Guillermo Rivera
A oito meses do xeque-mate eleitoral, a disputa interna entre os pré-candidatos à presidência da República movimenta o tabuleiro das bancadas no Congresso. A escolha dos novos líderes partidários revela o poder de fogo dos jogadores no xadrez da sucessão presidencial. No caso dos partidos aliados, o avanço de determinadas peças pode representar o fortalecimento, ou não, do Palácio do Planalto.
De fato, a briga pela liderança opõe as alas oposicionista e governista de grandes bancadas, como a do PMDB. Ali e em vários outros partidos, trava-se intensa guerra de bastidores. E, faltando apenas uma semana para a definição das novas lideranças no Legislativo, ainda não se sabe se o governo vai ganhar ou perder influência entre os aliados.
Mas a disputa pelo cargo de líder não reflete apenas a guerra de posições da corrida presidencial. Envolve também projetos pessoais de parlamentares que, transformados em líderes, aumentarão suas próprias chances eleitorais no pleito de 1º de outubro. Afinal, líderes partidários têm mais espaço na mídia, contam com assessorias mais numerosas e em geral mais eficientes, têm maior influência nas decisões parlamentares e, quando governistas, têm força considerável para influir sobre nomeações e destinações de recursos definidas pelo Executivo.
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Os confrontos internos mais duros ocorrem na Câmara (leia mais), onde todos os 513 deputados estão em fim de mandato (no Senado, a renovação será de apenas um terço dos parlamentares) e a crise do mensalão destruiu muitas reputações. Se antes era um problema apresentar-se como deputado federal em busca de reeleição, o desafio tornou-se ainda maior agora, em razão do descrédito no qual a Casa e grande parte dos seus integrantes foram lançados.
Conheça a seguir os principais personagens que se engalfinham nas batalhas em andamento.
PMDB
Em nenhuma bancada a disputa é mais acirrada do que no PMDB. Até agora, são cinco pré-candidatos, e não está afastada a possibilidade de surgirem novos nomes nos próximos dias. Com o apoio do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, o deputado Geddel Vieira Lima (BA) ameaça romper a hegemonia da ala governista e impedir o retorno do ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira (CE) à liderança do partido. Por fora, corre o atual líder Wilson Santiago (PB), que tenta compensar a falta de expressão política com juras de fidelidade ao governo.
A possibilidade de Eunício voltar ao cargo não é vista com bons olhos pelo governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, pré-candidato ao Planalto. O cearense foi ameaçado de ser expulso do partido porque se recusou a deixar o governo mesmo com a decisão do PMDB de romper com Lula. Discretamente, Rigotto flerta com Geddel e com o ruralista Waldemir Moka (MS).
Ex-presidente nacional do partido, Jader Barbalho (PA) tenta emplacar a indicação do primo, o deputado José Priante (PA), em troca da manutenção de seu apoio ao Planalto. Longe da tribuna e da imprensa, Jader tem sido um importante aliado do governo, sobretudo quando é necessário enfrentar votações delicadas. Em troca, encheu as repartições federais do seu estado de afilhados políticos. Priante, aliás, também ocupa atualmente uma função estratégica. É relator setorial de Infra-Estrutura na Comissão Mista de Orçamento.
PSDB
A influência dos pré-candidatos à presidência da República na definição dos líderes é explícita na bancada do PSDB na Câmara. Com a indicação de Jutahy Júnior (BA), o prefeito de São Paulo, José Serra, tenta reverter a rejeição dentro da bancada. Enquete realizada há duas semanas aponta o governador paulista Geraldo Alckmin como o favorito dos deputados federais tucanos para concorrer com Lula.
Enquanto isso, Alckmin tenta dar fôlego à sua candidatura, ainda em baixa nas pesquisas de intenção de voto, com a ascensão do deputado João Almeida (BA) à liderança. Embora negue qualquer alinhamento com o governador, Almeida brinca com a identificação do colega com Serra. “O Jutahy é declaradamente Serra até a alma. Minha posição é de mais equilíbrio. Ambos são dois bons candidatos”, despista. “Os governadores realmente pressionam”, admite.
PSB
Entre os partidos menores, o PSB é o que tem a disputa mais acirrada. Paulo Baltazar (RJ), Isaías Silvestre (MG), Beto Albuquerque (RS) e Doutor Ribamar (MA) já se lançaram à disputa do cargo. Nesse quadro de indefinição, Albuquerque desponta como o mais forte, por ser vice-líder do governo na Câmara. Mas o nome dele pode perder força caso prevaleça o desejo de parte da bancada de partir para uma posição mais independente em relação ao Planalto.
PDT
No PDT, a disputa se dá entre o atual líder, Severiano Alves (BA), candidato à reeleição, e o ex-ministro Miro Teixeira (RJ). Severiano conta que já tem o apoio de 14 dos deputados da bancada na Câmara e se vale do discurso de oposição ao governo. Filiado ao partido entre 1989 e 2004, Miro tem contra si o fato de ter deixado a legenda para ocupar o Ministério das Comunicações, entre janeiro de 2003 e janeiro de 2004. Antes de voltar ao partido, peregrinou pelo PT e pelo PPS.
PP
Um dos partidos mais atingidos pelo escândalo do mensalão, o PP fica entre o governista Francisco Dornelles (RJ), que chegou a ser cotado para ser ministro de Lula, e o “independente” Júlio Lopes (RJ). Ambos são vice-líderes do partido e são os únicos candidatos declarados, até aqui, à sucessão de José Janene (PR), parlamentar que responde a processo no Conselho de Ética.
PL
No PL, o nome mais forte no momento para substituir o líder Sandro Mabel (PL-GO) é o de Lincoln Portela (MG). Ligado aos deputados da Igreja Universal e ao ex-deputado Bispo Rodrigues (RJ), conta com o expressivo apoio da bancada evangélica para comandar o partido na Câmara. A vaga, no entanto, também é cobiçada por Luciano Castro (RR), presidente da Comissão de Meio Ambiente, e Miguel de Souza (RO), primeiro-vice-líder do partido. A decisão deve ser anunciada ainda esta semana após reunião da bancada com o presidente da legenda, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP).
PT
Temendo abrir uma polêmica que poderia aumentar as fissuras de uma agremiação bastante castigada pela crise política, o PT apressou-se a manter o seu líder na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS). Ainda busca consenso, porém, em torno da senadora Ana Júlia Carepa (PA) para representar a bancada no Senado. Alguns senadores preferem a volta de Ideli Salvatti (SC), que liderou o partido em 2004. Desgastada com a defesa incondicional ao governo Lula, ela resiste à idéia e tenta oferecer o seu nome na disputa pelo governo de Santa Catarina.