A oposição no Senado pediu hoje (29) ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que o governo brasileiro conceda asilo político no Brasil ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. Os senadores oposicionistas argumentam que, em território brasileiro, o presidente deposto teria condições mais favoráveis para entrar em diálogo com os golpistas e tentar retornar ao poder.
Segundo o líder do DEM, José Agripino (RN), há um risco permanente de violência com a manutenção de Zelaya na embaixada brasileira em Tegucigalpa. “Há um golpe em curso, mas o Brasil entrou como avalista de hostilidade. O perigo de conflito é permanente”, afirmou Agripino.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também defendeu a concessão do asilo no Brasil. Segundo ele, a manutenção do presidente deposto na embaixada brasileira pode dar a entender que há uma “ingerência” do governo do Brasil em um assunto interno. Virgílio propôs ainda que as eleições hondurenhas sejam realizadas em dezembro sem a participação de Zelaya.
O ministro Celso Amorim discordou dos argumentos levantados pela oposição. Segundo ele, Zelaya não solicitou asilo ao Brasil, nem um salvo-conduto para deixar com segurança a embaixada brasileira com destino ao Brasil.
Favorece o diálogo
O chanceler disse que deixar o presidente deposto na embaixada brasileira favorece o diálogo com o governo golpista de Roberto Micheletti. Amorim lembra que Micheletti se negou a aceitar o plano proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, para restabelecer a democracia em Honduras. De acordo com essa proposta, o presidente deposto retomaria o poder, continuaria proibida sua reeleição, e as eleições de dezembro seriam realizadas normalmente.
O ministro brasileiro afirmou que existem sinais de diálogo nos próximos dias. Em 2 de outubro, os golpistas devem receber a missão precursora da Organização dos Estados Americanos (OEA), que antes havia sido barrada pelo regime de Micheletti. No dia 7, chega o secretário geral da entidade, José Insulza.
Amorim criticou os questionamentos sobre a atuação do Brasil no episódio. “Não há esse debate na comunidade internacional. Ninguém questiona com essa paixão que há no Brasil.”
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Controvérsia
Embora a Câmara dos Deputados tenha chegado a aprovar uma moção de repúdio contra o governo golpista de Honduras, pelos ataques feitos na semana passada à embaixada brasileira, onde se encontra Zelaya, vários parlamentares – inclusive da base governista – fazem muitas críticas à maneira como o Brasil está conduzindo a questão. No dia seguinte ao cerco à sede diplomática, a CRE do Senado aprovou moção contra a ação militar.
Até mesmo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos principais aliados do presidente Lula no Congresso, chegou a dizer que discordava da transformação da embaixada em um “comitê político”, no qual Zelaya e seus seguidores planejam a estratégia para voltar ao poder.
O presidente da CRE do Senado, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), quer colocar ainda hoje em votação na comissão proposta para que seja recomendado ao governo brasileiro que sejam retirados da embaixada as dezenas de seguidores que acompanham o presidente deposto, de modo que ali permaneçam apenas Zelaya e sua família.
A Comissão de Relações Exteriores da Câmara também discutiu o assunto, pela manhã. Seus integrantes decidiram enviar uma comitiva a Honduras para avaliar de perto a situação.