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A exemplo do que ocorreu no último dia 14 de junho, no depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o país deve parar esta tarde para acompanhar as explicações do deputado José Dirceu (PT-SP) ao Conselho de Ética da Câmara. Dirceu deixou a Casa Civil dois dias depois de Jefferson confirmar ao mesmo colegiado que o petista seria o coordenador do esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada, o mensalão. Em seu discurso de despedida, Dirceu afirmou que deixaria o Palácio do Planalto para se defender na planície. No entanto, nos últimos 45 dias, as acusações contra o ex-chefe da Casa Civil se avolumaram, a cúpula do PT caiu, um deputado do PL renunciou ao mandato por causa do escândalo, e Dirceu se limitou a fazer um único discurso em plenário e a refutar as novas denúncias por meio de notas em que contesta a atuação da imprensa e da oposição. No depoimento, previsto para as 15h, o petista poderá ficar cara a cara com o seu algoz. Jefferson promete se sentar na primeira fila do plenário 2 da Câmara, onde será prestado o depoimento, para questionar o desafeto. Leia também E não serão poucas as explicações que o ex-chefe da Casa Civil terá de prestar aos parlamentares. Elas, aliás, são proporcionais ao número de inimigos políticos que Dirceu colecionou enquanto permaneceu no Planalto. Amigo pessoal de Lula, o petista costumava dizer que tudo o que fazia era de conhecimento do presidente. A declaração, outrora utilizada para refutar a imagem de que seria uma espécie de “primeiro-ministro” do governo, pode agora aproximar a crise ainda mais de Lula. Assim que a crise explodiu, com a entrevista do presidente licenciado do PTB ao jornal Folha de S. Paulo, no dia 6 de junho, o então ministro refutou todas as acusações de Jefferson, classificando-as como infundadas. Apesar de ainda se desconhecer a extensão da veracidade das declarações do petebista, as investigações da CPI dos Correios já confirmaram o esquema de “caixa-dois” do PT e as movimentações financeiras suspeitas feitas pelo publicitário Marcos Valério Fernandes, apontado como operador do mensalão. Ambas as denúncias, no caso, foram feitas por Jefferson. Sob apuros O cerco sobre Dirceu apertou no último fim de semana com a revelação de que Roberto Marques, seu amigo e assessor informal, teria sido uma das pessoas autorizadas pelo PT a sacar dinheiro das contas da agência de publicidade SMP&B de Valério. Mas tanto Marques quanto Dirceu negam a acusação. Em reportagem divulgada pelo jornal Correio Braziliense ontem, advogados de Valério informaram que o seu cliente teria feito dois telefonemas a diretores dos bancos Rural e BMG para atender a interesses pessoais do ex-ministro da Casa Civil. Em depoimento à CPI dos Correios na semana passada, Renilda Santiago Fernandes, mulher de Valério, afirmou que Dirceu sabia dos empréstimos feitos pelas empresas dela e do marido ao Partido dos Trabalhadores. Os recursos transferidos ao PT seriam da ordem de R$ 40 milhões. Até agora, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares sustenta a versão de que é o único responsável pelo crime eleitoral. Dirceu também terá de explicar se sabia do suposto acordo entre o PT e o PTB pelo qual Jefferson teria recebido R$ 4 milhões para abastecer campanhas do partido nas eleições de 2004. O dinheiro, cujo paradeiro ainda se ignora, não foi declarado à Justiça Eleitoral, conforme admite o próprio petebista, o que também configuraria crime eleitoral. O ex-ministro da Casa Civil ainda deverá ser questionado sobre a forma de distribuição de cargos no governo entre os partidos. De acordo com Jefferson, o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, que se licenciou da função no mês passado, negociava indicações para estatais numa sala ao lado da de Dirceu, embora não exercesse nenhum cargo na administração federal. Os indicados de Sílvio seriam responsáveis pelo esquema de corrupção nos Correios e em outros órgãos federais, segundo o petebista. Explicações à CPI e ao PT Mas não será apenas no Conselho de Ética que Dirceu terá de prestar esclarecimentos. O secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), deu prazo até quinta-feira para que os petistas envolvidos no escândalo do mensalão apresentem suas defesas. Do contrário, diz Berzoini, eles serão submetidos ao Conselho de Ética do partido, o que pode resultar no processo de expulsão. Aliado do governo, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), já dá como certa a convocação do ex-ministro da Casa Civil, após o aparecimento do nome de Marques na lista das pessoas autorizadas a sacarem das contas de Valério. “A oitiva de José Dirceu é inevitável. Está ficando impossível não acontecer”, afirmou. |