Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa *
Com a Copa do Mundo 2014 sendo realizada em diversos estados brasileiros, o jornalismo regional perde a chance de mostrar mais do que o caricatural sobre tradições brasileiras e futebol. São destaques nos portais e jornais locais, especialmente do Nordeste, matérias realizadas por redes nacionais e internacionais de comunicação, como se apenas o olhar estrangeiro pudesse validar a observação do lúdico, do belo e das distorções sociais no país.
Nos estados onde não há Copa, e menos ainda fluxo de estrangeiros, a imprensa regional produz conteúdo como se o evento não fosse realizado no país. Narradores à distância se resignam a registrar em suas cidades quais são os locais onde há maior concentração de torcedores e como o comércio está – ou não – aquecido com a Copa. Há também o apelo ao sensacionalismo, destacando números relacionados à violência durante o período dos jogos e informações básicas e essenciais, sobre o funcionamento do comércio e dos órgãos públicos. Pouco se vai além do bê-a-bá que se espera da imprensa.
Sem maior aprofundamento nos temas, houve pouco interesse dos meios de comunicação locais em enviarem jornalistas para cobrir a Copa, trazendo uma linguagem regional ao público consumidor de notícia. Além da dificuldade no credenciamento com a Fifa – apontado como empecilho por alguns veículos –, houve má vontade das mídias locais, que viam gastos onde poderia ser facilmente localizado, sob um outro prisma, o investimento na fidelização do público. Em um contexto de segmentação, com a propagação das TVs a cabo, leitores, ouvintes e telespectadores não abrem mão do conteúdo direcionado. Perdem os meios de comunicação e perde, principalmente, o público.
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Vendo tudo da janela de casa
Com raras opções, o futebol e suas implicações sociopolíticas são maturados e transmitidos sob o viés dos grandes meios de comunicação, como a Rede Globo. O diferencial fica por conta das redes sociais, com seu caráter agregador e ao mesmo tempo fermentador de diferenças. Mesmo com pontos positivos, as redes sociais têm como foco a diversão momentânea, piadas ácidas e pouco espaço para o debate mais profundo. Este, aliás, deveria estar sendo fomentado, principalmente, pelos jornais, portais, rádios e televisões locais. Mas sobrou preguiça e faltou empenho ao bom jornalismo.
Com maior liberdade editorial em relação aos grandes patrocinadores em comparação com as grandes redes de comunicação brasileiras, os sistemas locais pecam por deixar passar a Copa das Copas, vendo tudo da janela de casa, mostrando pouco além do espetáculo e sem ao menos se dignar a participar produzindo conteúdo de qualidade.
* Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa é jornalista. Este artigo foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa.
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