A oposição no Senado conseguiu reunir nesta terça-feira (2), as 27 adesões necessárias para a criação da CPI dos Transportes. Caso seja instalada, a comissão parlamentar de inquérito investigará indícios de pagamento de propina e outros desmandos administrativos operados pelo PR junto ao Ministério dos Transportes, como tem sido noticiado em diversos veículos de comunicação nas últimas semanas. São 11 os nomes governistas a apoiar a CPI (confira a lista abaixo), considerando-se a senadora Kátia Abreu (TO), que está de saída do oposicionista DEM para o ainda não criado PSD – o partido tende a integrar a base assim que for formalizado junto à Justiça Eleitoral.
A partir da formalização do requerimento junto à Mesa Diretora, haverá conferência de assinaturas e, se não houver desistências, o documento será lido em plenário, para então serem iniciados os procedimentos de instalação. Nomes poderão ser excluídos até a meia-noite do dia em que a Mesa promover a leitura do requerimento, o que só acontecerá amanhã. Mas o responsável pela coleta de assinaturas, o líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), disse não temer a hipótese.
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“Foi um trabalho muito árduo”, disse o tucano, em referência à dificuldade para amealhar adesões junto à base aliada, que tem mais de 50 nomes entre os 81 senadores – considerando-se “rebeldes” como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), a oposição conta com cerca de 20 nomes, dos quais 10 do PSDB, 5 do DEM e 2 do Psol.
Para o senador paranaense, que leu há pouco em plenário o objeto do requerimento, os senadores que já se comprometeram com o pedido de instalação não passariam pelo “constrangimento” de retirar o apoio. “Temos a convicção de que muito dificilmente conseguirão convencer alguém a retirar assinatura, até porque todos os que assinaram pensaram muito antes de assinar. Assinaram até por uma questão de dignidade”, acrescentou o tucano.
Para Alvaro, mesmo entre os senadores governistas há um “espaço de indignação” acerca dos casos de corrupção, e isso foi o que garantiu o número preliminar de adesões da base. “Isso para a ideia de que há um mar de lama na Esplanada dos Ministérios. As denúncias se sucedem, os escândalos se repetem. É preciso dar um paradeiro nisso”, fustigou o senador, referindo-se ao “modelo promíscuo de loteamento de cargos” em todos os níveis da administração pública, uma “herança” deixada para a presidenta Dilma Rousseff pelo antecessor e padrinho político, Lula.
“Lixo” nos Transportes
PublicidadeO anúncio da parcial vitória oposicionista veio no dia em que o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, presidente nacional do PR, discursou no Plenário do Senado pela primeira vez sobre a crise desde que deixou o ministério, em 6 de julho. Dizendo não ter contado com o “apoio prometido” pela presidenta Dilma Rousseff em meio à crise, Nascimento disse que ele e seu partido não são “lixo” para serem apontados como os principais agentes da corrupção no ministério. Era uma referência à faxina ética, de execução reivindicada pelo Planalto, naquele ministério.
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Ainda de acordo com Alvaro Dias, a eventual criação da CPI da Corrupção, que envolveria outros ministérios, seria uma tarefa mais difícil. A vitória de hoje, acredita o senador, deve inviabilizar momentaneamente a obtenção de uma comissão de inquérito mais ampla, como insistem setores oposicionistas.
“Essa CPI [dos Transportes] pode fornecer uma fotografia do modelo espúrio, importante para destruir esse sistema [de corrupção]. Mas nós gastaríamos, diante de tantas denúncias em ministérios e empresas estatais, de instalar uma CPI da Corrupção. Se esse Parlamento estivesse vivendo seus grandes momentos, a instalação dessa CPI seria inevitável”, acrescentou.
Para o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), uma eventual criação de CPI neste momento não é boa “para ninguém”. Conhecido por seu poder de articulação no Congresso, ele nega a tese de que o Planalto não agiu com a devida eficácia junto à base para impedir as adesões para a CPI.
“O governo não falhou. O governo está agindo em contato com a base, mas cada senador ou senadora tem a sua liberdade de assinar. Nós explicamos que a CPI é um instrumento da oposição. Então, qualquer membro da base que assina está dando, na verdade, um instrumento para a oposição trabalhar. Não é isso que deve ocorrer em um embate político. A oposição tenta criar dificuldades para o governo, e a base apoia para que o governo possa trabalhar melhor”, discursou o peemedebista.
Confira a lista de adesões da CPI:
PSDB
Aécio Neves (MG)
Aloysio Nunes Ferreira (SP)
Alvaro Dias (PR)
Ataídes Oliveira (TO)
Cícero Lucena (PB)
Cyro Miranda (GO)
Flexa Ribeiro (PA)
Lúcia Vânia (GO)
Mário Couto (PA)
Paulo Bauer (SC)
DEM
Demóstenes Torres (GO)
Jayme Campos (MT)
José Agripino (RN)
Maria do Carmo Alves (SE)
PMDB
Pedro Simon (RS)
Roberto Requião (PR)
Jarbas Vasconcelos (PE)
Ricardo Ferraço (ES)
PP
Ana Amélia (RS)
Reditário Cassol (RO)
PDT
Pedro Taques (MT)
João Durval (BA)
Zeze Perrella (MG)
PSOL
Marinor Brito (PA)
Randolfe Rodrigues (AP)
PMN
Sérgio Petecão (AC)
SEM PARTIDO (futuro PSD)
Kátia Abreu (TO)
Rudolfo Lago: