Integrantes da oposição não descartam pedir a criação de uma CPI no Congresso para investigar o uso dos cartões corporativos pela Presidência da República. O assunto ganhou força ontem, após a divulgação de que os cartões foram usados na comprar 280 lanches, que somaram R$ 2.212, para um comício do presidente Lula em Jacareí (SP), em setembro, durante a campanha eleitoral.
"Se não tivermos as explicações necessárias, precisamos de uma CPI para abrir o cadáver (dos cartões corporativos) e dizer o que está sendo feito dele", enfatizou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).
O líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio (AM) encaminhou um requerimento à Mesa para cobrar explicações formais da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A primeira informação é de que os lanches teriam sido distribuídos a militantes do PT. O Planalto comunicou, no entanto, que a comida foi entregue a seguranças oficiais do presidente.
"A quantia é irrisória, mas o problema é que ninguém dentro do governo diz que isso é proibido. Os cartões corporativos exprimem a mistura do público com o privado nesse governo", criticou Virgílio.
Leia também
O uso dos cartões tem sido um dos principais alvos da oposição contra o governo. No mês passado, parlamentares do PSDB e do PFL foram ao Tribunal de Contas da União (TCU) cobrar informações sobre o uso do dispositivo pela Presidência, mas não obtiveram resposta.
As suspeitas de uso ilícito dos cartões começou no ano passado, quando o tribunal encontrou indícios de que notas frias teriam sido usadas para justificar gastos do Planalto. Os cartões corporativos foram criados durante o governo Fernando Henrique Cardoso para despesas consideradas imediatas e, segundo disse Lula no debate da TV Bandeirantes antes do segundo turno, "foi a única coisa boa que o Fernando Henrique fez no governo".
Bastos diz não ver prejuízos se CPI acabar antes
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse ontem que a CPI dos Sanguessugas contribuiu o suficiente para desvendar a máfia das ambulâncias. Ele afirmou ainda não ver prejuízos caso os trabalhos da comissão sejam encerrados antes do previsto.
"Acredito seguramente que a CPI chegará a um termo final. Ela vai apresentar seu relatório e vai prestar uma relevante contribuição para a sociedade", declarou o ministro à Agência Brasil.
Bastos evitou, porém, comentar sobre o momento morno vivido pela comissão após as eleições. "É natural que a temperatura alta, as licenças poéticas ocorram durante a campanha", disse.
Natimorta
Na semana passada, o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), disse estranhar a postura da oposição e do governo, que, segundo ele, parecem ter perdido a vontade de investigar. "É de se estranhar que a oposição de tigre tenha virado gatinho e o governo tenha se tornado um poço de gentileza."
A crítica foi em relação aos depoimentos dos ex-ministros da Saúde Humberto Costa e Saraiva Felipe, ambos do governo Lula, na semana passada. A expectativa era que os oposicionistas aproveitassem a oportunidade para intensificar a investida sobre os aliados, mas audiências foram esvaziadas justamente por integrantes da ala adversária ao Planalto.
A CPI, que começou sem nenhum apoio mas ganhou força pouco antes das eleições, agora corre o risco de terminar com um relatório aquém do esperado. A idéia era investigar a ligação das prefeituras com o esquema dos sanguessugas. Agora, será lucro se forem incluidos no texto, além dos parlamentares acusados de participação na fraude, indícios parciais contra prefeitos e o Ministério da Saúde. "Mas vai haver relatório, isso pode ter certeza", afirmou Jungmann na última quarta-feira.