O Globo
Na maior mobilização contra o aumento das passagens de ônibus, cerca de 240 mil manifestantes ocuparam ontem as ruas de 11 capitais brasileiras. Em São Paulo, o protesto mobilizou cerca de 65 mil pessoas, que desta vez não enfrentaram as balas de borracha e as bombas de gás lacrimogêneo da polícia. O governo do estado cumpriu a promessa de manter a Tropa de Choque aquartelada. À noite, um grupo tentou invadir o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado.
Houve confrontos no Rio, onde um grupo isolado lançou coquetéis molotov no prédio da Assembleia Legislativa e feriu cinco policiais militares. A passeata reuniu cerca de 100 mil pessoas, segundo os organizadores. Em Belo Horizonte, houve confronto com a PM nas imediações do Estádio do Mineirão. Em Brasília, os manifestantes invadiram, em dois momentos, o teto do Congresso Nacional aos gritos de “a-ha, u-hu, o Congresso é nosso”.
Sem a predominância de bandeiras de partidos políticos, sindicatos ou entidades estudantis, os protestos lembraram as grandes mobilizações sociais do passado, como os comícios pelas Diretas Já (1984) e o movimento dos caras-pintadas (1992). A diferença foi a força demonstrada pelas mídias sociais, decisivas não apenas para a mobilização como para o registro de cada detalhe das manifestações em tempo real, e a diversidade de palavras de ordem.
Além do clamor contra o reajuste das tarifas de ônibus, foram ouvidos gritos contra os gastos públicos com a Copa do Mundo e contra a PEC 37, projeto que busca tirar dos Ministérios Públicos o poder de investigação.
‘Primavera carioca’ leva multidão de manifestantes ao Centro
Grandiosa e plural. Milhares de pessoas tomaram, a partir do fim da tarde de ontem, as principais vias do Centro do Rio para protestar contra o aumento das passagens de ônibus, indo em passeata até a Cinelândia. Foi o quinto ato desse tipo na cidade nos últimos dias. Os manifestantes, que começaram a se concentrar na Candelária, transformaram a Avenida Rio Branco num tapete humano. Havia gente de todas as idades, a maioria vestida de branco para marcar o tom pacífico da manifestação. No final, porém, um incidente foi provocado por um grupo que tacou pedras no prédio da Assembleia Legislativa do Rio, quebrando janelas e lustres, e ateou fogo num carro.
De acordo com a polícia, o ato reuniu cerca de 30 mil pessoas, enquanto os manifestantes falavam em 100 mil. Já especialistas da Coppe/UFRJ estimaram que havia em torno de 80 mil pessoas. A passeata foi acompanhada por cerca de 150 policiais. A Polícia Militar informou que tinha orientação de apenas acompanhar a passeata.
Já era noite quando os manifestantes ocuparam a Rio Branco, carregando flores, faixas e cartazes. Do alto dos prédios comerciais da avenida, uma das mais importantes da cidade e palco de outros momentos importantes da história política do país, trabalhadores jogavam papel picado e gritavam palavras de apoio. Muitos aplaudiam ou, em mais um sinal de apoio, faziam piscar as luzes dos escritórios.
Além dos estudantes, que deram início ao movimento, muitos pais aderiram. A psicanalista Sandra Landim, de 47 anos, por exemplo, estava com a filha Joana, de 13, aluna do 7º ano do ensino fundamental. Era a primeira vez da adolescente num protesto.
Violência no fim de um protesto pacífico
A manifestação se transformou em confronto quando participantes tentaram invadir o prédio da Assembleia Legislativa (Alerj), na Rua Primeiro de Março. Um veículo de passeio, estacionado na Rua São José, foi incendiado por vândalos, e outros três carros – um da PM – foram depredados. Cinco policiais ficaram feridos, segundo a corporação. Três manifestantes foram atendidos em hospitais.
O vandalismo se estendeu pelas ruas próximas, onde lojas e agências bancárias tiveram vidros destruídos. Um restaurante foi depredado, e uma loja da Chocolate Brasil, saqueada por cerca de 50 pessoas. O Paço Imperial e a Igreja de São José acabaram pichados. Era possível ler: “Ordem e Progresso”.
Já era noite quando manifestantes se agruparam, deixaram a Rio Branco e seguiram em direção à Alerj. No local, havia PMs e grades cercavam o imóvel. Os manifestantes, então, passaram a atirar fogos de artifício e pedras contra os policiais, que revidaram com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Vidraças e luminárias foram quebradas.
Mais de 65 mil vão às ruas e param SP
Numa manifestação pacífica, marcada pela mudança no comportamento da Polícia Militar, milhares de pessoas lotaram ontem vários pontos de São Paulo. À noite, a PM contabilizava o número do 65 mil manifestantes, levantado pelo Datafolha. O Movimento Passe Livre (MPL) falava em 100 mil nas ruas. Já com o protesto contra o aumento das tarifas do transporte coletivo em dispersão, durante a noite, um grupo foi até o Palácio do Bandeirantes, gritando palavras de ordem, no momento mais tenso no dia. Não havia sido registrado confronto até o fechamento desta edição.
A concentração da quinta e maior mobilização em São Paulo aconteceu no fim da tarde no Largo da Batata, em Pinheiros – cuja maior parte do comércio, incluindo o Shopping Iguatemi, foi fechada. Depois, o grupo se dividiu entre a Avenida Faria Lima e a Marginal Pinheiros, para mais tarde se encontrar na Ponte Estaiada, Brooklin, em direção ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, onde teve novo protesto.
Um outro grupo, este sem a liderança do Movimento Passe Livre (MPL), seguiu para a Avenida Paulista, onde edifícios apareceram com panos brancos pendurados nas janelas, e manifestantes gritavam frases contrárias à violência. Nenhum incidente foi registrado até às 22h. Manifestantes também foram ao Parque do Ibirapuera e à Assembleia Legislativa de São Paulo.
O MPL convocou novo protesto para hoje, às 17h, da Praça da Sé, centro de São Paulo. Antes, o grupo deve participar de reunião na sede da prefeitura.
Tribos e convicções para todos os gostos em ato
Para o dono do bar Guela Seca, no Largo da Batata, manifestações sem Tropa de Choque são melhores. Não que ele tenha ficado penalizado com manifestantes marcados com balas de borracha, na semana passada. É que da última vez, com a barreira policial, as coxinhas encalharam. Ontem, o clima de paz só não permitiu felicidade maior porque, em vez de cerveja, mais cara, o povo queria água. Nada mais.
“Saímos do Facebook”, dizia a cartolina cor de rosa aberta por uma jovem que circulava sorridente em meio a enormes faixas abertas pela turma dos politicamente engajados, que levavam cartazes de partidos políticos. Outro grupo, de adolescentes com espinhas no rosto, irrompeu no largo animado. Eram alunos do Colégio São Luís, na Avenida Paulista, todos na faixa de 16 e 17 anos, entusiasmados por irem juntos à rua, sem pais ou professores, para manifestar opinião sobre alguma coisa.
Não muito longe, um pouco acanhado, um garoto de 15 anos estava com a mãe, uma psicanalista, orgulhosa de ver o filho ter saído da frente do computador para ir às ruas. Zelosa, foi junto.
– Não é só o ônibus. É a corrupção. É o gasto absurdo com estádios que só servirão a turistas enquanto faltam hospitais – disparou o menino sob olhar embevecido da mãe.
