A nova versão dada pelo preso João Ferreira Lima, que ontem (19) voltou atrás em sua confissão e negou ser o autor dos disparos que mataram o senador Olavo Pires (PTB-RO), em 1990, é a que mais se aproxima da verdade e reforça a convicção da família de que o caso será esclarecido. A avaliação é do corretor de imóveis Emerson Serpa Pires, filho do senador, executado com 11 tiros na cabeça quando liderava a disputa em segundo turno ao governo de Rondônia.
“Ele mentiu ao dizer que puxou o gatilho. Com esse novo depoimento, ele está mais próximo de falar a verdade e ajudar a desvendar o crime”, afirma. Para ele, as investigações da CPI da Pistolagem, concluída na Câmara em 1994, não deixam dúvida de que foi Carlos Leonor de Macedo, o Perneta, quem descarregou a metralhadora em seu pai.
“Os dois foram os primeiros a assumir o crime. Depois voltaram atrás. Se fosse num país sério, já teriam sido condenados há muito tempo”, afirma o filho de Olavo Pires. As testemunhas que reconheceram Carlos Leonor apontaram a deficiência em uma das pernas como característica física do autor dos disparos.
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O paradeiro de Carlos Leonor é ignorado pela polícia desde maio do ano passado, quando, por decisão da Justiça, ele foi solto da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG), onde cumpria pena por porte ilegal de armas de uso restrito.
Duas versões
Na última terça-feira (17), João Ferreira assumiu a autoria do crime após ser preso por policiais civis de Minas Gerais, acusado de participar de uma quadrilha especializada em assaltos a banco e carro-forte.
A confissão do preso levou a promotora Rosângela Marsaro e o delegado Márcio Mendes Moraes, ambos de Rondônia, a Belo Horizonte, onde ouviram o suspeito durante quatro horas. Diante da promotora e do delegado, responsáveis pela reabertura do inquérito do caso Olavo Pires, João disse que foi “convidado” a acompanhar a execução do senador (leia mais).
"Embora ele tenha negado [a autoria], ele confessa ter estado na cena do crime. Agora nós vamos juntar essas declarações ao inquérito policial", disse Rosângela, em entrevista coletiva, logo após o depoimento.
Para Emerson Pires, a declaração de João Ferreira dá novo fôlego ao caso, esquecido pela polícia e pela Justiça. “Que ele acompanhou a execução não é novidade. Ele está falando a verdade nesse ponto. Mas falta saber o mais importante: matou a mando de quem”, avalia o filho do senador.
Impunidade
Olavo Pires foi assassinado em Porto Velho, no dia 16 de outubro de 1990. O crime, que chocou Rondônia, provocou uma reviravolta naquela eleição: o terceiro colocado no primeiro turno, Oswaldo Piana, voltou à disputa e acabou superando Valdir Raupp. Piana governou o estado entre 1991 e 1994.
Em 1993, João Ferreira Lima e Carlos Leonor Macedo chegaram a assumir a autoria do assassinato e a apontar Piana como mandante do crime. Mas, em depoimento à CPI da Pistolagem, a dupla recuou e alegou ter feito a confissão sob tortura. Por falta de provas, os dois acabaram soltos.
Dezoito anos depois, o caso caminha para a prescrição, que ocorrerá em outubro de 2010, sem sequer um indiciamento. As declarações de João Ferreira reabriram as investigações pela Polícia Civil de Rondônia. Um grupo de senadores, no entanto, defende que a apuração seja transferida para a Polícia Federal sob o argumento de que o crime envolvia um representante da Casa.
O corregedor da Casa, Romeu Tuma (PTB-SP), disse ao Congresso em Foco que pretende ir a Belo Horizonte, após o Carnaval, para tomar conhecimento da íntegra do depoimento do suspeito (leia mais).
Duas frentes
João Ferreira foi preso no último domingo no interior do Tocantins, acusado de liderar uma das principais quadrilhas de assalto a banco do país, desbaratada pela polícia civil de Minas Gerais na Operação Vandec. O grupo, formado por 26 pessoas, também portava armas e munições pesadas.
Segundo o delegado Hugo Malhano, um dos coordenadores da operação, o destino de João Ferreira será definido por duas frentes de investigação. “O caso Olavo Pires ficará a cargo da polícia civil de Rondônia. A polícia de Minas irá se ater às acusações de assalto a banco e carro-forte”, explica.
João era procurado pela polícia de Santa Catarina, onde era acusado de matar dois policiais durante um assalto em Criciúma. Ele também era procurado pelas autoridades mineiras por causa do assassinato de dois vigilantes em outro assalto.
Carlos Leonor foi preso em 2006, em Manaus, por porte ilegal munições e armas de uso restrito do Exército e por uma série de furtos de veículos praticada em Minas Gerais. O preso permaneceu na peniteciária de segurança máxima na região metropolitana de Belo Horizonte até maio do ano passado, quando conseguiu na justiça um alvará de soltura.
“Não sabemos onde ele está agora”, diz o delegado. O filho de Olavo Pires demonstrou desolação ao saber que Carlos Leonor está solto. Ele tinha a informação de que o suspeito ainda estava preso em Contagem. “Infelizmente, vai ser difícil encontrá-lo agora. Talvez exija uma operação da polícia só para isso”, lamenta Emerson Pires. (Edson Sardinha)