Fábio Góis
Na iminência de mais uma derrota no Plenário do Senado ? a aprovação da MP 517/2010, que reúne 19 temas de interesse do governo ?, a oposição resolveu matar a fome depois de quase seis horas de críticas. Para o cardápio, a iguaria que virou símbolo da força governista no Congresso: pizza. No caso em questão, sabor Palocci, por encomenda do senador Cyro Miranda (PSDB-GO) ? referência às frustradas tentativas oposicionistas de abrir uma CPI para investigar a evolução patrimonial do ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci (20 vezes em quatro anos, em período que conflita com o exercício de seu mandato como deputado federal).
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?Nós estamos mostrando o que o governo gostaria em que terminasse [o caso Palocci]. Aliás, antigamente terminava [em pizza]; hoje começa. Estamos mostrando o que o governo queria que acontecesse?, disse Cyro ao Congresso em Foco, negando que o ato significava a desistência da oposição em investigar Palocci. Provedor do ?jantar? servido no Cafezinho do Plenário ? sala de refeições anexa ao palco das deliberações ?, Cyro lembrou a manobra feita hoje (quarta, 1º) por deputados da oposição, diante do cochilo governista.
?Nós continuamos lutando. Tanto é que a Câmara conseguiu hoje convocá-lo na Comissão de Agricultura. E nós vamos tentar na Comissão de Constituição e Justiça, não vamos desistir. Quem não deve, não teme, e nós estamos sentindo que há alguma coisa de podre no Reino da Dinamarca. E essa Dinamarca está na América do Sul, aqui no Brasil?, ironizou o senador tucano.
Cinco caixas de pizza tamanho gigante foram servidas. Além do sabor Palocci, senadores também degustaram a ?Luiz Garçom? (referência maldosa à suposta inabilidade de articulação parlamentar do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio) e as variações que foram da ?MP 501? até a ?MP 1899? ? referências à quantidade de excessos apontados pela oposição na edição de medidas provisórias, instrumento legislativo por meio do qual o Executivo submete matérias de seu interesse ao Congresso. O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), também falou à reportagem da ?fome? àquela hora da noite (já passava das 21h) e do ?simbolismo? do gesto.
?São as pizzas do momento. Em função da monumental máquina de blindagem que o governo manipula, a expectativa é sempre de que pizza é o resultado final de nossa luta, de nosso enfrentamento aqui?, observou o parlamentar paranaense, também negando que a pizza é analogia de desistência oposicionista. ?É uma demonstração de que a oposição tem vontade de comer a pizza e dar consequência às suas ações aqui, no sentido de responsabilizar o ministro se eventualmente os ilícitos forem confirmados.?
Confidencialidade
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo em 15 de maio, em 2006 Palocci tinha patrimônio de R$ 375 mil, segundo sua declaração à Justiça Eleitoral. Fundou a empresa de consultoria Projeto com sua mulher. Em 2009, adquiriu um escritório de R$ 882 mil nos Jardins em São Paulo. No final do ano passado, comprou um apartamento de R$ 6,6 milhões nas proximidades. Com patrimônio de R$ 7,8 milhões, o valor dos bens de Palocci teve um salto de 1.995% em quatro anos.
A firma do ministro mudou de ramo em 2010. De consultoria, passou a administrar os dois imóveis na área nobre paulista que, juntos, somam R$ 7,4 milhões. Segundo a nota da Casa Civil, a mudança de ramo aconteceu para evitar conflitos de interesse com a função de ministro do governo de Dilma Rousseff.
O Ministério Público Federal abriu procedimento para apurar a evolução de patrimônio. Palocci alega que cláusulas de confidencialidade registradas em contratos o impedem de revelar quem pagou pelos seus serviços.
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