Antônio Cruz/ABr
Desde que deixou a presidência do PT, em julho de 2005, no auge do escândalo do mensalão, José Genoino nunca mais foi o mesmo. De volta à Câmara após quatro anos de ausência, o deputado paulista trocou o estilo combativo que o tornou conhecido ainda em 1983, quando assumiu o primeiro mandato, por uma discrição quase absoluta.
Atualmente, suas intervenções durante as sessões no plenário são eventuais. Há algumas semanas, depois de um rápido aparte, foi saudado entusiasticamente pelo também deputado Ciro Gomes (PSB-CE): “Genoino, como é bom ouvi-lo!”. Apesar de manter distância dos holofotes, o petista continua influente nos bastidores, auxiliando o governo na interlocução com a oposição.
Nesta entrevista ao Congresso em Foco, Genoino reconheceu erros da legenda, como o fato de ter se afastado da base, “que foi quem o segurou na hora do tranco”, segundo explica. O ex-presidente do PT afirma já ter acertado suas contas com a militância, com a divulgação de textos e cartas, principalmente com o lançamento de dois livros: Escolhas Políticas, biografia escrita pela professora Maria Francisco Coelho e que foi lançada recentemente, e Entre o Sonho e o Poder, com depoimentos dele à jornalista Denise Paraná, lançado em agosto do ano passado.
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Genoino, no entanto, deixa escapar uma certa insatisfação com a postura de alguns membros do PT que, ainda hoje, depois de dois anos da pior crise da história do partido, não se manifestaram sobre o assunto com os correligionários e com a própria sociedade. “Minha responsabilidade política eu cumpri integralmente”, declarou. “Nunca me omiti em nada, nunca deixei de correr riscos, e tudo que fiz foi com muita causa, com muito ideal, não fiz nada em benefício próprio.” O parlamentar espera que a direção do PT preste contas com a população no próximo congresso do partido, previsto para ocorrer em agosto.
Outra crítica dele é de que a sigla se preocupou mais com o governo do que a sociedade no primeiro mandato de Lula. “A tarefa do partido não é necessariamente igual a do governo, que tem o seu tempo e a circunstância própria”, afirmou. Ele também nega que o PT tenha se “domesticado” ou que “foi cooptado”, mas diz que a legenda precisa “melhorar a relação com os movimentos sociais, que ficou arranhada no primeiro mandato”, e defende a aliança com partidos de centro, que resultou na coalizão. “Temos uma aliança de esquerda, que defendo, e uma aliança de centro. Uma não anula a outra.”
Governo e Congresso
Dizendo ser um ferrenho militante do governo Lula, o qual aponta como o “melhor da história do país”, o deputado paulista defende a política econômica, que diz considerar de esquerda. “Os parâmetros do modelo econômico neoliberal nós não consolidamos, nem repetimos. Estamos recuperando o papel indutor e articulador do Estado”, argumentou.
José Genoino defende ainda mudanças estruturais no Congresso, como alterações no regimento interno, com medidas para se tentar diminuir a freqüência com que a pauta é trancada, e condenou o excesso de medidas provisórias editadas pelo Executivo. “Muitas coisas o governo deveria mandar como projeto de lei com urgência constitucional. Temos que mexer um pouco na tramitação”, diz. Segundo ele, só com a reforma política será possível acabar com uma situação “tão perversa” como o atual sistema eleitoral.
Em mais de uma hora de entrevista em seu gabinete, em Brasília, Genoino estava bem-humorado e falante. Fumou durante a conversa cinco cigarros Charm, hábito que hesita em parar. O deputado explica que viveu dois tipos de tortura durante sua vida política: “A medieval, no período da clandestinidade, na prisão, que é um tortura que se dá no corpo, e vivi um outro tipo de tortura, que é a da alma, da reputação, a tortura do vale-tudo”, disse, referindo-se ao mensalão.
O deputado também criticou a postura da imprensa durante a maior crise do partido. “Havia um direcionamento, houve um espírito de campanha na cobertura”. Por causa do episódio, Genoino diz ter feito uma reflexão sobre seu relacionamento com a mídia. “Não quero mais ter a relação que eu tinha”, afirmou. “Vivi o lado da unanimidade e o lado da condenação pelo que eu era, não pelo que eu fiz. Nunca, nas matérias publicadas, a imprensa explicou toda a história. Nunca. Confundiram-se erros políticos com criminalização.”
O ex-guerrilheiro que lutou no Araguaia na esperança de derrubar o governo militar, no início dos anos de 1970, e se consolidou no Congresso com um dos mais barulhentos e contundentes parlamentares do PT, prega agora a boa relação política. “A democracia não é a arte da guerra, um lado não tem que destruir o outro. Não podemos tratar o outro como inimigo. Temos que ter um relacionamento de adversários políticos, de disputa de projetos”, ponderou.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Congresso em Foco – O recém-lançado livro sobre sua vida política pode ser visto como o fim do silêncio que o senhor se impôs quando deixou a presidência do PT, no auge do escândalo do mensalão?
José Genoino – O livro estava pronto em 2002 e seria lançado naquele ano, quando eu deixei de ser deputado e fui candidato a governador de São Paulo. Ele começou a ser trabalhado em 1997 e não pôde sair naquela época, pois misturava com a campanha eleitoral. Era para ele ter saído em 2005, quando eu estava na presidência do PT, mas depois surgiu a crise. A base do livro é toda a minha história política, tanto que a parte recente está em entrevistas [elaboradas depois da crise do mensalão e da queda da presidência do PT]. [O livro] é uma avaliação que faço das minhas escolhas políticas, todas elas feitas em nome de causas e ideais. É uma avaliação da história do Brasil, de minha história, e uma contribuição para o debate político. É um livro com documentos, mais acadêmico, baseado em pesquisas. Não tem o sentido de quebrar o silêncio. Primeiro, porque eu nunca fiquei em silêncio. Quando eu deixei de ser presidente do PT, fiquei em casa trabalhando, dando aulas, cor
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