Reportagem publicada na edição desta quinta-feira de O Globo lança novas suspeitas sobre irregularidades no financiamento da campanha do pré-candidato à presidência da República Anthony Garotinho (PMDB). De acordo com a matéria de Carla Rocha e Maiá Menezes, organizações não-governamentais (ONGs) de sócios de três das quatro empresas que doaram dinheiro para o ex-governador receberam R$ 112,5 milhões do governo Rosinha Garotinho de 2003 até ontem. Os contratos dessas ONGs com o governo do estado foram feitos sem licitação através da Fundação Escola do Serviço Público (Fesp).
Em 2005, a Fesp repassou R$ 26,4 milhões ao Inep, que tem como diretor-presidente Luiz Antônio Motta Roncoli, sócio majoritário da Virtual Line, doadora de R$ 50 mil para a pré-campanha do peemedebista.
Nildo Jorge Nogueira Raja, sócio da Emprin, doadora de R$ 200 mil ao PMDB, é vice-presidente do Inaap, beneficiado com R$ 18 milhões da Fesp em 2005, e diretor do IBDT, que recebeu R$ 15,2 milhões. Marcos André Coutinho, da Inconsul, que deu R$ 150 mil, também já pertenceu aos quadros do Inaap.
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A Polícia Federal abriu inquérito ontem, a pedido do Ministério Público Federal, para investigar as empresas com sócios laranjas que teriam feito as doações ao PMDB. Segundo um especialista em legislação eleitoral, a lei proíbe fornecedores de doar para comitês eleitorais de candidatos. Como Garotinho é pré-candidato, porém, não haveria impedimento.
Segundo dados do Sistema de Administração Financeira do estado (Siafem), os gastos da Fesp com associações, que são contratadas sem licitação, têm aumentado nos últimos anos. Em 2003, a Fundação empenhou R$ 10,4 milhões; em 2004, R$ 66,3 milhões; em 2005, R$ 214,2 milhões; em 2006, até ontem os empenhos já chegavam a R$ 39,8 milhões.
Além do cruzamento dos dados disponíveis no sistema de controle dos gastos do governo estadual com os de cartórios, a teia de relações entre os sócios das empresas doadoras não pára de crescer e a ficar cada vez mais clara, diz a reportagem. Uma consulta ao banco de dados da Junta Comercial do Rio mostra que Luiz Antônio Motta Roncoli também é diretor administrativo e financeiro da Cooperativa de Profissionais de Ensino e Serviços de Apoio (Coopensino).
O curioso é que, na mesma cooperativa, aparece Frederico Guilherme de Souza Irapuan Ribeiro Palmeira, sócio da empresa Teldata Telecomunicações e Sistemas Ltda, de Pernambuco, que fez a maior doação a Garotinho: R$ 250 mil. Para tornar ainda mais intrincada as relações entre os doadores, um dos endereços em Niterói da Coopensino – que não está cadastrada no Siafem – teria sido alugado pelo Inep para instalar uma escola.