Tarde de caos e tensão em Brasília. Como resultado, os ministérios da Agricultura, Planejamento e da Cultura foram incendiados, vários outros foram depredados, diversos manifestantes ficaram feridos e, na Câmara, parlamentares quase se estapearam. Na sequência, o presidente da República, Michel Temer (PMDB), publicou decreto que autorizou o uso das Forças Armadas para “restaurar a ordem”. Pelas contas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), passaram pela Esplanada, no ato intitulado #OcupaBrasília, cerca de 200 mil pessoas, muitas vindas de outros locais do país. Já nas contas da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal 45 mil pessoas participaram das manifestações (veja abaixo nota com o balanço mais atualizado feito pela SSP-DF).
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A Esplanada dos Ministérios foi palco de cenas de guerra e terror durante confronto entre policiais, que não hesitaram em reagir, e manifestantes, que mascarados tentaram ultrapassar a barreira dos PMs sem ser revistados. Diante do cenário de depredação e vandalismo, ministérios foram esvaziados. Até o início da noite, pelo menos sete pessoas foram detidas e cerca de 50 ficaram feridas – entre manifestantes e policiais militares.
Os milhares de manifestantes que marcharam desde o estádio Mané Garrincha até o Congresso Nacional protestavam contra as reformas Trabalhista e da Previdência e em defesa de eleições diretas antecipadas para presidência da República. O caos se instalou logo no início da tarde.
Diante do ocorrido no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, um dos incendiados, o ministro Blairo Maggi chegou a dizer, por meio do Facebook, que estava no prédio quando atearam fogo na recepção.
“Estava em reunião no Ministério da Agricultura com meus secretários para avaliar a minha viagem ao Oriente Médio e tomar pé das coisas do Mapa, quando invadiram o prédio. Eles colocaram fogo na recepção, danificando as instalações. Ainda não sabemos a soma dos prejuízos. É lamentável que as manifestações acabem em vandalismo”, disparou.
Publicidade De um lado, manifestantes e parlamentares que participaram do ato reclamavam da atuação dos policiais. De outro, políticos e policiais justificaram a ação truculenta como forma de conter os manifestantes que praticavam atos de vandalismo.Diante da repercussão verificada em Brasília, o ato se estendeu para outros estados. Em Salvador, na Bahia, manifestantes também foram às ruas por eleições diretas e contra as reformas de Temer. Em São Paulo, um ato foi convocado para a noite de hoje (quarta-feira, 19).
“Depois desse massacre realizado pelo governo ilegítimo em Brasília, venha pra luta por eleições diretas para a Presidência da República. Sem democracia não há futuro!”, dizia texto da convocação publicado nas redes sociais. Em Belo Horizonte (MG), pessoas foram às ruas da capital mineira em repúdio contra os desdobramentos do protesto em Brasilia.
Decreto de uso das Forças Armadas
O decreto de uso extraordinário das forças de segurança foi justificado pelos registros de vandalismo durante o ato – protagonizado por pessoas mascaradas –, cuja pauta principal era a saída do presidente Michel Temer e a realização de eleições diretas no país. Antes mesmo de fazer o anúncio oficial, o Exército chegava na Esplanda para conter a confusão.
Ao convocar coletiva para falar do assunto, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, creditou a autorização do decreto a um pedido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A situação, no entanto, causou mal estar entre os parlamentares e Maia teve que justificar. Convocou coletiva e disse que havia pedido apenas auxílio da Força Nacional. Na ocasião, também criticou a decisão de Temer que estendeu o decreto até 31 de maio, e classificou como “excesso”.
Empurra-empurra e confusão na Câmara
Enquanto a confusão do lado de fora do Congresso se agravava, parlamentares da oposição tentavam encerrar a sessão. Logo após um discurso crítico do líder do Psol, Glauber Braga (RJ), quanto ao pedido atribuído ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que fosse autorizado uso das Forças Armadas em Brasília nesta quarta-feira (24), os parlamentares quase se esmurraram no plenário da Câmara.
Veja no vídeo:
Aos gritos de “renúncia coletiva do presidente do Senado, da Câmara e do presidente da República” a confusão começou. Com dedos em riste, empurra-empurra, gritos e agressões verbais, os deputados de oposição e da base travam uma batalha na Câmara. No entanto, ao deixarem a sessão, os parlamentares da base aliada de Temer retomaram os trabalhos.
Leia íntegra da nota da SSP-DF:
“A Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social informa que:
1 – Cerca de 45 mil pessoas participaram da manifestação na Esplanada dos Ministérios, nesta quarta-feira (24).
2 – O Corpo de Bombeiros registrou 49 ocorrências. Quatro manifestantes receberam atendimento no local e foram liberados. Os demais foram encaminhados ao hospital de Base e ao Hospital Regional da Asa Norte.
Entre os motivos para atendimento estão cortes na mão, ferimento por instrumento de menor potencial ofensivo, corte no pescoço, queda por trauma na coluna, perfuração por arma de fogo e mal estar. Do total de feridos, oito são policiais militares que foram levados para o Hospital da Asa Norte. O caso mais grave entre os policiais foi o de um policial que quebrou a perna.
3 – A Polícia Militar abrirá inquérito para investigar policiais militares que aparecem em imagens com arma de fogo nas mãos. Este procedimento não é adotado em manifestações. Os incidentes e as responsabilidades serão apuradas.
4 – A Polícia Civil instaurou 12 procedimentos, sendo que oito pessoas foram conduzidas ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) da Polícia Civil. Três delas foram presas por porte de substância entorpecente para consumo pessoal e porte de arma branca, uma por porte de arma branca, duas por resistência e pichação, uma por lesão corporal e resistência e uma por desacato.
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5 – Durante os atos, foram registrados três incêndios: no Ministério da Agricultura, no Ministério da Integração Nacional e em banheiros químicos. Também foram registradas depredações em oito Ministérios e na Catedral.
6 – Desde às 9h, o Coordenação de Integração de Multiagências (CIM) está em funcionamento na sede da SSP-DF. O grupo reuniu representantes de 25 instituições dos governos local e federal trabalhando de forma integrada. Da central é possível monitorar em tempo real a Esplanada dos Ministérios por meio de imagens enviadas por câmeras.
7 – As vias S1 e N1 continuam interditadas.”
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