Folha de S. Paulo
Procuradoria prepara ação contra ex-governador do DF
Ficou pronta a denúncia que levará à Justiça os envolvidos no maior escândalo de corrupção da história do Distrito Federal, o mensalão do DEM, que levou à queda do governador José Roberto Arruda em 2010. Pelo menos 25 pessoas devem ser denunciadas ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Responsável pelo inquérito, a subprocuradora-geral Raquel Dodge, da equipe do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quer entregar a denúncia até junho.
No dia 24 de abril, ela recebeu o último lote de informações que pediu ao governo do DF: um documento referente a pagamentos feitos a empresas de tecnologia que repassaram dinheiro a políticos envolvidos no escândalo. Essas empresas eram contratadas para prestar serviços ao governo do Distrito Federal. A subprocuradora dirá que os repasses comprovam que o esquema foi alimentado por recursos públicos. A denúncia incluirá Arruda e integrantes de seu governo, como o vice Paulo Octávio e o ex-secretário Durval Barbosa, que delatou o esquema. Os donos das empresas também serão acusados.
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Laudo da PF fragiliza defesa da Delta em CPI
Laudo da Polícia Federal revela que a empreiteira Delta enviou dinheiro a partir de agências bancárias no Rio a empresas de fachada no Centro-Oeste. Os pagamentos foram feitos via contas com o CNPJ nacional da Delta. Isso fragiliza o argumento da CPI do Cachoeira para limitar a investigação sobre a Delta ao Centro-Oeste e mostra que a empresa não permitia operações financeiras sem o conhecimento da matriz.
Para o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), “não há indícios para a quebra ampla, geral e irrestrita [de sigilos] da Delta e do [seu dono] Fernando Cavendish”. Se a CPI quebrar o sigilo da empresa só em Goiás ou Brasília, não devem aparecer as operações com laranjas que, segundo o inquérito, alimentavam o grupo de Cachoeira. Uma das empresas que a PF diz ser de fachada é a Pantoja Construções e Transportes, que recebeu R$ 26,2 milhões da Delta. O dinheiro saiu de contas em agências na av. Rio Branco e rua da Assembleia, no Rio, a 300 metros da sede da empreiteira.
Investigação no Congresso é a mais lenta em 20 anos
Com potencial para envolver parlamentares e três governadores, a CPI do Cachoeira chega a quase um mês de existência com a marca de comissão mais lenta dos últimos 20 anos entre as destinadas a investigar corrupção. A Folha analisou outras dez grandes comissões de inquérito criadas desde a CPI do Collor (1992). Nunca antes, em seus primeiros 15 dias de trabalho (descontados fins de semana, feriados e recessos), uma comissão ouviu tão poucos envolvidos e demorou tanto para tomar seu primeiro depoimento público.
Na última semana, a CPI foi alvo de acordo entre governo e oposição para limitar o alcance das investigações. A primeira tomada de depoimento público, do empresário Carlinhos Cachoeira, está marcada para terça-feira. A previsão inicial era de que fosse na semana passada, mas seus advogados conseguiram no Supremo suspender a sessão alegando não terem tido acesso ao processo. Mesmo que o depoimento tivesse ocorrido, o cenário da CPI em relação a comissões anteriores não mudaria. Ainda que sejam contabilizados os depoimentos secretos dos delegados responsáveis pelas operações Vegas e Monte Carlo, a produtividade da comissão é muito menor. Em média, no mesmo período, as outras CPIs tinham realizado oito depoimentos.
Após queda de 2 prefeitos, Campinas vive paralisia
Um ano depois de mergulhar em sua maior crise política, um escândalo de corrupção que provocou a queda de dois prefeitos, Campinas (SP) vive uma situação de paralisia administrativa. A investigação andou pouco, e o processo, iniciado com a denúncia contra 19 servidores e empresários, ainda está em fase inicial na Justiça.
Desde a deflagração da operação, em 20 de maio de 2011, as apurações do Ministério Público desencadearam trocas de cadeira na prefeitura e problemas de gestão. Investimentos em asfalto, remédios e obras do Pronto Socorro Metropolitano sofreram atrasos. A reforma do teatro Castro Mendes foi adiada pela quarta vez, e o teatro do Centro de Convivência Cultural está fechado por infiltrações e falhas elétricas. O prefeito Pedro Serafim (PDT), eleito há 40 dias pela Câmara Municipal para um mandato-tampão até dezembro, já enfrenta a primeira greve do funcionalismo. Até a orquestra da cidade aderiu ao movimento.