Em Brasília, teto do Congresso é tomado
Milhares de manifestantes furaram todos os cercos e conseguiram ontem tomar a frente, o espelho d”água e até o teto do Congresso Nacional, onde ficam as cúpulas que representam Câmara e Senado. O Congresso ficou cercado. O protesto gerou uma confusão generalizada e alguns confrontos isolados entre ativistas e policiais militares.
O presidente em exercício da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR), ligou para o governador Agnelo Queiroz, pedindo reforço policial para proteger o prédio do Congresso. As principais entradas do Congresso e seus anexos tiveram a segurança reforçada, numa tentativa de evitar que os manifestantes conseguissem entrar nas duas Casas.
Os manifestantes tentaram, ainda, entrar pela porta principal, a chamada chapelaria, mas foram barrados por uma fila de PMs. Um martelo foi atirado contra as vidraças, que não se quebraram.
Um dos momentos mais tensos foi quando policiais militares ameaçaram dispersar os ativistas que ocuparam a parte superior do Congresso. Houve correria e risco de queda do alto da laje onde estão as cúpulas. Derrotada na tentativa de blindar a Câmara e o Senado, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal ordenou o envio de vários policiais ao Palácio do Planalto para evitar a invasão dos ativistas na sede do governo federal.
O embrião do protesto de ontem, que reuniu 5 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, e 15 mil, segundo os organizadores, foi o mesmo da manifestação que tomou conta da frente do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha no último sábado, dia do jogo de abertura da Copa das Confederações.
Protestos em 11 capitais; estudante leva tiro em Maceió
Ao todo, os manifestantes tomaram as ruas de 11 capitais ontem. Além de Rio, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, houve protestos em Salvador, Maceió, Vitória, Porto Alegre, Fortaleza, Curitiba e Belém. Em Maceió, um estudante levou um tiro no rosto, na Avenida Fernandes Lima, que estava interditada nos dois sentidos. Um motorista tentou furar o bloqueio forçando passagem. Os estudantes começaram a bater no carro dele, quando houve o disparo de arma de fogo. O autor do tiro ainda não foi identificado.
Em Porto Alegre, houve confronto e a Brigada Militar usou bombas de gás lacrimogêneo para conter manifestantes. O Batalhão de Operações Especiais fez um cordão de isolamento na Avenida Ipiranga, perto da Avenida Erico Verissimo. Depois de um início de protesto pacífico, ainda no Centro, houve atos de vandalismo durante a caminhada. Cerca de 15 mil pessoas protestaram em frente à prefeitura de Porto Alegre, com palavras de ordem contra a Copa do Mundo e repúdio aos partidos políticos.
Em BH, PMs e manifestantes entram em confronto
Milhares de manifestantes entraram em confronto ontem com a Tropa de Choque da PM de Minas, na região da Pampulha, perto do estádio do Mineirão. A polícia deu tiros com bola de borracha e usou gás lacrimogêneo e spray de pimenta para conter a multidão. Supostos excessos durante a ação serão investigados. No sábado, dia 22, data do jogo entre México e Japão, os manifestantes prometem uma nova mobilização.
Em protesto contra o preço das passagens de ônibus e os gastos com as obras da Copa do Mundo, estudantes e membros de movimentos sociais bloquearam a Praça Sete, no Centro, e a Avenida Presidente Antônio Carlos.
Segundo a PM, 20 mil participaram do ato. Os manifestantes estimam em 40 mil pessoas. Um homem de 18 anos, segundo a PM, caiu de um viaduto e foi encaminhado para o Hospital Risoleta Neves em estado estável. Segundo relatos, ele sofreu a queda quando corria do confronto. O confronto começou após a multidão ter rompido o cordão de isolamento feito pela polícia, em frente a UFMG.
Protestar, ato que reúne diferentes tribos
Ainda que jovens universitários sejam uma parcela significativa dos manifestantes nas principais cidades do país, eles não estão sozinhos. Iniciativas e grupos se formaram nas redes sociais para engrossar as fileiras de protestos. São mães de estudantes, aficionados por tecnologia, brasileiros no exterior e estrangeiros e inclusive gente que, na impossibilidade da presença física, garantiu apoio virtual.
Mãe da fotógrafa Anna Clara Carvalho, de 23 anos, a psicóloga Regina Coeli Carvalho, de 58, foi apoiar a participação da filha na manifestação de ontem no Rio. Sua presença foi também uma lembrança de outros atos dos quais ela própria participou no passado.
– Com 13 anos, estive na minha primeira manifestação de rua. Desde então, tenho participado de muitas. É muito cômodo criticar o comportamento dos jovens sem fazer nada.
Se queremos que as coisas mudem, devemos demonstrar nosso apoio, apesar da preocupação que possamos sentir por eles. Por isso, estarei também lá – afirma Regina. – Estou feliz de ver a minha filha engajada também porque ela é um reflexo do meu ativismo.
Redes sociais dão o tom da ‘revolta do vinagre’
A cena não era vista desde o impeachment de Collor, em 1992. Assim como na “Primavera árabe”, que lotou praças e derrubou ditadores, no Brasil, as redes sociais também impulsionam a escalada de protestos contra o aumento das tarifas de ônibus, tanto na mobilização dos participantes como na descrição dos fatos em tempo real. A publicação de vídeos, fotos e relatos na hora e logo após os protestos tomam conta de Youtube, Twitter, Facebook, Instagram e Tumblr.
Ontem, desde cedo, cartazes e fotos postados nas redes convocavam as pessoas a participarem, nas ruas ou em casa, das manifestações em oito capitais. Com tags, as etiquetas que filtram temas nas redes, usuários recomendavam o uso de roupas brancas e a colocação de bandeiras da mesma cor nas janelas na preparação de um movimento pacífico.
No Instagram, por volta das 18h de ontem, mais de 18 mil imagens foram postadas com a etiqueta #whitemonday, e 9.600 com #vemprajanela. #Vemprarua reuniu mais de 24 mil fotos. No Youtube, a lista dos dez vídeos mais vistos no Brasil foi inteiramente dominada pelo tema.
Manifestantes reagem à presença de partidos políticos
Os manifestantes que voltaram às ruas ontem rechaçaram a presença de partidos políticos que, desde o início da onda de protestos contra os aumentos das tarifas de passagens, estavam à margem desses atos. Ontem, no início da manifestação no Rio, houve um princípio de tumulto entre representantes de partidos políticos, que começaram a vaiar uns aos outros, mas foram rechaçados.
– Nenhum partido tutela esse protesto – afirmou um dos coordenadores da manifestação, do alto do carro de som.
Entre os manifestantes era possível ver cartazes que diziam “Nenhum partido me representa”. Muitos manifestantes tentaram convencer os integrantes de partido a recolher as bandeiras, sem sucesso.
Em Brasília, um militante da juventude do PT foi hostilizado pelos manifestantes que ocuparam o Congresso. Pedro Henrichs, da direção da juventude do partido no Distrito Federal (DF) assumiu a negociação com a Polícia Legislativa da Câmara, e ao sair por uma das principais entradas do Congresso, a Chapelaria, e se deparar com os ativistas, foi vaiado e duramente repreendido. Ele negociava a entrada no prédio e vestia uma camiseta que o identificava como integrante da ala jovem do partido.
