Mas também não faltaram reclamações contra a mídia, contra os próprios manifestantes e até pedidos de uma reforma política. Outras reivindicações, como a derrubada da PEC 37, que proíbe o Ministério Público de investigar, o fim do voto secreto nas votações do Congresso, e investimentos em educação e saúde, também estiveram presentes. Por aproximadamente seis horas, o gramado em frente à sede do Legislativo foi palco de danças, palavras de ordem, brincadeiras e, por uma minoria barulhenta, confrontos e destruição.
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No meio da confusão, o empresário Gabriel Emiliano de Andrade aproveitou um equipamento eletrônico que tinha em casa para transmitir mensagens a todos os manifestantes. Com um computador, um gerador de energia e um projetor de raio-laser, o empresário projetou na cúpula da Câmara a palavra “paz”. Na hora em que os primeiros traços verdes surgiram, os manifestantes aplaudiram e cantaram o hino nacional. Depois, mensagens de apoio foram projetadas.
“É a minha forma de levar a mensagem sem interferir no patrimônio. Eu sou contra as pichações, então encontrei essa forma de levar a minha mensagem a todos”, disse. Momentos antes, uma parte dos manifestantes correu para o Palácio do Itamaraty. Vidraças foram quebradas, uma porta incediada e paredes pichadas. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse ter ficado “muito indignado” com o que aconteceu. A Polícia Federal passou a manhã no prédio fazendo a perícia do local.
Veja alguns dos depoimentos colhidos pelo Congresso em Foco:
Ivan Veit, 38, autônomo
Publicidade“Vim para reivindicar os meus direitos. Fico indignado sempre que leio que o governo gastou bilhões nos estádios. A gente chega nos hospitais e não tem nada. Nossos filhos não têm escola. Queria mesmo que eles devolvessem o dinheiro mas sei que não vai ser possível. Então quero que eles pensem melhor daqui para a frente.”
Pedro Matos, 27, servidor
“Eu vim sozinho ver as manifestações. Acho preocupante ter uma pauta genérica porque ela acaba se tornando inócua. A mídia se apropriou do discurso e usa ele do jeito que quer. Então destaca as pautas de reivindicação que interessam para ela. O movimento precisa ter uma pauta definida que eu acho que devia ser a tarifa zero do transporte público. Agora, o que eu acho mais válido desse movimento todo é que as pessoas estão ocupando as ruas. As pessoas estão vendo que a rua é um espaço político.”
Guilherme Marques Sousa, 19, estudante
“Acho que as manifestações são um pouco atrasadas. O país já gastou bilhões de reais com a Copa e todo mundo ficou sabendo disso. A gente tinha que ter manifestado antes para evitar os gastos. Mas agora já foi. E outra coisa, se o país quisesse ter investido mais, poderia ter investido. O país arrecada trilhões em impostos e para onde vai todo esse dinheiro? O mau investimento só vai acabar quando o Brasil chegar em uma ordem. Mas agora, diante disso tudo, o governo vai passar a pensar melhor no que fazer antes de investir. O governo está com medo.”
Marco Antônio Siqueira, 18, estudante
“Sou a favor da manifestação claro, mas esses atos de vandalismo acabam com qualquer animação nossa. Precisamos ajudar a construir o Brasil e não destruir nosso patrimônio.”
Rodrigues Gomes, 37, psicólogo
“Esse legislativo não representa o povo. Precisamos convocar um plebiscito porque o governo precisa ouvir o povo. Precisamos fazer uma reforma geral e isso só vai acontecer se vier do povo. A reforma política que está no Congresso não vai mudar nada. O povo precisa agir e começou a fazer isso agora. O país com certeza já mudou com essas manifestações.Eu também estou protestando contra o uso da urna eletrônica. A UnB e outros já provaram que ela é facilmente fraudável. Já está esquematizado quem vai ganhar no ano que vem.”Rosalba Nunes, 65, aposentada
Eu sempre participo de todas as manifestações. Venho com a minha família e amigos. Acredito nas manifestações porque a gente tem que lutar pelos nossos direitos. Participei das diretas já, do Fora Collor e de várias outras. Acho que estamos sim vivendo um momento de mudanças e eu quero ajudar a fazer isso. [Ela estava participando de uma roda de samba] O samba tocado aqui no meio da manifestação agrega a nossa cultura, o que nos faz ser brasileiros e engrossa os nossos gritos por um país melhor.”