Sônia Mossri |
As denúncias que pesam sobre o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, e o temor do governo de que as suspeitas atinjam o PT transformaram o PMDB no dique seguro que o Palácio do Planalto precisa para evitar que a inundação atinja o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o próprio presidente Lula. Desde que a revista Época divulgou, na última sexta-feira (13), conversas em que Waldomiro pedia dinheiro a um bicheiro para campanhas políticas do PT, os principais líderes do PMDB fazem de tudo para evitar a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) sobre o caso. Antes mesmo dos petistas, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), passou o fim de semana disparando telefonemas para os aliados, pedindo uma posição em bloco contra a CPI. O movimento não passou despercebido, ao ponto do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), ter feito a seguinte análise: “Isso vai sair caro para o governo”. Leia também Na verdade, o PMDB que sai em socorro do governo é um partido até aqui de mágoas depois da reforma ministerial. Os ministérios que ganharam do presidente Lula, Comunicações e Previdência, são motivo de decepção. A insatisfação aprofundou as divergências internas. A um mês da convenção do partido, os caciques do PMDB disputam mais espaço na executiva nacional. Tudo isso faz do apoio a Lula em um momento difícil uma moeda forte, disputada pelos principais líderes do PMDB, à frente Renan Calheiros, José Sarney e Michel Temer. Partilha interna O atual presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), movimenta-se nos bastidores para ser reconduzido ao cargo. Para isso, fez acordos com o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia (SP), e com o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. A idéia de Temer para permanecer na presidência do partido é repartir a executiva com todos os feudos. Assim, já combinou com o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) que o novo presidente do diretório estadual do Rio será Garotinho. Moreira Franco, que insiste em afirmar que continua na oposição, apesar de desfilar o tempo todo com Temer nas negociações para manter o PMDB unido, concordou em ceder o lugar para Garotinho. Depois de ficar no ostracismo nos primeiros meses do governo Lula, especialmente por ter brigado no PMDB para que o partido apoiasse o candidato tucano, José Serra, Temer faz de tudo para recuperar o tempo perdido. De olho no Supremo Não é mais segredo na Câmara e no Senado o próximo prêmio que parcela do PMDB espera receber do presidente Lula: a indicação de Temer para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Isso soa indigesto no PT e entre alguns dos principais colaboradores de Lula. É esperar para ver até onde vai o apetite e a capacidade do PMDB de conseguir presentes do governo por integrar a base de apoio. Nesse contexto, o caso Waldomiro virou uma grande vitrine da importância do PMDB e de seus líderes para Lula. Concorrência interna O problema de Temer é vencer a disputa com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e com o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL). Sarney e Renan não se bicam, mas fingem que se entendem. Ambos querem o controle do partido. Sarney sonha com a aprovação, pelo Congresso, de dispositivo que permitiria a sua reeleição para a presidência do Senado. O problema é que Renan e seus fiéis escudeiros temem o aumento do poder de Sarney, não apenas no partido, mas a sua inquestionável influência no governo Lula. Faz parte da rotina de Sarney conversar com Lula. Um pedido de Sarney é quase uma ordem, seja no Palácio do Planalto ou em qualquer ministério. Isso provoca ciúmes em Renan, que sonha com a presidência do Senado. O Planalto não aprecia uma eventual ida de Renan para a presidência do Senado. Lá, alguns assessores se referem a Renan como “chantagista” por causa das dificuldades criadas durante algumas votações no Senado com o único objetivo de pressionar o governo a dar cargos e ministérios ao PMDB. Ao assumir a linha de frente contra a instalação da CPI, Calheiros vê seu cacife no Palácio do Planalto subir. Sarney e Renan têm uma espécie de acordo cordial: caso Sarney não consiga a reeleição na presidência do Senado, ele aprovaria a eleição de Renan para o cargo e, em troca, receberia apoio para presidir o partido. |