Celso Lungaretti*
Meu artigo-resposta às incongruências e destemperos verbais de Olavo de Carvalho, O samba do Olavo doido, despertou fúria homicida de seus fãs, que, inclusive, escolheram-me como o homenageado do mês de uma comunidade rancorosa do Orkut, a Comunistas Caricatos.
Aceitando o desafio, lá compareci para um debate que, prometeram-me, seria civilizado. No entanto, a minha primeira série de respostas às perguntas feitas os desarmou de tal maneira que passaram, imediatamente, para as baixarias e agressões.
Recusando-me a acompanhá-los na guerra de insultos e constatando que o debate civilizado seria impossível ali, deixei a discussão. O tópico foi totalmente deletado por eles, bem como os posts em que eu colara O samba do Olavo doido, na seqüência do ataque do OC a mim que eles triunfalmente haviam colocado no ar.
Se faltava uma prova da intolerância e obscurantismo dos discípulos de OC, eles a deram. Estão sempre prontos para o linchamento moral dos ausentes, mas não conseguem encarar sequer uma discussão de dezenas contra um, sem descerem ao nível dos esgotos.
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Já no site do Observatório da Imprensa, os defensores do OC são obrigados a um mínimo de decoro e argumentação. Então, suas tentativas de me refutarem centraram-se em dois pontos:
– eu estaria sendo insincero ao repudiar ditaduras, já que, no fundo do coração, morreria de amores pelas ditaduras de esquerda;
– e teria manifestado vezo autoritário, ao pedir que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal voltassem sua atenção para os sites fascistas.
Primeiramente, respondi-lhes que não gasto palavras em vão: ao me colocar contra todas as ditaduras, disse exatamente o que queria dizer e, aliás, já havia dito antes, em vários contextos. Se alguém viu numa bola de cristal que eu aceito determinadas ditaduras, sugiro que jogue a bola de cristal fora.
Quanto aos textos cuja veiculação na internet deveria ser punida, dei alguns exemplos.
O Ternuma me atribuiu a redação de um manifesto que a VPR distribuiria à imprensa depois de seqüestrar o cônsul dos EUA em Porto Alegre. Nesse manifesto, estaria escrito que o cônsul confessara ser agente da CIA.
É totalmente falso. Nem eu, nem a VPR colocaríamos na boca de um diplomata o que ele não havia dito, antecipando um interrogatório que não ocorrera. Há uns três anos, exigi que o Ternuma tirasse essa mentira do ar. Continua lá até hoje.
Na semana passada, o antigo comandante de torturadores Brilhante Ustra passou a oferecer em seu site, para download, o chamado Livro Negro da Repressão, uma contrapartida infame da Inteligência militar ao projeto Tortura Nunca Mais.
Entre outras falsidades, esse livro diz que eu fui um dos três quadros da VPR que julgaram um militante por traição.
Eu nem sequer soube desse caso. Ignoro se o episódio aconteceu mesmo ou não passa de mais uma fantasia. Mas, com toda a certeza, eu jamais tomaria em minhas mãos a decisão sobre o fuzilamento ou não de um companheiro.
Que direito têm o Ternuma e o A Verdade Sufocada de me atribuírem atos que não pratiquei e que contrariam frontalmente minhas convicções? Isso é calúnia e difamação, crimes capitulados no Código Penal. Nada tem a ver com liberdade de opinião e democracia.
Golpismo explícito
Quanto às conclamações sediciosas, eis, por exemplo, um trecho de um manifesto do Grupo Guararapes, amplamente reproduzido nos sites fascistas: "O presidente Lula não merece mais o nosso respeito (…). Não o consideramos nosso chefe, pois ele não respeita nem cumpre a Lei, não merecendo nossa subordinação. O Grupo Guararapes, em defesa da honra da Nação brasileira, espera que as Forças Armadas revertam tal afronta [a anistia ao Lamarca]. A honra ou a morte!"
Divulgadíssima no circuito virtual dos radicais de direita, a Carta Aberta aos Militares do Partido Vergonha na Cara conclamava as Forças Armadas a cumprirem "o seu papel histórico e constitucional de proteger o Brasil de comunistas e assaltantes e criminosos que ameaçam o nosso país", concluindo com um enfático "Militares no poder já!".
Que cada um julgue se é admissível isso tudo ir ao ar sem a responsabilização judicial dos autores e divulgadores.
Os radicais de direita estão extremamente incomodados com meus alertas, porque sabem ter infringido diversas leis de nosso país. E são as leis normais de uma nação civilizada, não a legislação de exceção que eles forjavam na caserna e impunham a todos os brasileiros pela força bruta. Quem tiver estômago para revirar os escritos nauseabundos publicados nos sites fascistas, encontrará, aos montes, afirmações que justificam a instauração de procedimentos legais.
Ademais, são artigos que versam sobre a ditadura de 1964 e os movimentos de resistência que a enfrentaram. Dão a visão dos carrascos sobre os acontecimentos históricos, utilizando informações dos famigerados IPM’s, inclusive as sigilosas (aquelas que os militares negam possuir quando as autoridades as pedem).
Inquéritos que custaram o sangue e a vida dos meus companheiros são exumados para se caluniarem os vivos e os mortos. Como o Olavo de Carvalho caluniou o prestigioso professor Quartim de Moraes, que vem recebendo a solidariedade dos mais respeitados acadêmicos da Unicamp e de toda a comunidade intelectual.
O que essa gente faz é um escárnio, tripudiando sobre as vítimas de suas práticas hediondas. É como se reeditassem o Mein Kampf (Minha luta) em plena Alemanha de 1946. Caso estivessem na Europa ou nos EUA, já teriam sido punidos – rigorosamente dentro da lei.
Negar a existência do Holocausto por lá é crime e levou até um historiador à cadeia. Já os responsáveis por nosso pequeno Holocausto têm o cinismo de invocar as liberdades democráticas, que não cansaram de violentar enquanto estavam no poder…
* Celso Lungaretti, 56 anos, é jornalista em São Paulo, com longa atuação em redações e na área de comunicação corporativa, e escritor. Escreveu Náufrago da utopia (Geração Editorial, 2005). Mais dele e