Previsões de votação são sempre muito arriscadas. Quando envolve a presidência da Câmara dos Deputados então, poucos se aventuram a cravar palpites definitivos. O fantasma da eleição de Severino Cavalcante (PP-PE), dois anos atrás, permanece a assombrar, recomendando cautela.
Mesmo assim, nestes dias que antecedem a escolha do sucessor de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a se realizar no próximo dia 1º, vários parlamentares se dedicam a contabilizar as tendências de voto dos 513 deputados que elegerão o novo presidente da Câmara. Esses exercícios, ao menos no momento, levam a uma conclusão inevitável: Aldo, aspirante à reeleição, e Gustavo Fruet (PSDB-PR), lançado como candidato alternativo em nome da ética e da recuperação da desmoralizada imagem da Casa, terão muito trabalho para evitar que o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) saia vitorioso da disputa.
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De acordo com as contas do PL, partido que integra a base parlamentar de Lula desde o início do primeiro mandato, Chinaglia tem grandes chances de decidir a parada no primeiro turno. Pelas regras regimentais, se nenhum dos candidatos recebe o voto de no mínimo 257 deputados (maioria absoluta, ou metade mais um do total de parlamentares), há nova rodada de votação, com os dois concorrentes mais votados.
Os números
Segundo tal contabilidade, o petista tem hoje os votos de pelo menos 80 dos 83 deputados do PT; 60 dos 89 peemedebistas eleitos para a nova legislatura; de 25 a 30 dos 41 integrantes da bancada do PP; 18 a 20 dos 22 eleitos pelo PTB; e 40 da futura bancada do Partido da República (PR), agremiação que agrupará o PL, o PSC e o Prona.
Juntas, as três legendas elegeram 34 deputados, mas a bancada do PR terá mais de 40 parlamentares. Além do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, eleito pelo PPS e sem partido desde que apoiou Lula no segundo turno da eleição presidencial, o partido receberá a adesão de dez parlamentares. Entre eles, Jofran Frejat (PTB-DF), Tonha Magalhães (PFL-BA), Vicentinho (PSDB-TO), Sandro Matos (PTB-RJ) e dois deputados que se filiarão ao PR junto com Blairo.
Isto é: Arlindo Chinaglia já teria, na pior das hipóteses, 223 votos assegurados. Mas o número poderia chegar a 270, garantindo assim a vitória em primeiro turno, com os votos dos “dissidentes” de partidos comprometidos com os demais candidatos. A maior dissidência seria no PFL, onde ela alcançaria dez dos 65 deputados eleitos. Mas o setor majoritário da base governista também espera que Chinaglia receba votos do PDT (que ainda não declarou apoio a ninguém), PSDB, PPS, PSB e do PV (incluindo todos os quatro deputados eleitos por Minas Gerais).
Conforme tais cálculos, Aldo, levando todos os 13 votos dos seus correligionários do PCdoB, 20 dos 27 do PSB e apoiado ainda pela maioria dos pefelistas e por outros parlamentares, espalhados por diversos partidos, poderia alcançar no máximo um patamar próximo de 120 votos. Fruet não teria fôlego para chegar nem mesmo aí. “Ele não passa de cem votos”, afirma, com os números na mão, um deputado da base governista.
“Bonecão de Olinda”
Fruet, reconhecem integrantes da base governista, é o candidato com o perfil e o discurso mais afinados com as atuais expectativas da sociedade. É considerado um político preparado, ético, sensato e de fácil trato, que ainda se apresenta com a proposta de tirar a Câmara do mar de lama a que foi atirada desde a crise do mensalão, em 2005.
“Essa dentadura, porém, não cabe na boca de todo mundo na Câmara”, diz um parlamentar. “Na base governista, o nome do Fruet nem é considerado porque ele representa os desejos da sociedade, sim, mas também representa o projeto político do PSDB, que é o principal partido de oposição e tem candidatos fortes para as eleições presidenciais de 2010”.
Quanto a Aldo, os problemas seriam outros. O maior deles é que a base, que está doida para mostrar serviço e fazer jus ao seu quinhão de cargos e poder no segundo governo Lula, concluiu que Chinaglia é “o candidato do coração” do Palácio do Planalto.
Também recai sobre Aldo o preço do desgaste pelo exercício do poder. Nesse aspecto, a principal fonte de i