Membros da oposição estão divididos quanto à conveniência de convocar o banqueiro Daniel Dantas para depor no Congresso sobre as pressões que ele diz ter recebido do PT e do governo Lula. O empresário baiano conta que foi chantageado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. “O que houve foi uma sugestão de que, se déssemos uma quantia expressiva ao partido, eles poderiam nos ajudar a resolver as dificuldades que estávamos tendo com o governo”, disse ele à revista Veja, referindo-se à falta de apoio que encontrou na administração Lula para permanecer no controle da Brasil Telecom (BrT).
Na última quinta-feira, o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), chegou a divulgar a data em que Dantas seria ouvido: a próxima quarta-feira, 17. Agora, está em dúvidas. Ele teme que o depoimento seja tão inútil quanto o dado na última quarta (10) pelo ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. Silvinho, depois de revelar ao jornal O Globo novos e bombásticos detalhes sobre o funcionamento do valerioduto, mais confundiu do que explicou ao ser questionado pela comissão.
Na mesma quarta-feira, vieram a público documentos em que o Opportunity formalizou, em processo que tramita na Corte de Nova York, a acusação de que foi pressionado a repassar “dezenas de milhões de dólares” ao PT para garantir a preservação em suas mãos do controle da BrT. Integrantes da oposição pensaram até em pedir a instalação de uma CPI para aprofundar a investigação do assunto. Agora, não sabem sequer se vale a pena chamar Dantas para falar na CPI dos Bingos.
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O problema está nas controvérsias que envolvem o banqueiro, que é protagonista há seis anos daquele que é considerado o maior conflito societário da história brasileira. Ele põe em confronto o dono do Opportunity, os principais fundos de pensão do país e, mais recentemente, o Citibank. Ex-aliado de Dantas, o grupo norte-americano sentiu-se lesado por negócios feitos pelo banqueiro e hoje busca na Justiça nova-iorquina indenização pelos prejuízos que Dantas lhe causou.
No centro da disputa, o controle da terceira maior operadora brasileira de telecomunicações, a Brasil Telecom, de cujo comando o Opportunity foi afastado em setembro do ano passado. Desde então, os novos diretores da empresa têm trazido a público fartas acusações de irregularidades cometidas pelos antigos administradores. Denúncias feitas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) indicam que os atos irregulares trouxeram aos acionistas da BrT danos financeiros superiores a R$ 500 milhões.
Outro ponto polêmico da trajetória empresarial de Dantas, que responde no momento a dezenas de processos movidos por sócios e ex-parceiros comerciais, é sua participação na privatização feita durante o governo Fernando Henrique. Diálogos entre membros do antigo governo, grampeados ilegalmente e revelados pelo jornal Folha de S. Paulo, sugerem a existência de um esquema para favorecer o Opportunity na venda das companhias estatais de telefonia.
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