Depois de verificada a indefinição sobre os rumos da CPI do Cachoeira, cujas atividades serão encerradas no próximo domingo (4) caso não haja prorrogação, membros do colegiado partiram para o ataque à base do governo, que detém o comando dos trabalhos. Sem menções diretas a presidente e relator da comissão, respectivamente Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Odair Cunha (PT-MG), defensores da prorrogação de 180 dias para a conclusão dos trabalhos soltaram o verbo contra governistas.
Parlamentares não se entendem sobre rumos da CPI
Para o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), quem defende prorrogação de 48 dias – uma das quatro alternativas suscitadas hoje [terça, 30] em reunião – não quer o avanço dos trabalhos. “Não teremos tempo para receber as informações correspondentes à quebra de sigilo de 29 empresas que tiveram movimentação financeira atípica com a empresa Delta. Não há como avançar nas investigações – portanto, é o fim da CPI”, sentenciou o tucano.
Leia também
Parlamentares rechaçam acordo para encerrar investigações
Documentada, CPI do Cachoeira produz pouco
Leia tudo sobre o caso Cachoeira
Segundo Alvaro, a oposição já preparou relatórios parciais sobre a CPI do Cachoeira, documentação que precisa apenas ser compilada em um material geral. E, caso o comando da CPI de fato não prorrogue o seu funcionamento, vai recorrer aos órgãos competentes. “Vamos indicar as empresas que ainda não foram investigadas e protocolar uma representação na Procuradoria Geral da República”, advertiu o tucano, acrescentando que os oposicionistas membros da comissão têm à disposição “farto material recolhido” desde maio, quando foi instalada a CPI.
Já para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), membro de postura independente da base aliada, não adianta prorrogar prazos sem um foco investigativo. Mesmo se, na opinião do pedetista, o prazo máximo de 180 dias for aprovado. “De repente, é pouco. Se nós entrarmos em uma conversa, com um calendário pré-concebido, sem conhecer o mérito que pode levar a essa discussão, não vamos chegar a lugar algum”, observa.
“É preciso colocar as instituições de Estado para funcionar articuladas – Polícia Federal, Ministério Público e CPI. Se conseguirmos isso, é uma grade vitória”, arrematou o parlamentar fluminense.
“República dos relatores”
Para o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PPS), governistas trabalham nos bastidores pelo enterro da CPI. Ao definir as claudicações no comando da comissão, Bueno classificou os desencontros de informação como “república dos relatores”.
“Então, para quê Congresso? Toda a base do governo está indicando os 48 dias. E nós queremos investigar até quebrar os sigilos daquelas empresas laranjas e, a partir daí, fazer o relatório final. Nem isso eles querem – há dois meses a CPI não se reúne, não investiga nada”, acusou o deputado, acrescentando que, como a oposição havia “denunciado lá atrás”, trata-se de um acordo para sepultar as investigações. “O PT, o governo e a sua base, não deixam investigar. É um brinde à impunidade! O Parlamento se desmoraliza, mais uma vez, pelas mãos dos próprios parlamentares.”
Ainda segundo Bueno, membros da CPI descontentes com os rumos dos trabalhos vão elaborar “voto em separado” a ser entregue o Ministério Público, para as devidas providências. “Cadê o governador [do Rio de Janeiro] Sérgio Cabral? E a [empresa] Delta? E os R$ 400 milhões que foram levados às campanhas eleitorais de 2010? Infelizmente, o Congresso está abrindo mão de sua prerrogativa de investigar”, questionou o parlamentar paranaense, referindo-se, entre outras provocações, à relação entre o governador e o empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta Construções, epicentro das negociatas operadas pela quadrilha de Cachoeira.
Mas, para o relator da CPI, nada há de errado na comissão. “Queremos um tempo para debater com tranquilidade, transparência, todos os pontos de nosso relatório. Por isso, estamos advogando a tese de que deve haver uma prorrogação, por pelo menos 48 dias”, ponderou Odair Cunha, lembrando que a prorrogação só pode ser formalizada depois de aprovada pelo Plenário do Congresso (votação com deputados e senadores). Para tanto, são necessárias 27 adesões de senadores e 171 de deputados.
Odair disse já ter relatório pronto sobre o caso Cachoeira. “Eu não recuso e não reclamo tempo para [apresentar] nosso relatório. Trabalhamos com prazo certo. O relatório está contundente e pode ser apresentado”, declarou, rejeitando as críticas de que a CPI não quer avançar. “Temos uma movimentação financeira de R$ 84 bilhões. Houve uma quebra de sigilo telefônico importante que está sendo analisada por nós. Ou seja, nós temos informações contundentes. Aqueles que dizem que a CPI não trabalhou, é porque não quiseram trabalhar.”
Veja o que já sabe a CPI, ou quase
O que a CPI fez de mais importante
Entenda a situação dos processos desdobrados do caso Cachoeira