A ousadia com que alguns parlamentares agiam para aumentar seu ganhos com o desvio de recursos públicos deixou admirado o chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin. É o que conta os repórteres Maria Lima e Alan Gripp em reportagem publicada na edição de hoje do O Globo.
De acordo com a matéria, o deputado Júnior Betão (PL-AC) apresentou uma proposta tão escandalosa ao dono da Planam (empresa central do esquema) que o próprio Vedoin desistiu. Segundo o empresário, Betão destinou em 2004 duas emendas: um de R$ 468 mil e outra R$ 360 mil, ambas para o Centro Acreano de Inclusão Social, de sua propriedade, para a compra de ambulâncias. A entidade sequer prestava atendimento ao público, diz a reportagem. Vedoin disse que pagou a Betão 15% sobre o valor das duas emendas: R$ 170 mil.
No ano seguinte, segundo Vedoin, o deputado apresentou outra emenda , no valor de R$ 290 mil, para o mesmo Centro Acreano. Desta vez, para aquisição de medicamentos. Mas o próprio Vedoin teria considerado a proposta do deputado inaceitável, segundo disse em seu depoimento: “por essa emenda o deputado estava querendo receber uma comissão de R$ 230 mil”. Vedoin disse que não executou a licitação por causa do valor da alto da comissão cobrada por Betão.
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O empresário disse que, depois da negativa, Júnior Betão procurou pela então assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino para ver se ela conseguia outra pessoa para realizar a licitação.
Como vender um mandato
Eleito com apenas 200 votos, o deputado Ildeu Araújo (PP-SP) conseguiu o mandato de deputado graças a votação expressiva de Enéas Carneiro (Prona-SP) que obteve, em 2002 mais de uma milhão de votos. Segundo Vedoin, Araújo não pensou duas vezes para tentar tirar proveito da passagem pelo Congresso.
O empresário disse que fez acordo com ele para pagamento de 12% de propina sobre o valor das emendas, mas o deputado teria exigido receber antecipadamente R$ 50 mil. Acabou recebendo R$ 19,2 mil, de acordo com o depoimento de Vedoin à Justiça Federal, e o combinado foi rompido.
“O parlamentar foi eleito com apenas 200 votos, em razão de larga votação recebida pelo deputado Enéas Carneiro, e não tinha compromisso com o mandato e literalmente vendeu a emenda negociando percentuais sobre seu valor, dos quais exigia pagamento antecipado”, disse Vedoin no depoimento.
Ousadia sem fim
No caso do deputado Benedito Dias (PP-AP), não satisfeito com as comissões recebidas, o parlamentar propôs a Vedoin a criação de uma empresa para frudar recursos no seu estado, o Amapá. Foi criada então a Amapá Serviços em nome do assessor do deputado Erick Jansen. Em nove meses a empresa ganhou licitações para compra de equipamentos médicos com recursos destinados por Benedito Dias ao estado. Segundo Vedoin, o parlamentar retirava, por mês, cerca de 60% e a Planam, 40%.
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