O que é possível esperar desse segundo semestre? Há luz no final do túnel? Os diversos cenários possíveis autorizam um olhar otimista sobre o futuro?
O passado nos legou uma crise monumental de múltiplas faces. Os erros de política econômica derivaram em milhões de desempregados, deficit público pornográfico, juros estratosféricos, endividamento alto. A corrupção generalizada e institucionalizada serve um cardápio indigesto a uma sociedade perplexa e indignada. As instituições funcionam, mas nem sempre harmoniosamente. Há um evidente vácuo de liderança. E uma profunda perda de credibilidade e confiança do sistema político como um todo.
Daqui a um ano iniciaremos um novo processo eleitoral que elegerá o presidente da República, governadores, senadores e deputados. Pode ser um reencontro do Brasil com o seu destino e futuro. Mas não está descartada a possibilidade de pegarmos um atalho errado atolado no populismo e no salvacionismo. A desesperança e a radicalização podem dificultar a reorganização do centro político e propiciar extremismos indesejáveis. Mas o importante é chegarmos vivos às eleições de 2018.
O que fazer? Quais são as etapas a enfrentar na travessia?
Iniciaremos o semestre com a apreciação pela Câmara da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente da República. A peça acusatória está envolta em perguntas não respondidas: a operação controlada foi autorizada pelo Poder Judiciário? A força-tarefa orientou e treinou o réu confesso delator? Como um alto membro da força-tarefa migrou para a defesa da JBS a preço de ouro e sem quarentena? Por que outras pessoas sobre as quais pesam acusações mais graves na delação não foram gravadas? Por que Rodrigo Rocha Loures não foi monitorado após a cena da pizzaria para se saber o destino da mala com 500 mil reais?
O que está na mesa não é o arquivamento da investigação. A questão é afastar mais um presidente agora em meio a uma crise aguda ou garantir a estabilidade política mínima para continuarmos a agir para recolocar o país nos trilhos e deixar a investigação para daqui a um ano e meio. Tenho certeza de que o próprio presidente Michel Temer é o maior interessado em exercer seu amplo direito de defesa e provar sua inocência.
Ou será que o melhor caminho é ter um governo provisório de seis meses que resultará na volta posterior de Michel Temer ou na eleição indireta de um quarto presidente da República no início de 2018, ano em que teremos eleições gerais diretas?
O Brasil não pode ficar na janela vendo a crise desfilar. O ideal é votarmos a reforma política até setembro e retomarmos as discussões sobre os sistemas previdenciário e tributário ainda em 2017.
Emoções fortes estão reservadas para este segundo semestre. O parto é doloroso, mas o aprendizado, necessário. Mas se temos que encarar o passado e o presente com coragem, não podemos escravizar o futuro.
Que consigamos abrir pelo menos uma brecha para pensar que outro país é possível e que o Brasil é muito maior que a presente crise.
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