Depois de contestar o presidente Lula sobre o mensalão e sugerir ao petista que lesse o relatório parcial da CPI dos Correios, o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), diz que as investigações estão próximas de apontar os mandantes do esquema operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. “Os mandantes vão surgir claramente”, diz o senador em entrevista ao jornal O Globo.
Segundo Delcídio, não importa o nome que o esquema tenha ou se os pagamentos eram regulares ou não, o fundamental é que houve crimes, “uma coisa mais ampla, ao sabor dos interesses políticos partidários”, e os responsáveis serão indiciados.
“Mensalão é uma palavra midiática criada pelo Roberto Jefferson, mas não necessariamente seriam pagamentos iguais e num mesmo dia de cada mês. É uma coisa mais ampla, ao sabor dos interesses políticos partidários”, diz ao Globo. “Mas essa moda não surgiu com o PT. É uma prática de outros governos e de outros partidos. Infelizmente, esse esquema ficou explicitado no atual governo. Mas é uma tecnologia antiga que já vinha sendo aplicada há muito tempo”, pondera.
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Na avaliação de Delcídio, as empresas que figuram como fontes privadas das contas de Valério tinham interesses no governo. “Existiriam interesses não apenas de caráter comercial, mas de se aproximar do governo. As ações foram nesse sentido.” Como exemplo, o presidente da CPI cita os casos dos bancos BMG e Rural, que participaram das operações de empréstimo do valerioduto.
“Havia o interesse dessas instituições de se aproximar do governo na busca de viabilizar novos negócios e resolver questões pendentes como o caso do Banco Mercantil de Pernambuco (no qual o Rural tinha interesse). Existem outros casos semelhantes que mostram que havia o interesse de se aproximar do governo em busca de perspectivas comerciais.”
De acordo com o senador, a CPI não vai se limitar às investigações e vai apresentar medidas legislativas de combate à corrupção. “Entre essas normas, temos não apenas projetos para atacar a lavagem de dinheiro como também para apresentar sugestões e propostas que melhorem os controles do sistema financeiro. Ficou claro que não há integração forte entre os diferentes órgãos de controle do governo. Existiram saques e movimentações absurdas e o Estado não dispõe de mecanismos que criem as condições necessárias para acompanhar, fiscalizar e promover integração entre esses órgãos”, diz.