Dilma: atos são legítimos e próprios da democracia
A presidente Dilma Rousseff se manifestou ontem, pela primeira vez e por meio de uma auxiliar, sobre os protestos que ocorrem nas ruas do país desde a semana passada. Segundo a ministra da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Helena Chagas, a presidente considera “legítimas e próprias da democracia” as manifestações pacíficas. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva usaram as redes sociais para se manifestar sobre os atos que ocorreram nas principais capitais do país, ontem, defendendo o direito de todos se manifestarem e pregando a negociação pacífica.
– As manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia. É próprio dos jovens se manifestarem – disse a presidente, segundo Helena Chagas, no fim da tarde, quando já era preocupante o protesto na Esplanada dos Ministérios e diante do Congresso.
Na tarde de ontem, a presidente se reuniu com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que fez um relato das manifestações pelo país. Cardozo, porém, não deu declarações. A ministra da Secom disse que a presidente não comentou as vaias no estádio Mané Garrincha, na abertura da Copa das Confederações:
– Isso não tem relevância.
Especialistas veem descrença dos jovens em relação à política
Os protestos que tomaram, ontem, as capitais do país mostram uma descrença dos jovens em relação à capacidade dos partidos políticos de articular e defender os interesses da sociedade civil, dizem sociólogos e cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO. Eles destacam, ainda, a diversidade de causas entre os manifestantes e a organização dos atos sem liderança definida.
– Ficamos alguns anos sem protestos do tipo, porque os movimentos que costumavam articulá-los conseguiram representatividade no Estado, ao longo da última década – diz
Sérgio Amadeu, doutor em Ciência Política pela USP: – O novo movimento não é de um partido político, mas tem vários atores. Os ambientalistas apoiam os ciclistas, que apoiam quem defende a liberdade na internet e assim por diante.
Amadeu, que acompanhou os protestos da semana passada e participou do movimento estudantil na juventude, vê uma grande diferença entre os manifestantes do passado e do presente: a ausência de liderança. Nos anos 1970, afirma, era comum obedecer às lideranças estudantis; hoje, embora o movimento tenha alguns representantes, ele é organizado de forma mais difusa. O que o torna mais resistente à repressão do Estado, já que não há como prender líderes para desarticulá-lo.
Comissão analisará cargo duplo de Afif
A Comissão de Ética Pública da Presidência abriu ontem procedimento ético para apurar o acúmulo de cargos do ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif, que também é vice-governador de São Paulo. O relator do processo será o conselheiro Marcello Alencar de Araújo. A comissão recebeu o parecer da Advocacia Geral da União (AGU), que autoriza Afif a ocupar os dois cargos, e as informações do próprio ministro, mas não está convencida dos argumentos apresentados.
Segundo o presidente da Comissão de Ética, Américo Lacombe, o colegiado poderá propor desde o arquivamento do procedimento até a exoneração do ministro, passando pela advertência. Na semana passada, Afif foi demitido temporariamente do cargo de ministro para assumir o governo de São Paulo, porque o governador Geraldo Alckmin viajou para a França.
Feliciano quer que ‘bolsa estupro’ tramite na comissão que preside
Dizendo-se esquecido pela imprensa, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), está prestes a criar mais uma polêmica. Ele quer levar para tramitar na comissão o Estatuto do Nascituro, proposta que prevê a criação da “bolsa estupro”, pensão mensal de um salário mínimo para a mãe vítima de estupro que gerar a criança.
O estatuto já foi aprovado na Comissão de Seguridade Social e na de Finanças e Tramitação. Atualmente, está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça e, depois, vai a plenário. Mas Feliciano, defensor da “bolsa estupro” e contra o aborto, quer submeter o texto à Comissão de Direitos Humanos. Ele enviou requerimento ao presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), na semana passada, e entende que direitos do nascituro são direitos humanos.
“O tema do Estatuto do Nascituro é de competência da Comissão de Direitos Humanos. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”, argumentou Feliciano no pedido.
O Estado de S. Paulo
Protesto se espalha pelo País e políticos viram alvo
Na maior passeata desde o começo do Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo, pelo menos 50 mil pessoas (segundo relatório do setor de Inteligência da Polícia Militar às 18 horas) caminharam pacificamente pelas zonas oeste e sul da capital paulista. O grito de guerra pela redução da tarifa de ônibus, metrô e trem – que era originalmente a pauta central – marcou presença, mas o coro foi engrossado por outras demandas como mais educação, fim da violência policial e contra todos os paitidos políticos.
A marcha seguiu o roteiro ditado pelos organizadores. Sem restrição da Polícia Militar, a passeata teve liberdade para tomar e fechar vias importantes da cidade. Começou com uma concentração no Largo da Batata, na zona oeste, e se dividiu em três: uma parte cruzou os jardins até a Avenida Paulista; outra pegou a Ponte Eusébio Matoso e Marginal do Pinheiros; e outra pela Avenida Brigadeiro Faria Lima até o Itaim-Bibi. As duas últimas divisões tinham o mesmo destino, a Ponte Octavio Frias de Oliveira. Lá, sobre o Rio Pinheiros, penduraram uma imensa bandeira preta com uma das frases tema da manifestação: “Se a tarifa não baixar, São Paulo vai parar”.
Depois de tomar a ponte, os grupos desceram pela Marginal do Pinheiros e foram em direção à Paulista, onde cerca de 2 mil pessoas já marchavam da Consolação ao Paraíso e voltavam. Um grupo até desceu para a Avenida 23 de Maio e fechou a via.
Paz. Em toda a passeata o clima foi de cessar-fogo entre a Polícia Militar e os manifestantes. Depois de quatro protestos com confrontos entre manifestantes e PM, o governo do Estado mudou de estratégia, chamou o grupo para uma reunião de manhã e descartou o uso da Tropa de Choque.
Na Avenida Brigadeiro Faria Lima, só seis PMs acompanhavam marcha de milhares de pessoas, entre eles o major Paulo Wilhelm de Carvalho. “A garantia que vai dar tudo certo é que só estamos nós aqui”, disse o major. “Até porque se não der sou o primeiro a ser trucidado!”, brincou.
Cardozo nega usar tema da segurança para se projetar: ‘Padilha é o candidato’
No momento em que crescem manifestações em várias capitais do País? te.ti.cl o como origem o protesto contra o aumento das tarifas de transporte coletivo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tenta agora desvincular sua atuação no episódio da disputa política em São Paulo. Apontado por tucanos como pré-candidato do PT à sucessão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Cardozo indicou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, como favorito para a empreitada. “Tudo indica que o candidato do PT será Padilha”, afirmou ele ao Estado. “Eu digo e repito: não sou candidato e esses boatos só atrapalham o debate sobre os problemas da segurança pública. Lamentavelmente, alguns parecem não querer que ocorra a necessária integração entre o governo federal e São Paulo”
Segundo Cardozo, “há uma tentativa da oposição de transformar os problemas da segurança pública em disputa política, usando dados distorcidos sobre gastos” “Não sei quantas vezes vou ter de dizer que não sou candidato”, insistiu.
Apressado, Padilha promove autofritura
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, parece desconhecer o dito popular de que “apressado come cru”. Em recentes conversas, ouviu conselhos de dirigentes do PT paulistano para que aguardasse um pouco mais e tivesse mais segurança sobre o cenário para só então se arvorar pré-candídato do partido ao governo de São Paulo.