Protesto em SP pedirá veto a nova lei florestal
Um ato em São Paulo pretende reforçar hoje a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff pelo veto integral à reforma do Código Florestal, aprovada na Câmara em abril. Ela tem até o dia 25 para sancionar ou vetar o texto, na íntegra ou em partes. A concentração está marcada para as 10h, em frente ao Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, e faz parte da campanha “Veta Tudo, Dilma!”, organizada pelo Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável e pelos movimentos Floresta faz a Diferença e Mangue Faz a Diferença.
Indústria fraca atrasa retomada do crescimento
Projeções de analistas do mercado financeiro indicam que o governo conseguirá neste ano elevar a cotação do dólar, como vem pleiteando a indústria, e baixará a taxa de juros a piso inédito. Ainda assim, o resultado será crescimento modesto, com chance de ser menor do que o do ano passado. O principal entrave é a indústria. Mesmo com dólar valorizado, o setor enfrenta dificuldades e retarda a retomada.
O desempenho fraco no primeiro trimestre levou economistas a projetarem um crescimento de 3,2% em 2012, próximo ao do ano passado (2,7%), o que foi considerado pouco pelo próprio governo. Tendências e LCA já preveem expansão ainda menor: 2,5% e 2,6%. Na sexta, após divulgação da prévia do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, as revisões continuaram. Estudo dos economistas Zeina Latif e Marcelo Gazzano mostra que a crise na indústria vai além de câmbio e juros. Está ligada ao custo da mão de obra, que continua a subir apesar da atividade fraca, e mina a competitividade.
Filha de guerrilheiros quer resgatar memória dos pais
Ñasaindy Barrett de Araújo, 44, sabe bem a diferença entre memória e lembrança. “Lembranças são as imagens do que vivi. Memória é o que aprendo do passado.” Sem lembranças de seus próprios pais, ela espera que a Comissão da Verdade a ajude a reconstruir ao menos a memória de quem eles foram. Os pais de Ñasaindy (o nome quer dizer ‘Claridade do Luar’, em guarani), militantes de esquerda, apaixonaram-se em Cuba, então a meca da revolução mundial, e ela nasceu.
A menina era um bebê de poucos meses quando o pai e logo depois a mãe voltaram ao Brasil para fazer a revolução. E deixaram-na na ilha. O pai, José Maria Ferreira de Araújo, era um jovem que havia participado do levante dos marinheiros e fuzileiros navais, em 1964, ainda antes do golpe militar. Expulso da Marinha, Araújo viajou a Cuba para aprender técnicas de guerrilha.
Vítima de bomba também espera receber reparação
Em 19 de março de 1968, a ALN (Ação Libertadora Nacional), dissidência armada do Partido Comunista Brasileiro, que lutava contra o regime militar, colocou uma bomba na entrada do estacionamento do Conjunto Nacional, em plena avenida Paulista (centro de São Paulo). Orlando Lovecchio Filho, então com 22 anos, que não era nem americano, nem um gorila da repressão, mas um cara “apolítico, que curtia iê-iê-iê, carros e aviões”, como se define, perdeu parte da perna esquerda. “Meu consolo foi pensar no Roberto Carlos”, ele revela. Criado em Santos, Lovecchio tinha acabado de aterrissar em São Paulo. O pai o mandara para a capital a fim de cuidar dos negócios da família, que lidava com navegação marítima.
Guerra nos transportes
A semana em que dois trens do metrô se chocaram em São Paulo terminou com uma certeza para o PSDB: o transporte público na cidade será um dos temas mais explorados pelo PT na eleição. O petista Fernando Haddad aproveitou o episódio para repisar, por dias a fio, a expressão “apagão dos transportes”: ele acusa o PSDB de ter sucateado a infraestrutura da capital.
Mas foi no dia do acidente, na quarta-feira, que ele ensaiou o ataque mais incisivo: disse que o caso não era um fato “isolado” e relembrou a cratera que se abriu na obra do metrô em Pinheiros (zona oeste), em 2007, matando sete pessoas. Com isso, Haddad mirou no futuro adversário José Serra (PSDB), então governador. A equipe do tucano disse que ele não responderia, pois acidentes “não se prestam a exploração eleitoral”.
