Pedro Cardoso da Costa *
Em 2013, os chamados movimentos sociais tomaram conta das ruas do Brasil, seguindo uma tendência mundial em anos anteriores, cujo marco inicial se dera no Egito.
Como sempre, no começo das manifestações houve desdém das autoridades, considerando o número de participantes como “uns poucos gatos-pingados”. Com o crescimento contínuo e chegando aos patamares de milhões de pessoas, jornalistas e especialistas das mais diversas áreas sociais ficaram perplexos, buscando justificativas e explicações para a dimensão gigantesca a que as manifestações chegaram.
Acostumado com as críticas, muitas delas justas, de ser um povo acomodado, o brasileiro gostou da experiência de extravasar suas decepções engasgadas há séculos.
Daí em diante, surgiram os “especialistas” a apontar falhas e vícios no processo de organização, numa tentativa explícita de desmoralizar ou diminuir a relevância de uma imensidão de gente insatisfeita.
Alegavam ilegitimidade porque eram como boiadas, seguindo seus guias, como se fosse possível juntar tanta gente sem planejamento e coordenação de alguém. Depois, passaram a argumentar a falta de objetivos definidos, concretos. Aos críticos pouco importava se os argumentos deles eram inconsistentes, mas buscavam desmoralizar a todo custo o levante popular.
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Não faltava causa definida coisa nenhuma. Naquele momento inicial, o objetivo principal era extravasar uma insatisfação geral, pois os problemas sociais do país eram, e ainda continuam sendo, generalizados. Agora, com maior gravidade do que naquele período.
Com o início conturbado do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, recrudesceu o gostinho brasileiro de ir às ruas e o resultado é de conhecimento de todos. O primeiro poste de Lula foi à lona.
Concomitante veio o apoio irrestrito à Operação Lava-Jato e a derrubada de gente graúda, uma atrás da outra. Foram-se a presidente da República, o todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados e ministros do atual governo, todos caindo como pedras de dominó.
Já na contramão de todos esses resultados, sumiram os chamados movimentos sociais e as manifestações de rua. Por mais que fosse negado nas palavras dos líderes, passou-se a impressão de que as poucas manifestações ocorridas no presente ano constituíam partidarização, com o único objetivo de derrubar pessoas específicas, em detrimento da defesa de causas, de valores e de princípios éticos.
Não se pode permitir a omissão dos movimentos sociais. Será preciso definir algumas causas para defendê-las de forma contínua, até se alcançar resultados práticos. Por exemplo, acabar com o voto obrigatório, diminuir a quantidade de prefeituras, de vereadores, de deputados, melhorar a forma de escolha de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Também traria um benefício enorme à população se fossem fulminadas de vez regalias absolutamente inconsistentes como moradia para parlamentares e funcionários públicos do alto escalão. Acabar de vez com carros oficiais, motoristas, garçons, verbas de gabinete, auxílio de tudo.
Não tem como manter gente nas ruas o tempo todo, mas esse show tem de continuar. Que reapareçam os movimentos sociais.
* Pedro Cardoso da Costa é bacharel em Direito.