Padilha não tem apoio da maioria petista para a empreitada e ainda patina na gestão de ministro, sem mostrar nenhum êxito como gestor da saúde. “Ele ainda parece ministro de Relações Institucionais do Lula; só quer saber de falar com prefeitos”, define um dirigente do PT na capital.
Fogo amigo; Viana pede que ministro seja ‘mais claro’
O primeiro-vice-presidente do Senado, o petista Jorge Viana (AC), cobrou ontem do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um “posicionamento mais claro” sobre o uso de balas de borracha em manifestações, como as passeatas pela redução da tarifa de transporte público.
O nome já diz; é bala. E aí dizer que não é Letal. Ela é letal, sim! Ela é menos letal do que a bala convencional, mas ela mata. E eu nunca vi tantos policiais no País usando armas letais contra manifestantes, Não é aceitável”, afirmou. O petista disse que nunca viu tamanho uso “desses instrumentos”, como armas de balas de borracha.
Afif também é alvo da Comissão de Ética federal
A Comissão de Ética Pública da Presidência da República abriu ontem processo para analisar a acumulação de cargos do ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos (PSD), que assumiu o posto sem deixar de ser vice-governador de São Paulo.
No mês passado, a comissão pediu esclarecimentos ao ministro sobre o acúmulo de cargos e Afif respondeu dentro do prazo de dez dias, informou o presidente do grupo, Américo Lacombe. Para ele, o problema de Afif é muito “maior” em São Paulo, pelo fato de o cargo de vice-governador ser eletivo.
O conselheiro Marcello Alencar de Araújo foi incumbido da tarefa de elaborar um relatório para ser votado pela comissão. Entre as opções possíveis estão a imposição de advertência ou até a recomendacão de exoneração de AM A próxima reunião da comissão esta marcada para 29 de julho.
A Assembleia Legislativa de São Paulo já analisa um pedido para tirar o cargo de vice-governador de Afif. O Ministério Público Estadual e a Comissão de Ética do Estado se manifestam pela perda de mandato.
Com gestão petista, País ‘se encontrou’, diz Dilma
Em discurso aos futuros diplomatas do Itamaraty, a presidente Dilma Rousseff disse ontem, em Brasília, que nos últimos dez anos – a partir do governo Lula – o Brasil “ganhou enorme projeção internacional” e atualmente “é convocado para grandes debates” da política mundial. Na fala, para os formandos do Instituto Rio Branco, afirmou ainda que a governança mundial necessita de reformas. As mudanças “são necessárias para que reflitam a atual correlação de formas econômicas, que mudaram muito desde o fim da Segunda Guerra Mundial, afirmou.
Segundo ela, esse maior reconhecimento e visibilidade internacional têm ligação direta com políticas internas. “A retomada da inclusão social e do crescimento reduziu nossa vulnerabilidade externa.”
Mais adiante, afirmou aos formandos que “sem arrogância, mas com segurança e firmeza, (vocês) poderão dizer que representam um País que se encontrou consigo mesmo e recuperou sua autoestima e que está pronto a dar sua colaboração decisiva para o mundo de paz, de desenvolvimento, de justiça social, um mundo que tenha de se afastar das guerras e escolher o diálogo e a cooperação como métodos de política externa”.
Líder tucano vai propor convocação de Ideli
O líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), disse ontem que vai propor a convocação da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em duas comissões da Casa. Ele quer que ela explique a entrevista ao Estado, publicada no domingo, na qual afirmou que o Congresso “às vezes faz chantagem” com o Executivo.
“Se há chantagem, ela precisa dizer por parte de quem, do Congresso ou da base do governo, em que momento ocorreu e como o governo reagiu, se atendeu ou não”, disse Sampaio. “Ela fez uma acusação grave e cabe a ela detalhar as circunstâncias.”
O PSDB vai protocolar o requerimento em duas comissões – as de Segurança Pública e Constituição e Justiça para aumentar as chances de convocação da ministra.
Emendas. O partido cobra explicações para os R$ 2 bilhões em emendas parlamentares que a ministra informou que o Planalto vai liberar. “Ao dizer que há chantagem por parte do Congresso e anunciar a liberação de recursos, a ministra dá a entender que o governo foi pressionado e está cedendo. Isso precisa ser esclarecido”, avisa o deputado.
Para PF, juiz inventou próprio sequestro
De vítima de sequestro relâmpago – que teria ocorrido a um mês das eleições de 2012 o juiz Paulo Hamilton Siqueira Junior, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo, passou à condição de suspeito por comunicação falsa de crime e pode se tomar alvo de investigação policial. Na semana passada, a Justiça Federal determinou a remessa para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) dos autos do inquérito em que é colocada em xeque, até sob ironias, a versão de Hamilton, que alega ter sido atacado por dois homens em uma motocicleta, nos Jardins, na noite de 5 de setembro de 2012.
Hamilton integra lista tríplice em poder da presidente Dilma Rousseff (PT) para cadeira de magistrado eleitoral efetivo em São Paulo. Ele é substituto pela segunda vez consecutiva. Seu mandato expira nesta quinta feira, 20. Relatório de Inteligência da Polícia Federal concluiu pela inexistência do sequestro, após análise de imagens de equipamentos de segurança. “De fato, as imagens colhidas dos circuitos de vigilância eletrônica arrancam pelas raízes toda a credibilidade da versão de um sequestro, uma vez que as incongruências entre o que foi narrado pelo magistrado e as imagens colhidas são patentes.”
A PF não aponta os motivos que teriam levado o juiz a forjar a história do sequestro porque não podia fazer essa investigação. A transferência do caso para o STJ foi decretada porque Hamilton, como juiz do TRE, tem foro privilegiado. Foi pedido acesso a extrato telefônico do magistrado e levantamento junto às Estações Rádio Base da operadora do celular de Hamilton para mapear seus movimentos naquela noite. A Justiça considera que essas medidas configuram quebra do sigilo telefônico, por isso declinou da competência em favor do STJ, instância competente para investigar o magistrado.
Juiz voltou ao local do crime, afirma relatório da PF
O relatório da Polícia Federal é categórico ao rechaçar a história do juiz eleitoral Paulo Hamilton. “Se as provas materiais são os meios objetivos que levam o espírito a atingir a verdade, as imagens supra-anexadas, bem como as filmagens que seguem anexas, se prestam para plantar a percepção de uma realidade indubitável, a de que não houve nenhum sequestro.”
O documento tem 12 páginas e 13 fotos. A PF capturou imagens de circuito de segurança na Rua Haddock Lobo, próximo a uma franquia do Fran”s Café, local onde o magistrado afirmou ter estacionado seu veículo. “As imagens demonstram um fato bastante incoerente.” À página 8 do relatório, PF abriu o capítulo “Do retorno do dr. Paulo Hamilton ao local do crime”. Na noite de 9 de setembro o magistrado retornou à Rua Haddock Lobo e indagou o porteiro de um prédio 1 “se aquela câmera filmava e qual o alcance da mesma?”
A PF se revelou “surpresa” com outro detalhe. “Estranhamente, as imagens cedidas pelo Fran”s Café estão incompletas e o minuto exato em que o carro (com o suposto sequestrador) estaciona ao lado de suas mesas localizadas na calçada bem como o momento do desembarque do dr. Paulo não estão nas imagens fornecidas.”
