Mesmo assim, ressaltou na entrevista ao jornal carioca, o voto na petista era a melhor opção possível diante dos candidatos ao Planalto. “Considero que na situação que estava foi o melhor voto. Mas isso não quer dizer que eu esteja satisfeito. Me sinto enganado no sentido em que houve um compromisso implícito de que ela mudaria o estilo de governo, ia parar de governar pela braveza e ia começar a dialogar mais e a delegar mais”, declarou ao Globo há três semanas.
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Para ele, a mudança prometida não se concretizou. “Esse para mim era um compromisso que ela cumpriu de maneira muito limitada na medida em que nomeou um ministro que ela praticamente não pode mandar embora, que é o Joaquim Levy. Com ele, eu suponho que ela não grite. A maior parte do ministério é fraca, com honrosas exceções. Ela tem uma imagem de quem dialoga e delega pouco e isso não é uma boa imagem para um presidente na democracia”, afirmou.
Em artigo publicado em dezembro do ano passado pelo jornal Valor Econômico, o professor da Universidade de São Paulo (USP) escreveu que o Brasil não dispõe de boas lideranças no momento e citou como exemplo os três primeiros colocados na sucessão presidencial: Dilma, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). Ele também cobrou da presidenta reeleita que explicasse ao país os critérios utilizados na montagem de seu novo ministério. “Ela mesma deveria esclarecer de público por que escolheu uma equipe econômica como esta, e por que, na metade do ministério até agora anunciada, o realismo prevalece sobre o idealismo. Não é impossível explicar isso, mas é preciso fazê-lo. Esse trabalho, um líder não terceiriza.”
Nem tão diferentes
Como lembra o Globo deste sábado, Janine apontou semelhanças entre a petista e o tucano em texto escrito no final de janeiro deste ano. “Temos um paradoxo: candidato, Aécio Neves prometeu continuar a política social do PT; reeleita, Dilma Rousseff adotou medidas econômicas dos tucanos. Portanto, a realidade não os afasta tanto, mas, na aparência, eles parecem estar quase em guerra”, observou.
Em seus artigos, o novo ministro da Educação disse que a presidenta tem o desafio de mudar seu estilo de governar em relação ao primeiro mandato, quando foi vista como uma “pessoa centralizadora, desconfiada, preocupada em articular as diversas ações ministeriais, empenhada em gerar sinergias, mas que não conseguiu tanto êxito quanto pretendia”.
Impeachment, não
Em outro texto, de fevereiro, Janine criticou a possibilidade de um impeachment de Dilma e disse que a situação da presidenta se assemelhava mais à de Getúlio Vargas, sem o suicídio, do que à de Fernando Collor. Segundo ele, o eventual impedimento da petista ateria fogo ao país, com ondas de protestos e repressão.
“Em seus últimos tempos no poder, nem Getúlio nem Collor tinham apoio da mídia ou da opinião pública. Mas havia uma maioria getulista pobre, excluída socialmente, sem voz na mídia, mais silenciada do que silenciosa. Foi essa maioria que despertou com o suicídio. Já do lado de Collor, não havia ninguém.”
Respaldo popular
Assim como Getúlio, a atual presidenta ainda tem apoio popular, sobretudo dos mais pobres, destacou o novo ministro. “Já Dilma, em que pesem seus erros, sua má comunicação, possivelmente um estresse pessoal, continua representando forças políticas significativas. O fato de seus eleitores terem menos voz do que seus opositores não deve nos enganar. Eles existem, mesmo que calados. Uma eventual tentativa de impeachment não será fácil de vender à sociedade”, ressaltou. “Pode convir a quem votou contra ela, mas mesmo os sem voz na mídia estão mais presentes na vida social e política do que sessenta anos atrás”, acrescentou.
Janine defendeu que a oposição construa alternativas em vez de insistir no impeachment e que o governo trabalhe e dialogue com a sociedade, “como prometeu, mas não está cumprindo”. “Vale a pena todos baixarem a bola”, emendou.