Petistas e tucanos já preparam discursos para o horário na TV
Ao inédito choque de trens do metrô sobreveio, imediatamente, uma trombada entre PT e PSDB que vai desembarcar no horário eleitoral na campanha paulistana. Os tucanos acusam os petistas de “comemorar” o acidente que deixou 49 feridos na semana passada. Isso porque as imagens de pessoas sendo socorridas em macas e ambulâncias reforçou o discurso que o candidato do PT, Fernando Haddad, vinha martelando, de “apagão” no transporte de São Paulo.
Os partidários de Lula e Dilma Rousseff respondem que não se trata de celebrar, mas sim de constatar a ineficiência do modelo tucano de gestão nos transportes. Para tentar comprovar a tese, os petistas pretendem levar números negativos no setor que não pouparão nem a gestão de Mario Covas, que morreu em 2000, em seu segundo mandato no governo.
O Estado de S. Paulo
Torpedo pode ampliar CPI
O torpedo do deputado Candido Vaccarezza ao governador Sérgio Cabral compromete a estratégia do PT de limitar as investigações da empresa Delta ao Centro-Oeste e escancara o propósito do partido de transformar a CPI num tribunal exclusivo para réus adversários. O que já estava difícil parece agora improvável e reforça em setores do partido a sensação de que a criação da comissão pode ter sido uma iniciativa politicamente equivocada.
A mensagem do deputado não é o único fator a conspirar contra o limite por ora imposto pelo PT. Na avaliação de parlamentares com ampla experiência em CPIs passadas, a investigação da Delta no Centro-Oeste produzirá informações sobre a movimentação financeira entre a matriz da empresa e suas filiais, tornando inevitável a extensão do processo a outros Estados, onde estarão também as digitais do contraventor Carlos Cachoeira.
Senado supera governismo da Câmara em 2012
Maior dor de cabeça de Luiz Inácio Lula da Silva durante sua gestão, o Senado está cada vez mais dilmista. A taxa média de governismo dos senadores cresceu em 2012 na mesma proporção que diminuiu a adesão dos deputados federais ao governo de Dilma Rousseff. Hoje, o Senado é mais governista do que a Câmara. É o que revela nova funcionalidade do Basômetro, ferramenta online de avaliação do Congresso desenvolvida pelo Estadão Dados. Os votos nominais dos senadores na atual legislatura foram incorporados pelo Basômetro.
Em 13 votações abertas ocorridas no Senado em 2012, o governo conseguiu em média 84% dos votos. Na Câmara, no mesmo período, ocorreram 18 votações nominais e o governo obteve um resultado pior em 10 pontos porcentuais: capturou “apenas” 74% dos votos dos deputados, em média. Em 2011 a situação era inversa. A taxa de governismo de 2011 no Senado foi de 78%, enquanto a da Câmara ficou em 80%.
Apoiadores protagonizam eleição em SP
Dois cabos eleitorais de estaturas políticas distintas estão prestes a entrar em cena na disputa pela Prefeitura de São Paulo. A 40 dias do início da campanha, o PT prepara terreno para o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Fernando Haddad, um candidato praticamente desconhecido. No campo do PSDB, José Serra pretende apresentar como trunfo projetos lançados pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD), mas enfrentará o desafio de driblar o alto índice de rejeição de seu aliado.
Com Haddad congelado no patamar de 3% das intenções de voto, a cúpula da campanha petista depende de Lula para impulsioná-lo, com base em pesquisas que mostram que o ex-presidente pode mobilizar quase metade do eleitorado a favor de seu apadrinhado. Lula seria o principal cabo eleitoral petista em São Paulo, uma vez que a presidente Dilma Rousseff ainda hesita em fazer demonstrações significativas de apoio ao pré-candidato. No PSDB, Serra levará ao palanque um cabo eleitoral que tem como trunfo uma carteira de projetos vultosos e um orçamento de R$ 38 bilhões, mas que é desaprovado por 58% dos paulistanos. Kassab ainda traz na bagagem o peso do escândalo que envolve um diretor da secretaria municipal de Habitação, suspeito de enriquecimento ilícito.