“Não decidi”, diz Renan sobre TV oficial do Senado
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem que não há questão fechada sobre a ampliação dos veículos de comunicação oficial da Casa, o que inclui a criação de uma rede para aumentar a exposição dos parlamentares nos Estados. “Eu ainda não decidi”, afirmou Renan, segundo quem as medidas foram planejadas em gestões anteriores à sua.
Como o Estado mostrou ontem, a operação exigirá investimentos na TV e na Rádio Senado de mais de R$ 15 milhões só I em 2013. As declarações de Renan foram dadas em São Paulo, durante almoço com empresários do grupo Lide.
Questionado sobre as votações secretas do Senado – como I as que decidem processos de cassação de mandato Renan condicionou o fim desse expediente a uma ação conjunta com Executivo e Judiciário. “Há 18 modalidades devotos secretos dentre os poderes da República. Sou favorável à transparência, desde que sejam abertos todos os votos secretos”, disse o presidente do Senado.
Em relação a sessões fechadas em comissões, como a que ocorreu na de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, presidida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), Renan disse ser contrário à medida. “A transparência que a sociedade cobra não permite que convivamos com fatos como esse”, afirmou.
Dilma diz que marcha é legítima
Preocupada com a onda de protestos que tomou conta das principais capitais, nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff monitora cada vez mais de perto os movimentos de rua, que assumiram proporções inesperadas.
Embora Dilma afirme que manifestações pacíficas são “legítimas e próprias da democracia”, a marcha que ontem tomou conta da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes acendeu o sinal amarelo no Palácio do Planalto.
Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma avaliam que há um sentimento difuso de contestação a “tudo que está aí” e não só aos R$ 0,20 de aumento na tarifa de transporte – mote para os primeiros dias de protestos em São Paulo e no Rio.
O receio agora é de que a insatisfação fuja do controle e contamine a avaliação dos governos petistas, de Dilma ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, prestes a completar seis meses no cargo.
Alckmin elogia líderes de protestos
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), amenizou ontem o discurso dirigido aos manifestantes e disse que está “aberto ao diálogo” ao ser questionado sobre a possibilidade de redução da tarifa do transporte urbano. “O reajuste já foi dado abaixo da inflação, mas estamos sempre abertos ao diálogo”, afirmou o governador pela manhã, em Campinas, horas antes do início do protesto marcado para a capital paulista.
Alckmin, que na semana passada chegou a classificar os manifestantes como “Vândalos” e “baderneiros”, destacou a decisão de proibir o uso de balas de borracha durante manifestações públicas e, por duas vezes, elogiou os líderes do Movimento Passe Livre (MPL).
“Queria fazer um elogio às lideranças do movimento e também à segurança pública e à Polícia Militar”, disse o governador. Segundo ele, após a reunião do secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, e do comandante-geral da PM, Benedito Meira, com integrantes do movimento na manhã de ontem ficou acertado que durante os novos protestos o comando da PM ficaria em contato via rádio com os líderes das manifestações. “Se estabeleceu que os nossos oficiais acompanharão as lideranças com rádio”, afirmou Alckmin, para quem a primeira reunião com integrantes do MPL foi positiva. “Foi uma reunião muito madura, muito proveitosa.”
Correio Braziliense
A nova cara do Brasil
A visibilidade internacional do Brasil gerada pela Copa das Confederações despertou na população a necessidade de revelar a insatisfação com problemas recorrentes, antes restritos ao boca a boca entre os cidadãos e às redes sociais. A onda de protestos nas cidades sedes do evento é só uma demonstração do que pode ocorrer durante o mundial de futebol do próximo ano, segundo especialistas ouvidos pelo Correio. No Distrito Federal, em quatro dias, moradores protagonizaram três protestos contra os gastos com os torneios internacionais em detrimento ao investimento em saúde, em educação e em segurança.
A repercussão das manifestações em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Brasília chamou a atenção dos governos e repercutiu em diversos setores da sociedade. “Nada do que ocorre é aleatório, existe organização e aspectos políticos envolvidos nesse processo. E os protestos não vão parar. No ano que vem, temos Copa do Mundo e eleições. As demonstrações de insatisfação da população serão recorrentes”, ressaltou o coordenador do curso de Segurança Pública da Universidade Católica de Brasília (UCB), Nelson Gonçalves.
Para a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Haydée Caruso, o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus em São Paulo foi o estopim para o início dos protestos. “Foi uma janela que a sociedade percebeu para colocar as inquietudes para fora. Saímos de um momento de grande apatia. Brasília também se coloca diante desse cenário”, analisou. Para a socióloga, pesquisadora na área de segurança pública, violência e cidadania, existe uma série de situações expostas de forma diferente em cada Estado. “Tem a ver com a forma como os grupos de cada localidade age, alguns mais violentos, outros não. O que não pode acontecer é uma atuação policial sem moderação, além de depredação do patrimômio público”, complementou.
Dilma: “Protestos pacíficos são legítimos”
A presidente Dilma Rousseff, que ainda não havia se pronunciado publicamente sobre os protestos que tomaram o país desde o último dia 6, fez, ontem, a primeira declaração sobre o assunto. Por meio da ministra de Comunicação Social, Helena Chagas, limitou-se a dizer que “manifestações pacíficas são legítimas e são próprias da democracia. E é próprio dos jovens se manifestarem”. À noite, a conta de Dilma em uma rede social de fotografias foi invadida por hackers. A página foi tirada do ar às 22h30.
Diante da dimensão que o assunto tomou, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também comentou a onda de protestos. Em uma grande rede social, ele disse que “ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil, porque a democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas”. O líder petista disse também que “não existe problema que não tenha solução”, e que “a única certeza é que o movimento social e as reivindicações não são coisa de polícia, mas sim de mesa de negociação”. “Tenho certeza de que, entre os manifestantes, a maioria tem disposição de ajudar a construir uma solução para o transporte urbano”, disse, no fim da nota publicada na internet.
Tietagem antes da confusão
Horas antes dos protestos que tomaram conta do país, a presidente Dilma Rousseff bancou a tiete, na manhã de ontem, durante a comemoração ao Dia do Diplomata, no Palácio do Itamaraty. Ao cumprimentar os agraciados com as comendas entregues a ministros de Estado, a secretários do governo e a representantes da sociedade civil, a presidente não resistiu em quebrar o protocolo e fez uma confissão ao pé da orelha do ator Marcos Caruso (foto). “Ficamos um tempão batendo papo. Eu disse que, como uma pessoa pública, sei o quanto é difícil nos mantermos com energia, com disposição e, principalmente, com simpatia diante de tantas pessoas todos os dias. E ela consegue isso.
Ela me disse que não era para eu falar mais palavra nenhuma, porque ela é que tinha que dizer o quanto era minha tiete. Fiquei muito feliz com isso”, revelou Caruso ao Correio.
Mobilização via internet
As manifestações que tomaram conta do Brasil ontem passaram o dia no topo da Trend Topics mundial — uma lista dos assuntos mais comentados na internet. A exemplo da Primavera Árabe, como ficou conhecida a revolução que se espalhou por 14 países e derrubou ditadores e presidentes a partir de 2010, no Brasil, grupos insatisfeitos se organizaram em redes sociais para protestar contra os preços das passagens de ônibus, a qualidade dos serviços públicos, o aumento do custo de vida e a PEC 37, que reduz poderes do Ministério Público.
