Mário Coelho
O ministro do Esporte, Orlando Silva, admitiu nesta quarta-feira (23), em audiência na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, que o Estado tem dificuldade em intervir na atuação de entidades esportivas. Questionado sobre a limitação dos mandatos de dirigentes esportivos, o titular da pasta disse que o governo pode vir a pedir contrapartidas, desde que haja dinheiro público envolvido. “A mera apresentação da sugestão já apresentou polêmica”, disse o ministro.
Orlando Silva apresentou as prioridades da pasta para os quatro anos do governo de Dilma Rousseff. O requerimento para realização do debate foi apresentado pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). De acordo com o ministro, de 1941 até 1988, quando foi promulgada a atual Constituição Federal, havia uma forte presença do Estado na área esportiva. Com a nova Carta Magna, foi criada a autonomia para entidades de administração (confederações, federações, ligas) e de prática esportiva (clubes).
“Isso determina que as entidades tenham autonomia, coloca um limite para a intervenção do estado”, disse, ao responder questionamento do senador Wellington Dias (PT-PI). O petista citou como exemplo o comando da Federação Piauiense de Futebol. O atual presidente da federação, Cesarino Oliveira Sousa, só consgeuiu tomar posse após ordem judicial. Ele havia perdido a eleição para o então presidente, Luís Joaquim Lula Ferreira. “Quando houver financiamento público, o governo poderia estimular contrapartidas”, afirmou o ministro. Em entrevista dada no fim do ano passado, Silva disse que as entidades esportivas deveriam ter uma dinâmica “mais democrática e participativa”.
No entanto, a hipótese de limitar o mandato de presidentes de confederações e federações é rechaçada pela maioria dos dirigentes esportivos. Gesta de Melo, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), está no poder há 24 anos. Já Ricardo Teixeira preside a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desde 1989. O cartola enfrentou duas CPIs, uma na Câmara e outra no Senado, sem sair do cargo. Uma das exceções é Carlos Nunes, presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Após tomar posse, mudou o estatuto da entidade para permitir apenas uma reeleição.
Denúncias
O ministro disse também que sofreu uma “campanha” contrária da imprensa por conta de recentes denúncias envolvendo o programa Segundo Tempo. Menina dos olhos da pasta, a iniciativa tem como objetivo “democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens”. No entanto, veio à tona o uso do programa para beneficiar políticos do PCdoB, mesmo partido de Orlando Silva. “O que fizeram foi trabalhar ilações sobre esse programa”, disse.
Para o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que questionou o titular da pasta sobre as denúncias, “há muita coincidência”. “Parece que só o PCdoB tem competência”, ironizou. Porém, Silva relatou que, em alguns casos, os convênios de organizações com filiados ao PCdoB nas diretorias foram estabelecidos ainda no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Um dos exemplos, segundo ele, é a Federação das Associações de Moradores do Estado do Piauí (Famepi). “Eles têm convênios há 15 anos com o ministério”, disse.
Sobre a Copa do Mundo de 2014, Orlando Silva voltou a garantir que o futuro estádio do Corinthians, que ainda não saiu do papel, será a praça esportiva de São Paulo. “O que vi foi a palavra do prefeito e do governador de São Paulo garantindo a construção em Itaquera”, disse o ministro, citando reunião entre o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e a presidenta Dilma Rousseff durante o carnaval. Ele disse que, para viabilizar a obra, localizada no bairro Itaquera, o Corinthians vai usar um fundo imobiliário.