Atrás de José Serra em todas as pesquisas de intenção de voto para concorrer à presidência da República, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, partiu para o confronto e valeu-se da indefinição do prefeito paulistano para reverter o quadro que lhe era desfavorável e ser anunciado ontem como candidato do PSDB à sucessão presidencial. O anúncio, marcado pela ausência de Serra, ocorreu um dia após o prefeito assumir, pela primeira vez, que aceitaria disputar as eleições presidenciais desde que seu nome fosse consensual.
Pré-candidato declarado há quatro meses, Alckmin não abriu mão de sua candidatura e ameaçou levar a disputa para a convenção partidária. Sem o apoio da cúpula tucana, Serra divulgou uma nota na qual atribui sua desistência ao seu “senso de responsabilidade política”, que o teria levado a “colocar acima de qualquer aspiração pessoal” o objetivo comum de dar um novo rumo ao país. O mais cotado para compor a chapa com o governador é o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).
A ausência do prefeito na solenidade em que o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), confirmou a indicação de Alckmin sinalizou que o PSDB ainda terá de curar as cicatrizes formadas ao longo de quatro meses de intensa disputa interna. "Serra não ficou zangado, não ficou chateado. Ele ficou muito triste. Ele queria concorrer. Por isso, seu desprendimento foi tão grande", disse Tasso.
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"A disputa era um risco muito grande para o partido. Ele (Serra) já tinha suas dúvidas. E queria de nós a confirmação ou a ‘desconfirmação’. Porém, compartilhamos da mesma avaliação do prefeito (de que a prévia seria ruim para a unidade do partido)", contou o senador.
Durante a cerimônia, o governador fez afagos ao prefeito. “Um dos mais preparados homens públicos desse país”, destacou Alckmin, “que num gesto de desprendimento nos permite, nessa unidade partidária, iniciar uma grande mobilização nacional pela mudança”.
Bandeira da ética
Em seu discurso, o governador de São Paulo disse que pretende empunhar durante sua campanha as “bandeiras da ética, da seriedade e da competência”. “Recebo essa indicação com humildade, para ser um instrumento do povo para a mudança”, afirmou o candidato, prometendo conduzir o Brasil para o caminho do desenvolvimento. Com perfil mais conservador do que o de seu adversário, Alckmin era o nome preferido do empresariado do estado mais rico do país.
"O Brasil não agüenta mais essa onda de corrupção que assolou o país, o país sem projeto, com crescimento raquítico, um marasmo verdadeiro, num mundo marcado pela mudança e pela rapidez das coisas", completou.
Enquanto Serra se isolava na sede da prefeitura, subiam no palanque para dar apoio a Alckmin os governadores Aécio Neves (MG), Marconi Perillo (GO), Lúcio Alcântara (CE), Cássio Cunha Lima (PB) e Simão Jatene (PA).
Depois do anúncio formal, realizado na sede do diretório estadual do PSDB, o governador paulista foi recebido por Serra no início da noite na sede da prefeitura. Os dois tomaram café e conversaram reservadamente por quase duas horas. Não está descartada a possibilidade de o prefeito disputar em outubro a sucessão estadual. O vice-governador, Cláudio Lembo (PFL), que assume o cargo a partir do próximo dia 31, já avisou que não pretende entrar na disputa.
Aposta na divisão tucana
Mesmo admitindo que Alckmin poder ser uma surpresa, pois ainda é pouco conhecido nacionalmente, o governo não deixou de comemorar o clima de divisão entre os tucanos, o que pode facilitar a reeleição de Lula. Para o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), os tucanos saem enfraquecidos da disputa interna, por terem revelado a fissura existente no partido.
A estratégia para vencer o candidato do PSDB, segundo o deputado, será vincular a imagem de Alckmin às privatizações feitas durante o governo FHC. “Vamos lembrar que o PSDB foi o governo das privatizações e vamos vincular a imagem de Alckmin com o risco da volta das privatizações. Ele pode querer agora privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal. Afinal, as privatizações são a marca registrada dos tucanos”, disse.
Os petistas ainda apostam nas pesquisas de opinião pública. Segundo o último levantamento divulgado pelo instituto Datafolha, Serra teria 43% das intenções de voto no segundo turno, contra 48% de Lula. O desempenho de Alckmin é mais fraco: 35% para o tucano contra 53% do presidente. “Alckmin é um adversário respeitável. Mas deve perder. Até porque Lula tem popularidade nacional, o que o governador não tem. Ele é mais paulista”, observou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).
O vice-líder do PT na Câmara deputado Luciano Zica (SP) disse que Alckmin chega à disputa com ligeira vantagem sobre Serra e Lula. Na avaliação do deputado, um governador sofre menos cobranças da sociedade do que um prefeito ou um presidente da República.
“A população não cobra do governador. Ela cobra tudo, saúde, educação, segurança do prefeito. Ela cobra tudo isto e mais a política macroeconômica do presidente da República. A situação de Alckmin é mais confortável nesta eleição”, afirmou Zica. O discurso cauteloso também foi repetido pelo ministro da Integração Nacional, Jaques Wagner. “Adversário não se escolhe”, disse.