No Twitter, o texto mais repetido em todo o mundo era #VerásQueUmFilhoTeuNãoFogeALuta, trecho do Hino Nacional brasileiro e um dos lemas dos protestos. O microblog ainda tinha como um dos assuntos mais comentados mundialmente #PorUmBrasilOnde. Os internautas postavam a frase seguida por um pedido com relação à pauta de reivindicação dos ativistas.
Congresso ocupado
Símbolo do Poder Legislativo, o Congresso Nacional teve a plataforma superior, onde estão as cúpulas da Câmara e do Senado, invadida por manifestantes às 19h20 de ontem, no dia mais tenso dos protestos na capital federal, e que se alastraram por todo o país. O grupo — 10 mil de acordo com os organizadores e 7 mil na avaliação da Polícia Militar — caminhava pelo Eixo Monumental quando se dividiu ao meio para confundir os homens da PM. Parte correu para o gramado em frente ao espelho d”água do Congresso. O outro, aproveitando um descuido assumido pelos próprios seguranças, foi até o teto de mármore.
Às 22h, um grupo tentou a invadir a chapelaria, destinada ao embarque e desembarque dos parlamentares, e foi reprimido com bombas de gás — até o fechamento da edição, não se sabia se era lacrimogêneo ou de pimenta — lançadas pelos policiais militares. Instalou-se uma correria desordenada pela pista que levava ao Eixo Monumental, com pessoas passando mal ao inalar o gás lançado pelos militares.
O movimento foi organizado ao longo de todo o fim de semana, pelas redes sociais e ocorreu dois dias após um confronto duro com a Polícia Militar na porta do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, no sábado, antes do jogo de abertura da Copa das Confederações entre Brasil e Japão.
Violência no Centro do Rio
Roupa branca e flores na mão. O “uniforme” escolhido para o encontro indicava um protesto exemplar, pacífico e sem qualquer sinal de vandalismo. Durante três horas, a presença de 150 policiais do Rio de Janeiro foi necessária apenas para acompanhar a passeata que partia da praça da Candelária, no centro da cidade. Cerca de 100 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar do estado, marcharam pela Avenida Rio Branco rumo à Cinelândia. Por volta de 20h, porém, um grupo se dispersou do principal e iniciou uma das manifestações mais agressivas da noite. O alvo foi a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que acabou depredada, assim como bancos e lojas. Manifestantes ainda atearam fogo a um veículo do lado de fora do prédio, o que causou uma reação policial e a chegada do Batalhão de Choque.
De 17h até 19h55, a imagem da manifestação na capital fluminense era de paz. Integrantes do protesto vaiavam os que motivavam o vandalismo e exibiam cartazes repreendendo ações violentas. Além de reclamar do aumento de preço das passagens, eles exibiam cartazes contra o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e a presidente Dilma Rousseff, que foi representada por uma boneca vestida de presidiária. Aos poucos, um número menor de rebeldes se afastou rumo à Alerj, que passou a ser atingida por pedras, fogos de artifício e bombas caseiras. Cerca de 50 policiais que cercavam o prédio dispararam balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra os manifestantes, em seguida, se abrigaram dentro da assembleia. De acordo com a PM, pelo menos 20 agentes ficaram feridos por horas sem atendimento dentro do prédio, porque os bombeiros tiveram dificuldade de acessar o local.
A República Federativa da multidão insatisfeita
A reação ofensiva policial em São Paulo na última quinta-feira desencadeou uma série de mobilizações por todo o país e fora dele. Além de Brasília e Rio de Janeiro, 10 capitais brasileiras foram palco de manifestações, levando às ruas cerca de 250 mil pessoas. São Paulo viveu ontem o quinto ato contra o aumento nas tarifas do transporte público. A Polícia Militar tinha estimado em 30 mil pessoas o público no protesto na noite de ontem na capital paulista, mas o Instituto Datafolha calculou em 65 mil o número de manifestantes. As ruas de Belo Horizonte, de Curitiba, de Belém e de Porto Alegre também foram tomadas por milhares de pessoas (veja quadro).
Em São Paulo, embora a manifestação de ontem tenha sido a maior desde o primeiro protesto, em 6 de junho, também foi a mais pacífica. O ato começou às 17h e, no decorrer da passeata, os manifestantes ocuparam locais de grande movimentação, como a Avenida Paulista, palco de um dos principais confrontos entre policiais e manifestantes na semana passada, e também a Marginal Pinheiros. As vias foram bloqueadas e o trânsito ficou complicado. Pela manhã, os ativistas se reuniram com o secretário de Segurança do estado, Fernando Grella Vieira, para discutir medidas com o intuito de evitar violência. Por volta das 22h, manifestantes se aproximaram do Palácio dos Bandeirantes.
Houve conflito com a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, que tentavam entrar na sede do governo paulista.
Houve conflito com a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, que tentavam entrar na sede do governo paulista.
Do vinagre ao Congresso
Por volta das 15h, havia apenas cerca de 50 jovens e uma caixa de papelão deixada sob um dos bancos de concreto da praça do Complexo Cultural da República. Nela, um cartaz simples oferecia vinagre de graça. Dentro, havia seis garrafas do líquido. Uma hora depois, já eram mais de 200 pessoas, a maioria estudantes do ensino médio e universitários. Muitos adolescentes, com espinhas no rosto, andando de skate pelo enorme piso de concreto.
O grupo tomou a rua, pontualmente, às 17h, horário marcado para o início da passeata, quando somavam cerca de 2 mil manifestantes. No caminho, a eles foram se juntando amigos, colegas, usuários de ônibus que tomariam a condução na Rodoviária do Plano Piloto e servidores públicos, além de gente que estava em casa e saiu para protestar, tocada pela mobilização. À noite, em frente ao Congresso Nacional, eles já eram mais de 10 mil.
Primeiro, conforme o combinado com a Polícia Militar, os manifestantes ocuparam três das seis pistas do Eixo Monumental, no sentido Congresso. Mas logo os PMs cederam e os deixaram ficar em quatro faixas. Um grupo de cerca de 20 punks invadiu as outras duas. Houve um início de confusão, mas os demais ativistas rechaçaram a atitude e todos voltaram a caminhar pelas quatro pistas. Mesmo com provocações, os policiais não usaram a força ao longo da passeata. Não havia integrantes do Bope, da Tropa de Choque nem da cavalaria.
Ao anoitecer, após o expediente nos ministérios, juntaram-se aos manifestantes homens de terno e gravata e mulheres com crachás no pescoço. A servidora pública Maria de Castro, 35 anos, trabalha na Esplanada e disse que, quando viu as pessoas passando, decidiu descer do prédio. “Li sobre o movimento no Facebook e me solidarizei com eles, que sofreram tanta violência na porta do estádio no sábado”, contou, referindo-se ao confronto entre manifestantes e policiais na abertura da Copa das Confederações.
