O melhor do Brasil é a internet
A bombástica revelação da gravação do empresário Joesley Batista, da JBS, da conversa com o presidente Michel Temer dando aval para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi um furo jornalístico no padrão clássico. Mas o fato veio comprovar que o eixo central do impacto midiático hoje está nas redes sociais, na ciberesfera.
A notícia “que abalou o país” trouxe a certeza que hoje o domínio da informação não é mais para poucos. Enquanto jornalistas da mídia tradicional tentavam chamar atenção publicando desdobramentos e novas informações sobre as gravações, os brasileiros estavam em massa nas redes sociais mostrando o que sabem fazer como ninguém: meme.
Foram milhares de piadas recebidas pelo Whatsapp, em tempo real, muito antes dos telejornais noturnos entrarem no ar. E continuaram durante o dia seguinte, injetando leveza e humor no agravamento da crise política e econômica ocasionada pelas revelações.
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A cena pode induzir a pergunta: o brasileiro não gosta de política? Humor está associado à alienação? É a forma encontrada de dar vazão ao descrédito e desencanto. É uma mostra da brasilidade digital? Talvez o meme seja a uma maneira encontrada pelo brasileiro para ter voz. No meme, o grito, o contraponto, uma variante de basta.
O termo “meme” foi criado em 1976 por Richard Dawkins, no best-seller O Gene egoísta. Ele considera o meme uma unidade de evolução cultural que pode se propagar de alguma maneira, sejam ideias, línguas, desenhos, e valores estéticos e morais que são aprendidas facilmente. Para se tornar viral precisa de interação. E foi o que não faltou na semana em que o governo sofreu o maior abalo sísmico.
Os memes que viralizaram foram parte central no contágio e nas ondas de sentimento que eles ajudaram a compartilhar. A alma, a indignação, a revolta e o espanto se mostraram nos cliques, nos likes, nos milhares de compartilhamentos que dominaram o ambiente das mídias digitais. O melhor do Brasil está lá, nas interações via aplicativos da rede.
Cenas da Semana comemora um ano de análise sobre comunicação
O Cenas da Semana completou um ano nessa sexta-feira, 19 de maio, com 52 semanas de diálogo produtivo. A newsletter nasceu da ideia de compartilhar a análise semanal sobre os fatos de destaque no mundo da comunicação. Trata-se de um media coaching que evoluiu para um laboratório vivo de Media Training.
Vivenciamos no dia a dia profissional e pessoal a completa disrupção da revolução digital nas telecomunicações. Ela agrega uma imensa capacidade de interações virtuais a um descomunal fluxo de informações que circulam em tempo real. Pesquisas mostram que neste novo contexto é a comunicação que determina o comportamento social, por meio de cooperação e conflito. A comunicação é o ponto central que promove a interação entre as duas dimensões do sistema – social (físico) e virtual (digital).
Assim, na era atual de transição que atravessamos, é crucial a compreensão dessa nova dinâmica e dos desafios de comunicação que ela representa. Este é o propósito central do Cenas da Semana, expresso no seu expediente: lançar um olhar reflexivo sobre atos, fatos, falas, acertos e erros de estratégia de comunicação mostrados na mídia.
Os posts da coluna são um aprendizado constante, que tem se revelado rico e produtivo para todos. São avaliados não só erros, mas também acertos e cases de estratégias bem-sucedidas. Mostramos os prejuízos que poderiam ser evitados com a correta gestão da comunicação e ações e iniciativas que surtiriam melhor resultado.
A reflexão sobre estratégias de comunicação feita no Cenas da Semana proporciona uma experiência rica e um exercício permanente do “fazer comunicação” contemporânea. É uma busca permanente do que é preciso aprender para evitar erros e desacertos que trazem enorme custo para a imagem e reputação de marcas institucionais e de porta-vozes, sejam agentes públicos ou gestores privados.
Os temas de maior repercussão neste ano
A guerra de narrativas em torno da reforma da Previdência foi o que mais despertou atenção. No texto “Temer perde a batalha da reforma da Previdência nas redes sociais”, o foco foi o poder das mídias digitais na comunicação contemporânea.
Na semana de 17 de março, quando o post foi publicado, as ruas em diversas capitais ficaram lotadas com as manifestações contra a reforma da Previdência. Nas redes digitais, viralizaram posts e reações com a narrativa de que o brasileiro não vai mais se aposentar. Enquanto isso, o governo Temer insistia em usar só a mídia tradicional, em campanha de estética antiga, para defender seus pontos de vista.
As “gafes” da primeira-dama eleita de São Paulo, Bia Dória, na edição de 14 de outubro, também foi destaque. Ela mostrou não conhecer a metrópole que elegeu seu marido para prefeito, ao perguntar para o que servia o “Minhocão”. O aprendizado aqui é que nenhum porta-voz, seja experiente ou não, deve falar de improviso. O preparo prévio e treinamento constante são sempre indicados.
Outro post que ficou em terceiro lugar no ranking de acesso da coluna no Congresso em Foco foi o que avaliou o prejuízo à imagem do MPF com o descumprimento, pela Força-Tarefa da Lava Jato, da política de comunicação da instituição. Na coletiva para explicar a denúncia contra o ex-presidente Lula, os procuradores esqueceram artigo da política de comunicação do Ministério Público que determina que sejam evitados personalismo. Aqui, o aprendizado é que porta-vozes, especialmente os agentes públicos, devem alinhar as mensagens institucionais e evitar performances personalistas.
O texto que tratou da gafe que uma procuradora cometeu na CCJ do Senado também figurou entre os mais acessados. Desta vez, o aprendizado é que porta-vozes e agentes públicos devem se preparar sempre antes de eventos públicos, nos quais representam a instituição. Devem buscar informações sobre o protocolo de sessões, quem irá comparecer e irem informados sobre os relatores e demais participantes.
O alto desempenho e audiência elevada das edições do Cenas da Semana indicam o crescente interesse por ensinamentos de comunicação. Porta-vozes falam por suas instituições e devem estar sempre preparados para contribuir para defender as marcas institucionais.