Wellington Miareli Mesquita *
Especial para o Congresso em Foco
O Brasil nunca esteve tão próximo de ter um papa. Melhor dizendo, a Igreja Católica está próxima de ter um pontífice não europeu depois de 1300 anos. Dom Odilo entrou no conclave, nessa terça-feira, entre os favoritos e é muito provável que o papa seja eleito no terceiro ou quarto escrutínio, nesta quarta-feira (13). O tema do cardeal decano Angelo Sodano durante a missa Pro Eligendo Pontifice, antes da abertura do Conclave, foi escolhido a dedo: evangelização e unidade na igreja.
Unidade para ele tem um nome: Odilo Scherer, nome preferido da cúria woytiliana e dos 50 purpurados criados por João Paulo II. A carreira de Odilo Pedro Scherer na igreja é meteórica. Por trás de um rosto principesco, está um homem tenaz e decidido, que parece ter se preparado a vida inteira para este momento. Tive o prazer de conversar com o arcebispo de São Paulo algumas vezes na Cúria e em sua casa, próximo ao centro da capital paulista. Serenidade e retidão seriam os dois adjetivos mais apropriados para definir o cardeal brasileiro. Longe de ser um reformista, o arcebispo de São Paulo se enquadraria na opção por um pontífice pastor, como João Paulo II.
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Com mais de 50 anos dedicados à Igreja Católica, Odilo Scherer entendeu cedo o funcionamento da máquina vaticana. Poliglota, galgou, rapidamente, os degraus da rígida hierarquia católica. Concluiu mestrado e doutorado na Universidade Gregoriana de Roma, por onde muitos papas passaram. Reto na doutrina e entusiasta da evangelização (citada por Sodano), o purpurado gaúcho foi lapidado na Santa Sé. O grande salto ocorre em 1994, quando começa a atuar na importante Congregação para os Bispos, sendo preparado pelas mãos do influente cardeal Giovanni Battista Re. Bispo auxiliar de São Paulo aos 52 anos, tornou-se arcebispo de diocese mais importante da América Latina cinco anos depois, recebendo a púrpura cardinalícia no mesmo ano.
O caminho do brasileiro, contudo, é árduo. Erra quem pensa que Joseph Ratzinger tenha se recolhido após a renúncia como fizera Celestino V, no século XIII. Astuto, com a habilidade de poucos, o cardeal alemão preparou cada detalhe de sua sucessão. Em oito anos, nomeou nada mais que 67 cardeais em cinco consistórios! Faltaram somente dez para atingir os dois terços exigidos para a eleição. Além disso, o candidato por quem Bento XVI ora é Angelo Scola, arcebispo de Milão e antigo companheiro de Comunhão e Liberação. Logo, para a fumaça branca ser brasileira, muita lenha deverá ser queimada na Capela Sistina.
* É jornalista e autor do livro Sucessão no Vaticano, que narra a morte de João Paulo II e a eleição de Bento XVI.
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