Roseann Kennedy*
É impressionante! A justiça proibiu a circulação, mas a Revista do Brasil, vinculada à CUT – Central Única dos Trabalhadores – continua exposta para quem quiser ler, pelo menos na internet.
E esse termina sendo mais um episódio daqueles que mostram como “nunca antes na história desse país” se brincou tanto com a legislação eleitoral.
A revista, que traz a presidenciável Dilma Roussef na capa, faz ampla defesa da candidatura da petista e ainda conta com apoio financeiro de estatais, que anunciam no veículo.
O teor de campanha da publicação é claro. O texto principal diz ser “A vez de Dilma – o país está bem perto de seguir mudando para melhor”.
O editorial ainda prega a campanha do medo. Cita a guerra do narcotráfico no México e diz que aquele país foi um dos mais engajados no neoliberalismo e diz que está falando do assunto para dar uma vaga ideia do que poderíamos ter virado caso o Brasil tivesse continuado com comando do PSDB/DEM.
Ainda critica indiretamente o governo de São Paulo, dizendo que foi nos presídios do estado mais rico do Brasil que nasceu a principal organização criminosa do país. E dispara: “No sistema de segurança desse estado, estão os piores salários de policiais do país, e nas escolas desse mesmo estado os profissionais de educação estão entre os mais desprezados”.
Essas são mensagens diretas, mas ainda há as subliminares, de diversas formas, para tentar atrair votos que Dilma não teve ou perdeu no primeiro turno.
Um exemplo: depois de todo o imbróglio da campanha de Dilma com o segmento religioso, em meio às contradições dela sobre o aborto, agravadas com os boatos que circularam na rede, a revista traz declaração de um bispo que diz que Dilma é sua candidata.
Há, também, foto de Dilma cumprimentando Marina Silva, que teve quase 20 milhões de votos que os presidenciáveis que passaram para o segundo turno buscam conquistar. Sem contar que ainda há uma matéria sobre a derrota dos adversários políticos de Lula no Senado.
O responsável pela revista diz que a publicação não é da CUT, mas dirigentes da central sindical e filiados do PT compõem o conselho diretivo.
Parece que é mais uma daquelas crises de identidade já vistas durante esta campanha.
*Roseann Kennedy é comentarista da CBN e de segunda a sexta-feira escreve esta coluna exclusiva para o Congresso em Foco