Marina Marquez e Noelle Oliveira, Revista Congresso em Foco
Em 1974, o economista Edmar Bacha cunhou uma expressão clássica para definir o Brasil. Na fábula “O rei da Belíndia”, retratou um país cuja elite vivia como os moradores da próspera Bélgica enquanto o grosso de sua população sobrevivia em condições precárias, similares às da Índia. Da junção do nome das duas nações, surgia o termo Belíndia. De lá para cá, o Brasil mudou. Avançou na distribuição de renda, na diminuição das desigualdades e, principalmente, na consolidação de uma das economias mais pujantes do planeta. Mas ainda conserva muito da Belíndia.
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No cenário internacional, o Brasil se destaca em um aspecto – possui a sétima maior economia do mundo. Mas, primeiro, tem crescido bem abaixo da grande maioria dos outros países. E, sobretudo, continua a ocupar péssimas colocações em áreas como saneamento básico, segurança pública e educação. Em 2013, a produção de todas as riquezas do país atingiu o imenso montante de R$ 4,8 trilhões. É esse o valor do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Ele soma os resultados da indústria, do setor de serviços e da agropecuária com o consumo das famílias, os gastos do governo, os investimentos realizados e as exportações, descontando as importações.
Vem daí o nosso “Pibão”. O problema é que ele mede a soma das riquezas, mas não o seu efetivo impacto na qualidade de vida das pessoas. “É absurdo supor que seria a mesma coisa avaliar crescimento econômico e desenvolvimento de um país”, diz o pesquisador do Núcleo de Economia Socioambiental do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga.
PublicidadeOutra dimensão a levar em conta é o descompasso entre o ritmo de crescimento de outras nações e o que atingimos durante o governo Dilma Rousseff. Com o apoio da barulhenta claque petista, Dilma tem considerado positivo o desempenho econômico brasileiro, se considerado o contexto de uma crise internacional. Mas a realidade não é bem essa.
De acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa de 2,3% de crescimento registrada em 2013 reserva ao Brasil a nada honrosa 119ª colocação mundial. Ficamos atrás da quase totalidade das potências emergentes e dos nossos vizinhos do continente americano. Chile, Uruguai, Colômbia e mesmo a encrencada Argentina cresceram todos mais de 4%. A China, 7,7%. O Paraguai, 13%. O africano Sudão do Sul, líder desse ranking, 24,4%. Superamos, é verdade, muitos países desenvolvidos, alguns dos quais estão às voltas hoje com taxas de desemprego mais altas que a brasileira, mas mesmo essas economias oferecem um nível de bem-estar para as suas populações do qual o Brasil continua distante.
“O PIB é a medida mais conhecida que temos, mas há consciência de que ele apresenta apenas um caráter geral. Tem muitas limitações. É insuficiente”, afirma o especialista em Finanças Públicas da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli. Para ele, as autoridades brasileiras têm “obsessão” com o acompanhamento do PIB e ignoram outros importantes resultados. “O PIB alto ou baixo não pode ser o único parâmetro, a qualquer custo ou preço”, critica.
O PIB dá o valor de mercado da produção total de um país. Não considera, no entanto, as questões sociais e o impacto das riquezas produzidas efetivamente na população, tampouco se essas riquezas chegam igualitariamente a todos. Corrigir essas distorções, para os economistas, tem sido o maior desafio a fim de entender os verdadeiros resultados dos países. “Sem produção, não há o que distribuir. No entanto, essa primeira fotografia ampla tem que ser vista nos detalhes”, avalia o economista da PUC-SP Antônio Carlos Alves dos Santos.
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