OAB leva morte de JK para Comissão da Verdade
A recém-instalada Comissão da Verdade vai ter de se debruçar sobre diversos casos ainda nebulosos, mas deverá analisar também um processo há muito considerado encerrado. A seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) quer uma nova investigação sobre a morte de Juscelino Kubitschek e, para isso, enviará nos próximos dias à comissão os documentos do caso. JK morreu aos 73 anos, em agosto de 1976. Segundo a versão oficial, ele foi vítima de um acidente na Via Dutra, em Resende (RJ), depois de o motorista Geraldo Ribeiro perder o controle do Opala no qual transportava o ex-presidente e bater em um caminhão na pista contrária. Na ocasião, a culpa caiu sobre Josias Nunes de Oliveira, motorista de um ônibus da Viação Cometa que teria feito Geraldo perder o controle do carro. Geraldo foi absolvido em dois julgamentos e, para familiares e amigos, o mistério permanece.
Investigada na CPI, Delta pode perder R$ 1,2 bilhão em contratos com União Empresa está no epicentro do escândalo Ameaçada de ficar impedida de celebrar novos contratos com a União, a Delta Construções, investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, também pode perder R$ 1,2 bilhão a receber de contratos em andamento. O valor equivale a parcela não paga de obras federais programadas para sair do papel até dezembro de 2015. A contabilidade foi feita pelo Estado a partir de dados fornecidos pela Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, a empreiteira que liderou o ranking de pagamentos do governo a empresas durante três anos – de 2009 a 2011 – mantém 108 contratos de obras com a União, a maioria deles com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), vinculado ao Ministério dos Transportes.
‘Juiz que começa a agir como justiceiro nega a Justiça’
Advogado do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) no mensalão, Marcelo Bessa diz que a pressão da opinião pública e as eleições não interferem no julgamento no Supremo Tribunal Federal. E que o tribunal não atuará como justiceiro. “O STF, como guardião da Constituição, sabe que a essência da Justiça é a criminal. O juiz criminal que inova tipo, faz analogia, estende tipo penal e começa a agir como justiceiro nega a Justiça.” Além de negar a existência de provas, reafirma a tese de que houve só crime eleitoral e que o MP inventou a existência de dinheiro público no mensalão apenas para atingir o ex-ministro José Dirceu.
STF ‘fura’ prazos para votar mensalão
Mantido nas prateleiras e gabinetes do Supremo Tribunal Federal (STF) há quase sete anos, o processo do mensalão “furou” todos os prazos estimados pelos ministros da Corte e, agora, produzirá um efeito que muitos queriam evitar: a combinação de seu julgamento com eleição.
A agenda do julgamento depende do ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo. Somente quando ele terminar o voto, a ação estará pronta para ser julgada. O ministro começou nessa semana a escrever seu voto com a ajuda de dez assessores. Concluirá o trabalho em meados de junho, como adiantou o Estado, o que permitirá o julgamento em agosto, às vésperas do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV – no dia 21 de agosto.
Reservadamente, ministros fizeram cronogramas próprios para saber quando e por quanto tempo o processo seria julgado. Em todos os cálculos, as chances de julgamento no primeiro semestre se esgotou. Pelos cálculos do relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, haveria tempo suficiente para concluí-lo no primeiro semestre se Lewandowski liberasse seu voto até a semana passada, o que não ocorreu.
Caso chegou ao Supremo em 2005
O caso do mensalão chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) em julho de 2005 e é considerado um dos processos mais complexos que já passaram pela Corte, com mais de 50 mil páginas relatando o maior escândalo do governo Lula. Em 2007, o Supremo aceitou a denúncia contra os 40 réus propostas pelo Ministério Público Federal. Posteriormente, esse número caiu para 38, pois foram excluídos do inquérito o ex-secretário do PT Silvio Pereira, que fez um acordo com o Ministério Público, e o deputado José Janene, que morreu.
Veremundo e cavendish: elo no sertão
Um casarão no meio do semiárido pernambucano guarda duas memórias de poder e corrupção. Pelos corredores e salas do Chalé Villa Maria, construído em 1919, em Salgueiro, a 518 quilômetros do Recife, entrecruzam-se uma história do coronelismo e outra do tempo presente. O palacete serviu de residência para Veremundo Soares (1878-1973), um dos mais conhecidos coronéis do sertão, e mais recentemente foi cenário de festas juninas que contaram com a presença do bisneto dele, Fernando Soares Cavendish, dono da Delta, empreiteira envolvida no escândalo Cachoeira.