Mensagem suspeita
O diretor-geral da Polícia Civil do DF, Jorge Xavier, acredita que, a princípio, a manifestação, do dia da abertura da Copa das Confederações, no sábado, não tem relação com a ocorrida na última sexta-feira, quando militantes atearam fogo a pneus em frente ao Estádio Nacional. Entre eles, estão representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Um grupo teria recebido R$ 30 mil para organizar o protesto de sexta e pagar os manifestantes. Xavier afirma que alguns deles chegaram a sair de Brasília após saberem que haviam sido identificados. Ontem à noite, a Secretaria de Segurança divulgou imagens de um telefone celular que seria de um integrante do MTST. Nas mensagens, um interlocutor identificado como Edson MTST marca um encontro para as 8h de 14 de junho. “Quem não for no ato não vai pegar o dinheiro”, diz um trecho. O celular foi apreendido durante as investigações.
Além do MTST, foram identificados na manifestação de sexta integrantes do Comitê Popular da Copa. Até o momento, não há acusação formal contra o mestrando em ciência política Gabriel Santos Elias, a assessora da Casa Civil Mayra Cotta, o servidor da Secretaria-Geral da Presidência Danniel Gobbi, o assessor constitucional da Procuradoria-Geral da República Gustavo Capela e o mestrando em direitos humanos da UnB João Victor Loureiro, que não integra mais o grupo. A polícia quer saber se eles tinham conhecimento que haveria queima de pneus e que a manifestação seria financiada.
Folha de S. Paulo
Milhares vão às ruas “contra tudo”; grupos atingem palácios
Dilma, Alckmin, Haddad, Cabral, Sarney, Feliciano, partidos políticos, corrupção, polícia, violência, saúde, educação, cotas, inflação, imprensa, Fifa, Copa do Mundo e, é claro, transporte público. As manifestações que ganharam corpo em São Paulo desde o último dia 6 contra o reajuste das tarifas de transporte tomaram o país ontem e se tornaram um enorme protesto contra tudo e contra todos.
Houve atos em 12 capitais, que reuniram ao menos 215 mil pessoas, segundo estimativas oficiais, na maior mobilização desde as passeatas que culminaram com o impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Sedes de poder viraram alvo em cinco capitais. No Rio, onde houve o protesto mais violento, o prédio da Assembleia Legislativa foi invadido. Em Brasília, o teto do Congresso foi ocupado. Manifestantes tentaram entrar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, mas foram contidos pela PM.
Ao menos 65 mil protestam nas ruas de São Paulo
Em São Paulo, 65 mil pessoas se reuniram no largo da Batata, zona oeste, para participar do protesto contra o aumento da tarifa do transporte. Desses, 84% não têm preferência partidária, de acordo com o Datafolha.
Gritando frases como “O povo unido não precisa de partido” e “Sem partido, sem partido” os manifestantes se reuniram de forma pacífica.
Ao contrário do protesto anterior, na quinta-feira, em que houve mais de 200 feridos -15 jornalistas, 7 da Folha-, dessa vez não houve confrontos, prisões ou registros de casos de vandalismo na maior parte do percurso.
A Polícia Militar acompanhou à distância e se limitou à revista de manifestantes.
O tom pacífico só foi quebrado por volta das 21h30, quando um grupo que se dirigiu ao Palácio dos Bandeirantes forçou a entrada na sede do governo paulista e foi rechaçado pela polícia. O portão chegou a ser derrubado.
Cerca de 200 manifestantes continuavam, à 1h de hoje, bloqueando a rua em frente ao portão 2 do palácio. Eles pararam dois ônibus e os usaram para obstruir a via. Também fizeram uma fogueira.
Tarifa zero exigiria dobrar arrecadação obtida com IPTU
Se os usuários de transporte público deixarem de pagar passagens, como pede o Movimento Passe Livre, esse dinheiro terá que vir dos cofres da cidade. Há duas formas de obtê-lo: cortando custos em outros setores ou aumentando impostos.
Quando a Prefeitura de São Paulo propôs a extinção da tarifa de transporte público em 1990 (na gestão Luiza Erundina, então do PT), a previsão era que o dinheiro sairia do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), cobrado de quase 2 milhões de proprietários de imóveis na cidade.
Essa é a fonte mais óbvia para os recursos, porque atinge de forma uniforme quem mora ou tem uma empresa na capital.
As outras formas de arrecadação da prefeitura são direcionadas a parcelas específicas da população, como o ISS (cobrado de quem presta serviços) ou taxas de fiscalização.
Mas, para compensar o fim da tarifa, seria preciso praticamente dobrar o valor do IPTU, ou seja, passar dos pouco mais de R$ 5 bilhões arrecadados em 2012 para algo como R$ 9,7 bilhões (mais 92%).
Teto do Congresso é ocupado; grupo tenta invadir sede do governo de SP
As manifestações que tomaram as ruas do país na noite de ontem tiveram invasões e tentativas de entrada em sedes dos poderes Legislativos e Executivos. Em Brasília, onde milhares de jovens se concentraram na Esplanada dos Ministérios, houve ocupação do teto do Congresso.
No Rio, um grupo conseguiu entrar ontem à noite, por alguns minutos pouco antes das 23h, no prédio da Assembleia Legislativa, no centro.
A manifestação, que começara às 17h de forma tranquila, reunindo 100 mil pessoas, terminou de forma violenta.
Desde as 20h30 um grupo de 80 policiais, vinte deles feridos, estava encurralado por cerca de 300 manifestantes no prédio da Alerj.
Os policiais conseguiram expulsar os invasores e apagar um início de incêndio. Oito manifestante foram detidos e um se feriu com estilhaços.
Durante o protesto em frente à Assembleia dois carros foram incendiados e vários outros depredados.
Em São Paulo, manifestantes conseguiram derrubar o portão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, no final da noite.
Diretor da Câmara é agredido em Brasília
Em Brasília, o protesto reuniu 5.000 pessoas, segundo a Polícia Militar. No ato, o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, foi agredido.
Os manifestantes, primeiramente, concentraram-se nas proximidades do Museu Nacional, seguiram pela Esplanada dos Ministérios e pararam no gramado em frente ao Congresso.
Alguns participantes do ato contornaram o cordão de isolamento da PM e escalaram rapidamente a laje do Congresso, que foi ocupada pelo grupo. A invasão foi liderada por um grupo de skatistas e punks. Não houve reação policial.
No teto, os manifestantes gritavam palavras de ordem como “o Congresso é nosso” e “ora, ora, ora, cadê a Dilma agora?”. Entre os motivos do protesto estavam a realização da Copa das Confederações e do Mundo e a proposta que limita os poderes do Ministério Público.
Um grupo agrediu, além de Sérgio Sampaio, dois coronéis da PM com chutes, tapas e cusparadas. Em nota, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ter ordenado que a Polícia Legislativa não impedisse a realização do protesto.
Políticos agora apoiam manifestações
Os políticos passaram a adotar um tom de aprovação às manifestações. Depois de uma reunião convocada ontem à noite no Planalto, a presidente Dilma mandou sua equipe divulgar que, em sua opinião, “as manifestações pacíficas são legítimas e são próprias da democracia” e que “é próprio dos jovens se manifestarem”.
Mais cedo, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse achar “extremamente positivas” as recentes mobilizações e que o governo defenderá soluções “pacíficas e negociadas”.
O ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva postou mensagem em uma rede social dizendo que “ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil”. Na semana passada, após o terceiro protesto, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), culpou os manifestantes por depredações e tumultos.
No PSDB, houve declarações contrariando a afirmação do governador Geraldo Alckmin, que em 12 de junho chamou os manifestantes de “baderneiros” e “vândalos”.
Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) divulgou texto em rede social em que diz que desqualificar os atos “como ação de baderneiros é grave erro”.
Atos atingem 12 capitais e têm cenas de violência
Os protestos pelo país atingiram 12 capitais, reuniram mais de 215 mil pessoas e tiveram cenas de violência em sete delas: Rio, Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Maceió e Curitiba. Eles reuniram a maior quantidade de manifestantes desde a mobilização dos caras-pintadas pelo impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992.
Embora tenha havido atos que concentraram mais gente desde então, não tinham esse caráter de protesto.
As manifestações de ontem carregaram diversas bandeiras além de questionar as tarifas do transporte coletivo – da ética na política a investimentos em saúde e contra gastos da Copa de 2014.
Muitos políticos foram alvos de repúdio, como a presidente Dilma Rousseff (PT), os governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP).
Alckmin quer fugir de obrigação, diz petista
Acusado de explorar politicamente os problemas de segurança em São Paulo, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) acusou ontem o governador Geraldo Alckmin de usar uma “mentalidade ultrapassada” e tentar se eximir de responsabilidades.
A fala do petista é uma resposta às críticas feitas pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e publicadas ontem na Folha.
Na semana passada, Cardozo, um dos cotados para disputar o Palácio dos Bandeirantes, disse que o governo estava “à disposição” para cooperar em relação aos protestos na capital paulista.
Para Nunes Ferreira, Cardozo esquece que é ministro quando, por exemplo, oferece ajuda pela TV sem procurar o governo de São Paulo.
Governistas minimizam vaias a Dilma
O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse ontem serem precipitadas as análises sobre as vaias recebidas pela presidente Dilma Rousseff no jogo de abertura da Copa das Confederações, em Brasília.
“Temos que ter a tranquilidade de não tirar conclusões precipitadas. [É preciso] compreender que o processo democrático é assim mesmo. A ditadura é que é fácil. A democracia é assim mesmo, é complexa”, disse Carvalho.
O ministro ressaltou que no mesmo tempo em que era vaiada pela maioria da torcida no Estádio Mané Garrincha, no sábado, Dilma foi aplaudida pela multidão que acompanhava a partida entre Brasil e Japão por telões instalados na Esplanada dos Ministérios.
A ministra Helena Chagas (Secretaria de Comunicação Social) disse que Dilma não comentou o assunto. “Isso não tem relevância”, afirmou a ministra.
Ciro recua e admite apoio a Campos, ‘se o PSB decidir’
Após fechar acordo de cessar-fogo com Eduardo Campos, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) elevou o tom das críticas ao governo federal e já acena com apoio à eventual candidatura presidencial do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB.
Para Ciro, a gestão Dilma é “muito ruim” e a economia do país se “deteriora” de “forma rápida e grave”, com possíveis consequências nas urnas em 2014.
“Ela [Dilma] pode até chegar na eleição, mas não ganha do jeito que as coisas estão indo. O buraco das contas externas do Brasil é o maior da história”, disse.
O governo vem acumulando más notícias no front econômico. A inflação bateu 6,5% no acumulado de 12 meses, atingindo o teto da meta, o buraco das contas externas chegou a US$ 70 bilhões e o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre.
TSE ignorou parecer técnico ao aprovar as contas do PT de 2003
Ao aprovar as contas do Diretório Nacional do PT de 2003, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ignorou um parecer contrário produzido pela sua própria coordenadoria de exame de contas eleitorais.
A Folha havia revelado, em maio, que o TSE aprovou as contas em 2010 –em decisão tomada pela ministra Cármen Lúcia, com base na área técnica– desprezando as irregularidades que o processo do mensalão, no STF, e uma auditoria da Receita Federal apontaram nas finanças do PT naquele ano –na época em que Delúbio Soares era o tesoureiro da legenda.
Um parecer de 24 páginas produzido em 2010 por auditor lotado na Coepa (Coordenadoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias) do TSE, cujo conteúdo foi divulgado no último domingo pelo jornal “O Globo”, pedia a reconsideração da decisão do TSE de junho do mesmo ano, que aprovara as contas apenas com algumas ressalvas.
PPS adia até agosto criação de nova sigla de oposição
Em meio à insegurança jurídica em torno das normas que valerão para a criação de partidos no Brasil, líderes do PPS assumiram que irão adiar pelo menos até agosto a criação da MD (Mobilização Democrática), partido que nasceria a partir de uma fusão com o PMN.
A fundação da nova sigla foi anunciada em abril e, em seguida, formalizada em cartório. Na ocasião, os idealizadores da legenda calcularam que ela pudesse atrair até 30 deputados (hoje, somados, PPS e PMN têm 13 deputados federais) que viessem a engrossar as fileiras de uma “terceira via” na eleição presidencial de 2014.
De lá para cá, no entanto, as mobilizações em torno da formalização da MD arrefeceram e seus entusiastas passaram a ser mais econômicos nas previsões de adesões.
Ainda assim, a direção do PPS nega que a tese da fusão tenha perdido força no partido. “Nossa decisão está mantida. Não houve nenhum recuo”, afirma o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).
Dois fatores contribuíram para o adiamento da formalização da MD: a tramitação de um projeto de lei no Congresso que inibe a criação de partidos e o questionamento, feito por opositores da fusão, se uma legenda nascida da junção de duas siglas que já existem pode ser considerada como “nova”.
Atritos regionais ameaçam aliança PT-PMDB
Estremecida por atritos no Congresso, a relação PT-PMDB enfrentará outro obstáculo para ser renovada na eleição presidencial de 2014: o peso desproporcional de alguns Estados na convenção peemedebista que definirá o rumo do partido.
Pelo estatuto da sigla, a quantidade de delegados de cada Estado nas convenções depende do desempenho na eleição anterior para a Câmara. Isso dá grande força interna a diretórios situados fora do centro político nacional.
Seis dos sete Estados com mais peso na convenção estão com situação indefinida ou têm tendência antipetista.
O Rio de Janeiro, onde o PT ensaia candidatura própria e rompimento com o governador Sérgio Cabral (PMDB), responde por 10% dos 739 votos da convenção nacional do PMDB de 2014.
Santa Catarina terá 32 delegados na votação peemedebista, mais do que o dobro de São Paulo, Estado do fiador da aliança, Michel Temer, vice-presidente da República.
Disputas regionais podem levar grupos inteiros de delegados a votar contra a reedição da aliança na sucessão presidencial.
Fracassa tentativa de acordo entre policiais e procuradores
O Ministério Público Federal recusou ontem o texto final do grupo de trabalho criado pelo governo e pelo Congresso Nacional com propostas para reduzir os poderes de investigação da instituição.
Com a negativa, que será formalizada hoje, os procuradores sepultam as chances de acordo para a votação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 37, prevista para o dia 26 na Câmara.
No formato atual, o texto retira o poder de investigação criminal do Ministério Público, restringindo a atribuição às polícias Civil e Federal.
Reunidos desde a semana passada, quando o grupo de trabalho concluiu a redação da proposta alternativa, procuradores disseram “não” ao texto por unanimidade, após consulta interna.
O item que mais contraria a classe é o que limita a investigação criminal do Ministério Público somente a casos extraordinários, quando houver risco de comprometimento da apuração policial.
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