22 de junho de 2017. Todo o Brasil foi testemunha do trágico acidente de trânsito envolvendo um caminhão e um ônibus, acontecido em uma rodovia do Espírito Santo. A alma de cada brasileiro chorou a cena das dezenas de vítimas carbonizadas, espalhadas pelo asfalto.
Em poucas horas, antes mesmo do sepultamento das pobres vítimas, o culpado já havia sido identificado, qual o responsável por um caminhão que trafegava com pneus vencidos e excesso de peso, saindo de sua faixa e atingindo o ônibus que vinha em sentido contrário.
Aconteceu, em seguida, aquele ritual tão conhecido dos brasileiros: a dor das cerimônias fúnebres, o início dos longos processos judiciais envolvendo a responsabilização civil e criminal e a espera por um novo e ainda mais trágico acidente em nossas rodovias.
Sempre foi assim, aqui no Brasil: morrem alguns, em acidentes detalhadamente narrados e fotografados pelos jornais nos dias seguintes. Logo outras notícias aparecem, o caso cai no esquecimento e tudo volta ao normal – menos para as vítimas e suas famílias, claro – até a tragédia seguinte.
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Curiosamente, quase ninguém se lembra de incluir neste “rol de culpados” aqueles que talvez sejam os maiores responsáveis: quem, por ação ou omissão, movido pela ganância, deixa este país de dimensões continentais refém de uma certa “opção rodoviária”.
PublicidadeVá a qualquer lugar desenvolvido do mundo e descubra que via de regra jornadas como a que faziam as vítimas daquele acidente são feitas a bordo de trens – como por ferrovias ou navios vai a esmagadora maioria das cargas.
Essa “opção rodoviária” do Brasil, tal qual uma tartaruga no alto de uma árvore, com certeza não é obra do acaso – e surpreendentemente pouco dela tratamos como mundo das leis ou sociedade organizada.
Enquanto isso, contemple com olhos de ver, pelos jornais, as fotos daqueles assassinados no altar da ganância humana, digo, das vítimas daquele infeliz acidente. Amanhã, por conta da ação de poucos e da omissão de muitos, talvez lá estejam nossos amigos ou familiares. Ou eu. Ou você.