Foi do Villa Maria que Veremundo mandou e desmandou. Foi um visionário, dizem seus descendentes. Sempre atrás de benesses do governo, curtia a vida, se possível ao lado de homens poderosos, e vivia à sombra de políticos que estavam no comando, narram historiadores. A poucos quarteirões do casarão, o engenheiro Inaldo Soares, do antigo DNER, neto do coronel, montou em 1961 uma empresa especializada em recuperar rodovias, a Delta Construções, transferida depois para Recife.
Mesmo combalida, Delta quer contratos
Apesar do risco de ser banida da lista de fornecedores da União, a Delta está de olho em contratos de vulto no governo federal. Só no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão no qual concentra atividades, a empreiteira participa de licitações para executar três grandes obras e serviços, cujos investimentos previstos somam R$ 904 milhões.
Se prosperar nas disputas, a Delta aumentará em quase 40% o valor de seus contratos ativos no Dnit, que alcançam R$ 2,3 bilhões. A Controladoria-Geral da União (CGU), que toca a investigação para apurar a inidoneidade, diz que, até uma decisão, não há restrições para que a construtora participe de licitações. Contudo, as parcerias podem ser canceladas após uma eventual decisão desfavorável a ela. Na semana que vem, a empresa deve apresentar sua defesa ao órgão.
Odair Cunha garante que não haverá ‘pizza’
Na semana em que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira patinou, o relator Odair Cunha (PT-MG) decidiu subir o tom e reagir às críticas de que será o patrono de uma “pizza”. Para se defender, elaborou documento no qual chama de “circo” CPIs que expuseram “desnecessariamente a vida privada ou mesmo a própria imagem de seus investigados”. E manda um recado aos parlamentares: o roteiro a ser seguido é o plano de trabalho aprovado, “do qual não nos desviaremos ao sabor de disputas político-partidárias”. No documento, garante que vai propor a quebra de sigilo dos parlamentares envolvidos com o contraventor. E avisa que não desistiu de mirar a imprensa.
“Há que se lembrar de CPIs que naufragaram nos egos de seus integrantes, que pegaram fogo como a lona do circo que se propuseram ser. Garanto que este não será o caso”, afirma Cunha, em documento que deverá ser divulgado esta semana. Acalentando o sonho de vir a ser o candidato do PT ao governo mineiro, em 2014, Cunha tenta dar uma resposta às acusações de que poupou a empreiteira Delta e seu proprietário, Fernando Cavendish, além de governadores e parlamentares envolvidos no esquema de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
O Globo
Mais de 3 mil são vítimas de empréstimos fraudulentos
Até para quem não sabe ler, o apelo é tentador. Letreiros coloridos exibem reproduções de notas de R$ 50 e R$ 100 e imagens de idosos sorridentes. “As melhores conquistas também fazem parte da melhor idade”, diz um deles. “Mais rápido e pronto para resolver seus problemas”, promete o outro. No comércio de Coroatá, cidade do cerrado maranhense a 276 quilômetros de São Luís, casas de empréstimo consignado estão em cada esquina. Elas chegaram dispostas a democratizar o acesso ao crédito “fácil, sem consulta ao SPC ou avalista”, mas tudo o que conseguiram foi levar para o sertão uma epidemia que se espalha pelo país: o golpe do superendividamento, embalado pela exploração da boa-fé de aposentados e pensionistas.
Em PE, Defensoria denuncia que há idosos com até 17 empréstimos
Aos 85 anos, o agricultor aposentado Diocleciano Pedro de Lima, morador da Fazenda Jardim, município de Floresta — a 439 quilômetros do Recife — não sabe mais o que fazer para recuperar o prejuízo da mulher, Maria Honorina de Jesus, 81. Desde outubro do ano passado, ela vem recebendo sua aposentadoria com desconto devido a um empréstimo consignado que não solicitou. Não chegou, sequer, a ver a cor do dinheiro. Mas todo mês, o benefício vem incompleto. Ele já foi várias vezes à agência do Banco do Brasil pedir uma explicação. Mas nada aconteceu.
