1º de outubro de 2017, Nevada, EUA. Equipado com diversas armas de fogo, o norte-americano Stephen Paddock começou a dispará-las contra uma multidão que se divertia em um espetáculo. Segundo consta, perderam a vida 59 pessoas e mais de 500 ficaram feridas.
Como sempre acontece em seguida a eventos desta natureza, buscou-se retratar, sob a forma de estatísticas, a situação nacional. Descobriu-se, assim, que nos primeiros 275 dias de 2017 (ou seja, de 1º de janeiro a 2 de outubro) 273 atiradores como Paddock deixaram suas marcas sinistras pelo país afora. Isto significa que, em apenas dois dias, durante todo este período, os norte-americanos não conviveram com chacinas.
Apurou-se, igualmente, que ao longo deste prazo 11.685 morreram nos EUA vítimas de disparos de armas de fogo. Feitas as contas, chegamos à inacreditável média de 42 homicídios por dia! E falamos apenas daqueles cometidos com o uso de armas de fogo.
Por conta deste horror nossa imprensa – justificadamente, diga-se de passagem – dedicou amplo espaço à cobertura da chacina. Foi possível vermos até imagens do quarto do hotel a partir do qual o assassino levou a cabo seu massacre.
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Esta intensa cobertura ensejou, de um meu conhecido, um interessante comentário: “Ainda bem que não temos este tipo de coisa aqui no Brasil”. Fiquei a meditar sobre suas palavras, e decidi realizar uma pequena pesquisa.
Descobri, sem grandes dificuldades, que em 2016 foram abatidas a tiros nada menos que 123 pessoas por dia sobre o solo deste tão pacífico Brasil – que “felizmente não tem este tipo de coisa”.
É realmente curioso: o fato de aqui no Brasil matarmos três vezes mais gente a tiros praticamente não é notícia, ressalvadas algumas publicações isoladas – a maior parte delas em seguida à divulgação de estudos sobre o tema ou homicídios praticados contra pessoas emblemáticas. Um quadro desses, que deveria ser enfrentado energicamente, induzindo manifestações duras, investigações extensas e medidas extraordinárias, praticamente não é sequer objeto de debate! Aqui, o absurdo viu rotina.
Como explicar-se isso? Deve ser porque lá nos EUA mataram pessoas como nós – e aqui as vítimas, no mais das vezes, são “apenas” os miseráveis das periferias distantes, nas quais o Estado não entra. Longe dos olhos, longe do coração!
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