O presidente Lula descartou nesta sexta-feira (10) o uso de pacote para combater os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. Segundo Lula, o Brasil já utilizou esse tipo de política e “quebrou a cara muitas vezes”. “Comigo não tem pacote. Serão medidas a medidas, pontuais”, disse em entrevista a agências de notícia no Palácio do Planalto.
Analistas dizem que Lula errou ao subestimar crise
Otimista em relação à crise, o presidente voltou a afirmar que os brasileiros terão um "Natal extraordinário". "Até porque, embora o Brasil esteja vivo e participando da economia global, a crise não chega do mesmo tamanho em todos os países do mundo. No Brasil, nós ainda não temos nenhum grande projeto que tenha sofrido qualquer arranhão", declarou. Segundo o presidente, o governo manterá todas as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Lula, no entanto, admitiu um possível corte de gastos caso a crise se agrave.
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"Na medida que essa crise chegar ao Brasil e tiver implicação na diminuição dos investimentos ou o governo for obrigado a diminuir os investimentos, com a mesma serenidade que estou dizendo que o Brasil está num momento bom eu vou dizer: companheiros, amigos e amigas, a situação está se agravando e nós vamos ter que fazer isso, fazer isso e fazer aquilo. E anunciar as medidas”, defendeu.
Otimismo
O presidente afirmou também que desde setembro vem alertando sobre os riscos da crise financeira provocada pelos efeitos da inadimplência do setor imobiliário americano, o chamado subprime. “É como boletim de criança que tira nota baixa e quer esconder dos pais. Não adianta esconder que um dia aparece”, declarou. Para ele, a crise financeira não atingiu o Brasil em cheio. “É como se tivéssemos tomado uma vacina contra uma doença. Todos os países serão atingidos, mas o Brasil sofrerá menos do que qualquer outro país”, disse.
Em relação às críticas sobre seu posicionamento para tratar o impacto da crise no Brasil, Lula afirmou que "o seu papel é passar serenidade para a sociedade brasileira". "Tem muita gente que fala ‘o presidente Lula está muito otimista, não está vendo a crise’. Ora, meu Deus do Céu. Eu sou um tipo de ser humano que quando vou visitar alguém no hospital, quando alguém está doente, não fico contando pra ele quantas pessoas já morreram daquela doença, eu fico contando das pessoas que se curaram, das pessoas que tinham aquela doença e desapareceu. Ou fico contando outras coisas, para não contar de doença", disse.
Especulação
Lula defendeu ainda a reformulação dos Bancos Centrais de todos os países e afirmou que essas instituições precisam rever a “margem de alavancagem”, que vem sendo muito alta em relação à realidade. “Ninguém pode negociar o que não tem e a movimentação de recursos de forma virtual, em que só se vende papel, é a causa da quebra financeira que ocorreu”, concluiu.
Na entrevista, Lula criticou também a especulação internacional, em especial sobre o preço do barril de petróleo, e classificou essa especulação como um “desserviço à economia mundial”. O presidente anunciou que pretende convocar uma reunião do Mercosul para debater a crise. A data do encontro deve ser decidida nos próximos dias com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. (Renata Camargo)
Leia aqui a íntegra do discurso do presidente Lula
Atualizada às 18h20