Legista da ditadura promete revelações na comissão
Ex-diretor do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo nos anos 70, o legista Harry Shibata diz que tem revelações a fazer para a Comissão da Verdade, que apura os crimes da ditadura. Aos 85 anos, vivendo recluso em uma casa de dois pavimentos e piscina no Alto de Pinheiros, Shibata nega a maior acusação que pesa contra ele, a de falsificar laudos e atestados de óbitos para esconder torturas e mortes no regime militar. O legista assinou a autópsia do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, que morreu sob tortura, mas teve sua morte divulgada como suicídio. É acusado de ter falsificado outros inúmeros laudos. Assinou o laudo de Sonia Maria de Moraes Angel Jones, que, depois de torturada, teve seus seios arrancados e foi estuprada com um cassetete. A versão do legista foi de morte em tiroteio.
Rio tem 31 desaparecidos políticos na ditadura
Então um menino de 11 anos, Marcelo Rubens Paiva mal acordara e seu pai Rubens Paiva, 41 anos, já havia sido levado de casa por policiais, na manhã do dia 20 de janeiro de 1971. O universitário Stuart Angel Jones, 26 anos, vivia com identidade falsa por suas atividades no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) desde o fim de 1968, por isso, quando militares o levaram em 14 de junho do mesmo ano, a família sequer testemunhou a prisão. Dois anos depois, em outubro de 1973, o estudante Ramires Maranhão do Valle, 23 anos, militante clandestino do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), também foi preso pela polícia sem que ninguém visse. Como os outros, em dezembro, o major da reserva, Joaquim Pires Cerveira, 50 anos, teve destino semelhante. Todos eles desapareceram.
‘Quero é saber quem assassinou o Vlado’, diz viúva de Herzog
A caminho do escritório, Clarice Herzog passa todos os dias na Rua Zapara, Alto de Pinheiros, em São Paulo, onde mora Harry Shibata. Não sabia que apenas 300 metros a separavam do homem que pode ajudar a elucidar a morte de Vladimir Herzog, o Vlado, até que o Levante Popular da Juventude promoveu um “esculacho” na porta do legista, em abril. — Eu nem sabia que Shibata continuava vivo. Eu vi os cartazes nos postes da minha rua com a foto dele. Só então me dei conta. É o passado presente — disse Clarice, por telefone ao GLOBO.
A viúva de Herzog participou na semana passada da cerimônia de posse da Comissão da Verdade, em Brasília: — Não adianta esperar que a comissão traga alívio para a mágoa, a dor e a perda. O que eu quero é saber quem assassinou o Vlado. Para Clarice, Shibata tem a resposta. O legista deu a entender que sabe muito: — Se a Clarice viesse aqui conversar comigo, eu a receberia com todo o prazer. Para ela, eu poderia até contar tudo o que eu realmente sei. Eu falaria com ela por uma questão de solidariedade.
Manifestantes realizam Marcha da Maconha na Av. Paulista, em SP
Ao som de batuque, fogos de artifício, apitos, pelo menos 2 mil pessoas, segundo a estimativa da Polícia Militar (PM), realizaram, na tarde deste sábado, a Marcha da Maconha, na Avenida Paulista. A manifestação teve início às 16h25 e durou pouco mais de duas horas. Diferente do que ocorreu no ano passado, quando manifestantes e policiais entraram em confronto, a PM não registrou nenhum incidente na edição deste ano. As palavras de ordem variaram: “Ei polícia, maconha é uma delícia!”,“ Meu ideal é maconha no quintal“, “Kassab tenha vergonha, o ‘busão‘ (ônibus) é mais caro que a maconha”, “Nós apoiamos o MST”. A passeata saiu do vão livre do Masp, por volta das 16h30m, e foi aberta com um enorme tubo de papelão que simulava um cigarro de maconha, trazido por um grupo de jovens.
O público se dividiu entre usuários e não usuários que são a favor da legalização do uso da maconha no país. Harth Brito, 22 anos, diz que é contra o ato de criminalizar os movimentos sociais. — A proibição da maconha leva à violência contra os negros e os pobres. Tem mais gente presa por tráfico do que por assassinato ou roubo – afirmou Brito. Um jovem de 15 anos, que admite usar maconha ocasionalmente, acredita que a legalização vai acabar com o tráfico. — E vamos ter menos problemas — opinou o rapaz.