicção de que não podemos permitir que o estado se perca”, discursou, na presença do presidente nacional do partido, Bruno Araújo.
Leite se encontrou na segunda-feira (14), em São Paulo, com Kassab, que voltou a lhe oferecer o posto de candidato caso Pacheco confirme sua desistência em concorrer ao Planalto. No dia seguinte, Bruno foi às redes sociais fazer uma cobrança pública ao governador. Leite havia se reunido com Kassab na segunda (14) em São Paulo, na presença do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e foi novamente convidado a se filiar.
“O eleitor gaúcho sempre exigiu muita firmeza de posições de seus líderes e Eduardo é firme. Não vai dar margens para o seu eleitor ficar em dúvida dessas posições com as informações desencontradas que circulam. Nem sempre a grama do vizinho é a mais verde”, afirmou o presidente dos tucanos. Caso queira concorrer à Presidência, Leite tem até o dia 2 de abril para renunciar ao mandato e confirmar uma eventual nova filiação partidária.
O Congresso em Foco procurou Eduardo Leite para comentar o assunto, mas, segundo a assessoria de imprensa, ele não vai se manifestar.
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